TEMAS
TRANSVERSAIS NO ENSINO DE HISTÓRIA A PARTIR DA MÚSICA TRADICIONALISTA GAÚCHA: ENTRE
A NOSTALGIA E A HISTÓRIA
1. Introdução
Os temas transversais
no ensino de História costumam causar certo alvoroço entre os professores.
Geralmente se posterga não trabalhando ou quando mencionados por diretores mais
zelosos, ficam espantados e indispostos por se verem invadidos em seu planejamento,
então declinam dessa obrigatoriedade. Numa das escolas que trabalhava havia a
exigência de se colocar um asterisco ao lado do conteúdo que se escrevia nos
diários, supostamente trabalhados, mercê do controle do professor, mas nunca
efetivamente ocorreu acompanhamento a respeito de sua efetivação. É mais “para
inglês ver”, registra-se no papel, mas aos alunos resta
estarem com um professor que prefira não se arriscar e siga corretamente o que
dispõe a legislação educacional. Da ideia de integrar as disciplinas por alguma
afinidade – a busca do impossível frente a fogueira de vaidades que geralmente
caracteriza a escola (cada área se achando melhor que a outra) – pelos temas
mais sociais por assim dizer, aqueles que fazem referência e defesa da
cidadania, os temas transversais quase sempre não são efetivados, acabam se
transformando em conteúdo quando há a abertura da escola para isso, e assim
ficam “(...) desligados da perspectiva do investimento na vinculação com a
realidade social na qual estavam imersos. (...) as noções deixaram de ser temas
constitutivos do debate curricular, imersas na construção do sujeito social, na
articulação saber, conhecimento e vivências” (WENCESLAU; SILVA, 2017, p.
204-5).
Desta forma, não com
um paliativo, mas como possibilidade de fazer aquilo que se está ao alcance
dentro das possibilidades e da disposição do professor, pois “Tanto no ensino
como na pesquisa de História, podemos nos basear, sim, na realidade dos fatos
irreais ma non tropo gerados por
diferentes Poéticas” (SILVA, 2016, p. 12), nesse caso, com a música e, das
lições, das propostas embutidas em cada letra, do perceptível e das leituras
possíveis e ao apreço do ouvido do aluno e do professor, do quanto poderão se
permitir e do que poderá gerar em sala de aula, os temas transversais poderão
ser trabalhados ao menos valorizando a cultura local, um dos leques possíveis
com a realidade social do aluno. Nesse sentido, se aproximando da realidade do
aluno ou recuperando uma história de sentidos e ouvidos musicais (presente pelo
menos no gosto musical de seus pais), e nesse caso, fazendo esforço para levar
ao mundo desses alunos canções que estão a sua volta e entorno cultural, mas
por razões de imposição midiática e cultural por eles geralmente é alheia.
São questões que conduzem essa escrita,
dentre outras e, com certeza deixam brechas à crítica, mas o maior intento é
apontar sugestões: a) em meio a uma era com crescente apreço ao uso e ao
fascínio da internet, os professores de História estarão abertos a essa ferramenta?
de outra maneira, como transformar o problema do uso de celular em sala de aula
como solução para a aprendizagem significativa aos alunos? b) em meio a
imposição cultural que esses meios levam aos alunos, via internet, como espaços
como o YouTube, poderão permitir
levar ao aluno o novo, nesse caso aquilo que geralmente, pela adesão ao que
está na mídia, acaba por preterir ou mesmo desconhecer, em se tratando da
música regional? como trabalhar a cultura local? c) como está disposta
caracteristicamente a música regional gaúcha? d) de que maneira será possível
utilizar a música tradicional gaúcha como fomento a temas transversais no
ensino de História?
2. Questões metodológicas
Para essa escrita
far-se-á referência tão somente ao artista que canta/gravou a canção citada,
até pela dificuldade de precisar os compositores e por ser uma escrita amparada
no acesso que a internet possibilita. Careceria de um aprofundamento maior em
distribuidoras, gravadoras e acervos fonográficos para além da rede, mesmo em coleções
particulares, o que demanda recursos e tempo. Essa é, portanto, uma das
fragilidades dessa escrita, o que não nos isenta de reconhecer o trabalho
imprescindível e artístico – muitas vezes, dependendo da canção – dos
compositores. Dentro das possibilidades se ofertará o link e para o áudio da
canção citada, mormente disponibilizadas no portal “YouTube”. As letras poderão
ser acessadas no “Letras”, se o professor desejar. Também se sugere o uso do
celular em sala de aula por parte dos alunos como forma de acesso a audição das
músicas, desde que de forma organizada.
