QUANDO
A NOSSA HISTÓRIA CHEGA COM O LICENCIAMENTO AMBIENTAL: EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO
INTERIOR DO AMAPÁ
Introdução
a Educação Patrimonial
O
projeto de “Avaliação de Impacto ao Patrimônio Arqueológico nas Fazendas
Reginato, Rodrigues, Santa Izabel e Santa Rita, Amapá, AP”, visou cumprir as recomendações
previstas na portaria n°230,
de 17 de Dezembro de 2002 e Instrução Normativa n°001 de 25 de Março de 2015 sobre a
Educação Patrimonial que fazem parte dos projetos de pesquisa arqueológica
executados no licenciamento ambiental de empreendimentos. Neste sentido, como a
Educação Patrimonial do projeto de “Avaliação de Impacto ao Patrimônio
Arqueológico nas Fazendas Reginato, Rodrigues, Santa Izabel e Santa Rita,
Amapá, AP” foi executada por uma equipe multidisciplinar possuidores de
licenciatura, portanto, entendemos que a educação é o ponto de partida.
Como
objetivo principal da Educação patrimonial, procuramos criar meios de
fortalecimento e valorização do patrimônio arqueológico do município do Amapá. Como
no município do Amapá, já existe um patrimônio de cunho arqueológico como a Base
Área do Amapá, as ações devem ter como ponto de partida o que é mais próximo da
realidade da comunidade que estão próximos a área da pesquisa arqueológica e em
seguida apresentaremos outros tipos de patrimônio que ainda são pouco socializados.
Quanto
aos objetivos complementares foram estabelecidos:
1-Realizar
atividades que tenham como ponto de partida o que seria patrimônio para o
público envolvido;
2-Apresentar
outros tipos de patrimônio que sejam desconhecidos para o público envolvido;
3-Registrar
as percepções do público envolvido acerca do patrimônio arqueológico;
4-Reunir
acervos gerados nas atividades que possam contar a história do patrimônio
arqueológico a partir das percepções do público envolvido; 5-Promover a
socialização e reconhecimento do patrimônio arqueológico na área da pesquisa,
que contemple não apenas as informações sobre a base área, mas também os sítios
arqueológicos já registrados no município do Amapá.
Público
alvo e metodologia
As ações de Educação Patrimonial
inicialmente foram definidas ações educativas com a equipe de arqueologia e na
área do empreendimento foco da pesquisa arqueológica (Portaria n° 72, de 23 de
Novembro de 2018, DOU, em 26/11/2018, seção I, anexo 2, sob coordenação dos
arqueólogos Avelino Gambim Junior e Jelly Juliane Souza de Lima). Como foco das
ações de Educação Patrimonial, acreditamos que ao atender os públicos inseridos
no pré-ensino, ensino fundamental e médio que apresentam faixas etárias
diferenciadas, é uma das formas de criar diálogos com o patrimônio arqueológico
e que têm com “ponta pé” a escola.
Como base metodológica da Educação
patrimonial foram utilizadas as publicações dos livros: “Educação Patrimonial:
histórico, conceitos e processos” de 2014 (Florêncio et al, 2014);Mediações culturais com o patrimônio arqueológico:
material de apoio à ação educativa patrimonial (Lima et al. 2007);“Guia
Básico de Educação patrimonial (Horta et al, 1999);lei N° 9.795, de 27 de
abril de 1999, que dispõe sobre a Educação Ambiental; Aproximações entre história
ambiental e ensino de história e educação ambiental (Gerhardt & Nodari,
2010).
Em relação às questões de princípios e diretrizes
conceituais serão explorados a partir da proposta de Florêncio et al (2014, p.
21-25). Neste sentido, o tópico “comunidades: participantes efetivas das ações
educativas” chama a atenção para que essas ações assegure principalmente a
participação da comunidade durante a construção coletiva do conhecimento e que
reconhece suas referências culturais (Florêncio
et al, 2014, p. 20).