O método de pesquisa
foi por acesso e pela afinidade que mais adiante estará exposta, mas fruto da
relação pai-filho, do escutar nas lidas do campo e da roça. O método de análise
far-se-á a partir da perspectiva de despertar o leitor ao sentido do ouvir, de
se permitir a escutar mais uma vez ou pela primeira, canções com sentido, de
outra época pouco divulgadas na atualidade por ser doutros tempos e costumes,
mas que são atemporais e pode contribuir ao planejamento de aulas que
contemplam temas transversais especialmente no ensino de História. O acesso à
rede mundial de computadores permite buscar pela memória de sentidos, como que
a recuperar audições de tempos de guri, estranho a maioria dos alunos da
atualidade, especialmente em se tratando dos urbanos, mesmo que grande parte de
seus pais um dia esteve no campo e depois migrou para as cidades.
3. A música tradicional gaúcha como
fomento a temas transversais no ensino de História
Em defesa de um modo
de vida. Há nisso uma forma de perceber a vida, de defendê-la e de entender as
relações sociais, instituindo as prioridades e as condições de se estabelecer e
se preservar os costumes, a tradição, enfim. Era outra época, com escolas
rurais cheias, com a vivacidade das comunidades religiosas, a visita dos
padres, pois regiões de predomínio de credo católico, antes da expansão do
neopentecostalismo pelo campo. A sociabilidade das pessoas se dava mais no
contato entre as famílias, no grupo com grande poder disseminador via programas
de rádio, fazia-se verdadeiras rodas, a família parava em alguns momentos, para
escutar os programas musicais. Possivelmente essa sociedade era mais
conservadora, pois ainda não sofria tanta influência externa, por exemplo, da
música de outros estados, como Rio de Janeiro e São Paulo, apesar de que,
grupos e modas caipiras também faziam parte do repertório. Nesse sentido, é
representativa “Ainda existe um lugar”, de Wilson Paim (1989):
“Venha sentir a paz
que existe aqui nos campos
O ar é puro e a
violência não chegou
O céu bem limpo e
muito verde pela frente
Uma vertente que não
se contaminou
(...) Aqui a verdade
ainda reside em cada alma
Se aperta firme quando
alguém lhe estende a mão
Se dá exemplo de amor,
fraternidade
Aos na cidade que nem
sabem pra aonde vão”.
Apesar da nostalgia
conservadora, do descompasso sugerido, idílico que é, desfavorável ao espaço
urbano, local da maioria dos alunos (mas seus pais ou avós se originam do
campo), a canção sugere uma série de possibilidades de reflexão: das tradições
das diferentes regiões, o espaço do campo e as possibilidades de observação
impossíveis na artificialidade da cidade, os costumes, a solidariedade, o
respeito aos animais, e essencialmente porque “O chimarrão tem um sabor de
esperança/ E a criança traz um futuro no olhar”, espaço-tempo-identidade que pode
ensinar valores e saberes próprios de lá, mas com alcance universal em se
tratando de relações, rememorar aspectos da História e da Geografia, bem como abre-se
a possibilidade da interdisciplinaridade com as Letras/Português, por exemplo.
A conotação social e
política. Indiscutivelmente, muitas canções tinham a conotação social e
política, tendo aquelas para bailar, nos matinês e festas de santo, e também
aquelas mais de se apreciar, como as vindas de mais ao Sul do Rio Grande, Mas
“Bem pro Sul”, como canta Luiz Marenco. Eram tempos de reflorescimento da
democracia, no retorno após o período de governo civil-militar. Apesar da
conotação mais festiva ou dançante, como o vaneirão, havia letras que
denunciavam alguma questão social ou mesmo política. Em se tratando da chaga da
corrupção, agora mais divulgada e que aquece os debates (pois, há até alguns colegas
que preferem a ver como cívica, sendo dos males o menor, pois se rouba para
ajudar os pobres?!), faz-se referência a canção, dos anos 1980, “Tá Assim de Graxaim”,
de Eraci Rocha (1983): “(...) Desse jeito companheiro, não vale a pena viver
(...) Aí de mim, aí de ti/ Aí de ti, aí de mim/ A estância de São Pedro tá
assim de graxaim”, o problema é que se espraiou para o país todo, desde
Brasília, enquanto política de estado.
As regiões e algumas
cidades do Rio Grande do Sul. Com “Pampa na garupa” (1987) e “Me comparando ao
Rio Grande” (1981) d’“Os Farrapos”, traz-se a temática das diferentes regiões
do estado e, de quando essas ainda tinham suas “vocações” econômicas, os
produtos que a essas era associada a imagem da cidade, por exemplo, a
erva-mate, essência e como que seiva da vida do gaúcho, tendo na região de Palmeira
das Missões a maior parte de sua produção (hoje se espraiou, inclusive para
outros estados): “Com cavacos do ofício/ Faço fogo na fogueira/ Com a água do
guaíba/ Faço chiar a chaleira/ Tomo um gole do amargo da saudade/ Erva buena da
Palmeira. (...)”. Na primeira o destaque são as mais diversas regiões com suas
cidades e produtos-marco, na segunda canção ganha ênfase a comparação com os
símbolos do Rio Grande, como o quero-quero, a ave-mor dos pagos: “Sou grito do
quero-quero/ No alto de uma coxilha/ Sou herança das batalhas/ Da epopeia
farroupilha/ Sou rangido de carreta/ Atravessando picadas/ Sou o próprio
carreteiro/ Êra boi, êra boiada (...).
Também os temas
fundantes, por assim dizer, são repassados na letra, a demarcação do território
a ponta de adaga e lança no lombo do cavalo, e finalmente uma das atividades
que gerou desenvolvimento ao estado, a tropilha, criando a necessidade de
integração com o país, que para muitos ainda cabe questionamento, vide que
cresce a ideia politiqueira de um punhado de interesseiros e um bando de
desinformados, de separar-se do Brasil, no tal “O Sul é o meu país”. Desde os
temas quentes, as atividades econômicas, o perfil formativo de muitas das
atuais cidades enquanto paragem de tropeiros e a possibilidade de ressignificar
isso, por exemplo, via genealogia (ALVES, 2003), mesmo quando a economia dessas
regiões volta a se aquecer ganhando destaque o turismo histórico. Das dinâmicas
regionais próprias a Geografia, com suas singularidades, o mito fundador, os
nomes, a origem, enfim, a série de enfoques possíveis no estudo dos municípios,
afinal, todos nascemos em algum.
A preservação da
natureza. Muito antes dos atuais movimentos – parte deles – mais alvoroçados
que estão de olho na verba pública do que efetivamente em princípios de ação em
prol do meio ambiente, muitas letras retratam a relação do homem do campo com a
natureza, o respeito aos animais, em que pese o privilégio do cusco e do pingo
(cão e cavalo), a percepção dos limites dessa relação, da forma que se pode
valer para meio de vida, como em “Balseiros do Rio Uruguai”, de Noel Guarany
(1975): “(...) Oba, viva veio a enchente/ o Uruguai transbordou/ vai dar
serviço pra gente./ Vou soltar minha balsa no rio,/ vou rever maravilhas/ que
ninguém descobriu (...)”. Ou até a “História dos passarinhos”, de Gildo de Freitas
(1964), na conscientização forçada pela contingência da vida:
“(...) Aí eu fui
recordando
O que já me aconteceu
Há muitos anos atrás
Que a polícia me
prendeu
O juiz me condenou
E depois de mim se
esqueceu
E eu pelo rádio
escutava
Quando os colegas
cantava
E aquilo me comoveu
Então eu fui
perguntando
Quanto quer pelo
bichinho (...)”.
A integração
latino-americana. Muito antes do Mercosul e mesmo a que sugerir isso, cantores
regionalistas e não só do Rio Grande, mas também da Argentina e do Uruguai (Atahualpa
Yupanqui, Alfredo Zitarrosa, Horacio Guarany e Daniel Viglietti, dentre muitos)
principalmente defenderam essa conexão. Irmanados pelas desgraças de um passado
histórico semelhante de escravidão e de extinção do nativo, dos povos
originários, de uma matriz econômica e agrícola, mas também por um presente que
nos aproxima pela desigualdade social, a pobreza e as mazelas que se postergam
fruto de desgovernos na maioria dos países empesteados com a chaga da
corrupção. No entanto, tal integração, mais folclórica e cultural do que
propriamente efetiva, de fato mais vigorou nos três países citados, Argentina,
Uruguai e Rio Grande do Sul (aliás, Brasil) com o estilo da milonga, por
exemplo, ou do chamamé. Conforme atesta a canção “Orelhano”, de Dante Ramón
Ledesma (1984): “Orelhano, ao paisano de tua estampa/ Não se pede passaporte
nestes caminhos do pampa/ Orelhano, ao paisano de tua estampa/ Não se pede
passaporte nestes caminhos do pampa (...)”. Também o imortal Noel Guarany, com
“Potro sem dono” (1975), em tempos que impõe o freio dos passaportes à
liberdade, às vezes por interesses não tão claros nesse impedimento, a metáfora
do potro sugere reflexão sobre as barreiras, os murros imaginários e os reais,
por exemplo, a respeito dos imigrantes:
“A sede de liberdade
Rebenta a soga do
potro
Que parte em busca do
pago
E num galope dispara
Rasgando a coxilha ao
meio
Mordendo o vento na
cara
Bebe horizonte nos
olhos
Empurra a terra pra
trás
Já vai bem longe a
figura
Mostra o caminho tenaz
Da humanidade sofrida
Que luta em busca da
paz (...)”.
Os temas sensíveis: o
negro, os velhos ou o agricultor. Quando a história nacional, salvo bem raras
exceções, pouco se preocupava com as minorias políticas, os excluídos da
narrativa que aqui é o peão, o gaúcho ou o gaucho
na região mais entendida do Pampa, aqui visto como “Um Pampa = duas nações”
(BRANDALISE, 2002), muitas letras denunciavam as injustiças ou adotavam o
estilo de transpor ao ouvinte o imaginário do trágico no “Destino de peão” (1979), como atesta Noel Guarany:
“(...) Queria tanto
dar um presente pra prenda
Ponta de gado,
fazenda, e um montão de coisas mais
Dizer palavras, que
sei e penso em segredo
E que só em pensar
tenho medo por isso não sou capaz
Eu até tive pensando
em construir um ranchinho
Nem que seja
pequeninho, já vivi muito em galpão
Se ela quisesse, que
coisa linda seria
À Deus agradeceria, o
meu destino de peão (...)”.
De tão bela e que
estimula o imaginário campeiro mesmo no mais apegado aos serviços urbanos, lá
no recôndito dos sentimentos mais nostálgicos ou de idealização em tempos de
extrema violência nas cidades, como se contivesse “O pampa na cidade”
(AGOSTINI, 2005), que é espaço das desigualdades e da “ilusão povoeira” como
canta Telmo de Lima Freitas (1971), “(...) Nesta vida guapa vivendo de inhapa,
vai voltar aos pagos para remoçar/ Quem vendeu tesouras na ilusão povoeira,
volte pra fronteira para se encontrar (...)”, por outro lado o “Destino de
peão” ressalta a ideia de sociedade de castas, cada qual com seu destino, seu
lugar na ordem social, onde a mobilidade social só era possível no sonho. O
lugar do gaúcho, errante sem rumo, a pé, como o Chiru, era viver “Sem rumo”
(MARTINS, 1997).
O negro e os velhos
estiveram presente em canções como “Negro da gaita” de Cesar Passarinho e “O
colono” de Teixeirinha. Em “Negro da gaita” (1982) “(...) (Quando o negro abre
essa gaita/ Abre o livro da sua vida/ Marcado de poeira e pampa/ Em cada nota
sentida) (...)”, mais adiante como que explicando as contradições sociais da
escravidão assim expõe: “(...) E a gaita se fez baú para causos e canções/ Do
negro que passa a vida, mastigando solidões/ E vai semeando recuerdos, por
estradas e galpões (...)”. Já na de Teixeirinha (1969), “(...) Não ri seu moço
daquele colono/ Agricultor que ali vai passando/ Admirado com o movimento/
Desconfiado lá vai tropicando/ Ele não veio aqui te pedir nada/ São ferramentas
que ele anda comprando (...)”.
Muitas são as
possibilidades, em se tratando da música regional gaúcha, em nosso caso, a de
verve missioneira (Cenair Maicá/Noel Guarany e Pedro Ortaça), a nativista
(Leopoldo Rassier/César Passarinho e Luiz Marenco) e a tradicionalista (“Os
Bertussi”/Rui Biriva e “Os Monarcas”), grosso modo de expor um cantor/grupo
mais antigo e um mais recente. Aqui essa categorização não pretende prender ao
estilo, apenas exemplificar, por alto, e o autor se dispõe a rever, caso
necessário; possibilidades essas abertas com as canções e os grandes nomes
dessa música, que estimula a transversalidade de temas prenhes da realidade
social do aluno ou da cultura da qual se originou, sendo dessa forma, uma a
mais, de se aperceber da história gaúcha, que talvez ao final, ganhe um sentido.
4. Considerações finais
O intento foi trazer
sugestões de canções do repertório do cancioneiro tradicionalista do estado do
Rio Grande do Sul, nesse caso a verve missioneira, a nativista e a
tradicionalista, como forma de enfrentar os temas transversais na Educação
Básica. Uma obrigatoriedade e uma dificuldade na realidade das escolas, no dia
a dia dos professores da disciplina de História e, mesmo de outras áreas. Em
tempos de adesão acrítica ao multiculturalismo, fez-se a defesa que se parta da
valorização da cultura local para que depois se estimule a tolerância se não
possível a multiculturalidade musical.
A necessidade do
ensino de História estar associado a realidade social do aluno naquilo que pode
se pensar como uma cultura musical de sentidos, fazendo-o adentrar ao
imaginário propiciado pela música regional gaúcha, induzindo o ouvido musical
ao local, àquilo que porventura seus pais escutavam e um retorno à própria
ideia de conhecer as origens, como forma de valorização do campo, o local de
origem de muitos que estão nas cidades e, é pouco conhecido em sua essência e
em suas formas de representação, foi outra das defesas e propostas do artigo.
Um outro ensino de
História é possível, desde que o professor esteja aberto a novas poéticas. Uma
mais apurada “revisão musical” poderá contribuir para sanar as lacunas aqui
apresentadas e as limitações que se avistam na escrita da “história” musical do
Rio Grande do Sul aqui meramente esboçada e utilizada como forma de
justificação e pano de fundo histórico, pois tributária é da nostalgia dos
tempos de guri do autor.
Referências bibliográficas
Manoel Adir Kischener é Bacharel e
Licenciado em História, Mestre em Desenvolvimento Regional e Doutorando em
História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
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cidade: o imaginário social na música popular gaúcha. Caxias do Sul: UCS, 2005.
(Dissertação de Mestrado em Literatura).
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Muito legal a sua proposta! Penso que a música é uma grande aliada tanto no ensino de história quanto na apreciação literária. Nesse sentido, você acredita que é possível um trabalho interdisciplinar a partir de músicas regionalistas? Quais outros tipos de manifestações regionais poderiam ser aliados dessa proposta?
ResponderExcluirAtenciosamente, Fabiana Wentz.
Agradecido. Tentando responder: com toda certeza é possível trabalhar de forma interdisciplinar a partir de músicas regionalistas, associações quase que por decreto com Letras, Literatura, Geografia, Sociologia e Filosofia, mas não vejo o porquê não tentar também, por exemplo, com Línguas Estrangeiras, se se pensar o regionalismo gaúcho o Espanhol é meio irmão, ainda da possibilidade de comparativos de regionalismos com a Língua Inglesa.
ExcluirEm relação a segunda questão, pensando no regionalismo gaúcho, penso que a poesia gaúcha (e nesse sentido ela é meio que indissociável com o cancioneiro) e o próprio cinema, se se pensar na filmografia de Tabajara Ruas e na sua própria escrita literária, dentre outros autores e cineastas.
Manoel Adir Kischener.
Manoel,
ResponderExcluirnão sei bem como você define 'metodologia', tendo em vista que não vejo nenhum autor ou referência aqui. Vc pode indicar o que é exatamente a sua metodologia? Penso que isso não é científico, tendo em vista a proposta do evento.
Maurício Ramos
Manoel Adir Kischener
ExcluirAgradecido, e penso que há discordâncias a respeito do que entende ser científico da percepção da organização do Simpósio, já que o artigo foi aprovado mesmo com a vossa censura, e noto a sua preferência para desqualificar, restrito, talvez, ao que acredita e do contorno de sua formação, do que efetivamente somar e contribuir, vide que se trata de um evento que justamente propicia a troca, o conhecimento compartilhado quando desejado, pois a proposta encaminhada é aberta, ainda rudimentar, no intento de esperar mesmo o diálogo. Mas tranquilo. Vamos lá, na tentativa de respondê-lo: entendo método, metodologia, como um procedimento, uma forma de fazer, e não vi a necessidade de ter um autor (nesse sentido, exagerei no propósito de levar adiante uma “imaginação histórica” à lá Charles Wright Mills), e por minhas percepções de não enxergar a História como ciência fechada, provavelmente me sobrou ousadia e faltou respeito a norma acadêmica, mais no anseio de transgredir na proposta, mas a ciência (e claro que não sou eu a propiciar algo novo, relevante, como os grandes nomes, superadores de paradigmas) não se fez também desta forma? sair do modelo é de todo ruim? não há contribuições nesse escrito a se pensar os temas transversais?
Reconheço as fragilidades da escrita. O método de pesquisa foi por acesso e afinidade, as músicas foram selecionadas (arbitrariamente?) conforme o gosto e conhecimento do autor; o método de análise (ou a forma que fiz a análise?) se deu no sentido de, ao selecionar trechos significativos, despertar o leitor aos temas transversais, mas provavelmente não logrei êxito neste intento.
Ralph Moreno Dias:
ResponderExcluirNoto que ha certa ingenuidade e mitifcação no ideal da música gauchesca e sua relação com o campo. O que acha da tese de Guedes, "O Mito do Gaúcho e suas repercussões na História"? Penso que seria um contraponto importante, pois há aqui uma idealização que contribui de forma problemática para continuidade de certos preconceitos e machismos.
obrigado!
Manoel Adir Kischener
ExcluirAgradecido. Não conheço o artigo citado, vou procurar ler. A opção foi no sentido de mais provocar do que se amparar na bibliografia, que tenho acesso, e até pelo tamanho do texto, optei por privilegiar as músicas e fazer um texto mais livres dos condicionamentos acadêmicos.
Respondendo a partir de trechos vossos “Noto que há certa ingenuidade e mitificação no ideal da música gauchesca e sua relação com o campo”, isso em relação ao meu escrito? Se sim, penso que talvez tenha feito uma leitura apressada, o intento maior foi justamente mostrar que há músicas regionais gaúchas com temas universais, tanto quanto outras que, geralmente são utilizadas pelos professores de História, em especial da MPB. Os trechos utilizados foram pequenos, até pelo tamanho permitido texto (repetindo) e com intenção de divulgação também, excluindo muitas.
Neste trecho, “há aqui uma idealização que contribui de forma problemática para continuidade de certos preconceitos e machismos”, tenho certeza que se refere a minha escrita e, essa conclusão provavelmente se deu a partir da citação da canção e trechos de Noel Guarany, “Destino de peão”? não vejo desta forma, é uma canção que possui letra e música ricas, e óbvio que se deve contextualizar, dialogar e até fazer uma leitura adaptada aos tempos que vivemos (é outra sociedade, a canção foi gravada em 1975, provavelmente a composição é bem anterior) e, nesse sentido do aqui exposto, me parece pior, pois o politicamente correto acaba sendo ingênuo e a tudo vê como preconceito, esquecendo que se pode se valer das mais diversas fontes, em seus diferentes tempos, e óbvio, reitero, com a devida contextualização. Nesse sentido, não é uma resposta a ti, mas penso que na academia há certo ranço e preconceito com a música regional, em detrimento daquela mais intelectualizada (e se for o cantor de tendência de esquerda, melhor ainda, não é?!), isso é pobre e é não se permitir a conhecer a grandeza de muitos que, talvez até idealizem o campo (mas quem não idealiza algo?) mas que produzem literatura (aqui vejo as canções com esse potencial, poético e literário) tão bom quanto nos grandes centros ou de outras regionalidades (às vezes se prefere umas em detrimento de outras?) e se esquece que a arte não pode ser condicionada aos nossos recortes políticos. Saliento que não tive intenção de idealizar o campo (até porque possui muitos e os seus problemas, como quaisquer espaços) e da mesma forma, nem “contribui de forma problemática para continuidade de certos preconceitos e machismos”! Tomara tenha tido sorte em passar algum trecho que desvele essa ideia inicial que teve.
Boa noite, Manuel. Achei muito interessante o método exposto, sendo possível utiliza-lo na questão da musica regional em outras partes do Brasil.
ResponderExcluirA minha pergunta é a seguinte: a questão da adesão acrítica ao multiculturalismo, como foi exposto no texto, pode ter alguma reação negativa aos métodos de valorização local? Mais especificamente no Rio Grande do Sul, métodos que valorizem a cultura local podem ser vistos, de modo errôneo, como uma tentativa fomentar algum bairrismo/separatismo?
Obrigado!
Att,
Guilherme Henrique da Luz Oliveira.
Manoel Adir Kischener
ResponderExcluirAgradecido.
E muito grato pelo apoio em relação ao método.
Não quero afirmar aqui, por falta de profundidade de leitura, então o que escrevo é de ordem pessoal, o que quis afirmar é que, aderindo aos modismos próprios que a Globalização nos tem trazido (e contribuições relevantes também!) dentre elas o multiculturalismo, muitos sequer se permitem a conhecer a própria cultura, a local (e não estou defendendo que isso seja uma obrigação, pois vivemos em uma sociedade livre) e passam a reproduzir o que é de fora, às vezes sem conhecer também. Dois exemplos que vivi em escolas de educação básica: o modismo de festas de Halloween, de forma acrítica, apenas pela festança e bagunça na escola, há toda uma movimentação e organização nesse sentido, chegando a ter a adesão de professores de História (às vezes são obrigados pela direção ou constrangidos a participar); Outro, como reação a isso, teve colega que passou a defender que se “comemorasse” o Días de Muertos, em espécie de contraponto de esquerda (e bem inocente nesse sentido), pois alegavam que, ao menos seria da América Latina (e há muitos professores de História que, simplesmente por ser da Europa ou dos Estados Unidos é eurocentrista ou imperialista, como se não tivesse nada de importante e relevante naquele continente e naquela nação), quando, por essa época também teríamos algo daqui, brasileiríssimo, que a maioria ignora, dia 31 é o dia do Saci, com lei e tudo.
Em relação a segunda questão, sim, penso que sim. Vide a reação de uma das questões antes exposta, pois em tudo se vê como “continuidade de certos preconceitos e machismos”, penso que há muito desconhecimento a respeito da cultura gaúcha por parte dos próprios gaúchos, temos uma música e uma literatura tão importantes como quaisquer outras regionalidades (e aqui não é uma competição, reitero, goste quem quiser), me parece que se criou um estereótipo, como preconcebido, provavelmente amparado nas letras que sim possuem preconceito, mas não são todas e, antes de tudo, é manifestação do povo, é cultura. E como afirmei, existe “a ideia politiqueira de um punhado de interesseiros e um bando de desinformados, de separar-se do Brasil, no tal ‘O Sul é o meu país’”, e existe muita gente que gosta da cultura gaúcha (e aqui não me refiro apenas a música tradicionalista como expus no artigo) que desdenha com esse “movimento” separatista, como esse que vos escreve. Não sei se o respondi...