Quanto
a cultura, enquanto “conjunto de crenças, costumes, hábito, ideologias, códigos
morais, entre outros aspectos” que dão forma ao comportamento do indivíduo e da
sociedade, estes serão entendidos a partir da perspectiva da teia de
significados, pois se a cultura é uma construção, quer dizer que também possui
características dinâmicas e que se transforma ao longo do tempo (Lima et al. 2007,
p. 10-11).
Horta
et al (1999, p. 36-37) sobre o enfoque interdisciplinar, levamos em conta que o
patrimônio cultural é um recurso educacional favorável também para a ultrapassagem
de cada disciplina, principalmente para a vida do aluno. O patrimônio cultural
pode ser utilizado como um motivador para qualquer área do currículo ou agrupar
áreas consideradas distantes no processo de ensino e aprendizagem (Horta et al,
1999, p. 36-37).
Este
é o exemplo, dos tópicos vinculados ao ensino básico que perpassam várias
disciplinas como a educação ambiental (Horta et al, 1999, p. 36-37). As etapas
metodológicas previstas em Horta e colegas (1999, p. 10-11) tem contribuído no
planejamento das atividades a serem executadas no âmbito da Educação
Patrimonial, ao articular etapas/atividades e objetivos. Uma vez definidas as
etapas, as demais proposições indicadas acima serão articuladas no decorrer das
atividades.
O
exercício desta Educação Patrimonial visa também contemplar a Educação Ambiental, pois ao
mostramos que o patrimônio material não está desconectado do imaterial,
conseguiremos fazer com que os alunos relacionem estes com o seu cotidiano
dentro da comunidade. É preciso destacar que muitas das vezes as comunidades
não possuem uma relação de identidade com a arqueologia e o patrimônio
arqueológico, os meios de aproximação com o ambiente. Também estaremos
abordando a lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a
Educação Ambiental, institui a Política Nacional de Educação ambiental e dá
outras providências.
Para
cada etapa, foram planejadas atividades concernentes a:
1.Observação:
Identificação do objeto/função/significado; desenvolvimento da percepção visual
e simbólica-Na etapa de observação, devem ser realizadas atividades que visem o
desenvolvimento das percepções sobre o patrimônio cultural dos participantes. Neste
sentido, apresentações que envolvam diferentes turnos e faixas etárias no
ambiente escolar fazem parte das ações de Educação Patrimonial. As exibições de
filmes e desenhos que retratem de forma geral a arqueologia podem ser
consideradas como ponto de partida para o início das atividades de Educação
Patrimonial. Após a exibição dos filmes e desenhos, uma apresentação sobre o
projeto de “Avaliação de Impacto ao Patrimônio Arqueológico nas Fazendas
Reginato, Rodrigues, Santa Izabel e Santa Rita, Amapá, AP” deve ser feita. O
objetivo principal seria socializar os resultados das atividades de campo e
destacar a importância da pesquisa arqueológica como forma de preservação da
História do Munícipio do Amapá.
2.Registro:
Fixação do conhecimento percebido, aprofundamento da observação e análise
crítica; desenvolvimento da memória, pensamento lógico, intuitivo e
operacional. A partir das apresentações feitas pela equipe de arqueologia,
noções de memória, patrimônio, identidade seriam destacadas. Em seguida, os
participantes devem produzir desenhos coloridos em papel A4 e papel 40 kilos, valorizando
os conhecimentos que possuem sobre o Município do Amapá, ao destacar o patrimônio
cultural e outras formas de expressão que os rodeiam.
3.Exploração:
Desenvolvimento das capacidades de análises e julgamento crítico, interpretação
das evidências e significados-Após a elaboração dos desenhos coloridos em papel
A4 e papel 40 kilos, valorizando os conhecimentos que possuem sobre o Município
do Amapá, ao destacar o patrimônio cultural e outras formas de expressão que os
rodeiam, os participantes serão instigados a falar sobre sua produção.
4.Apropriação: Envolvimento afetivo, internalizarão,
desenvolvimento da capacidade de auto-expressão, apropriação, participação
criativa, valorização do bem cultural. Na última etapa, uma exposição
fotográfica intitulada “Dia da Arqueologia no Amapá” será realizada no ambiente
escolar, a partir da seleção de um determinado espaço a exposição fotográfica
deverá ser fixada. A partir da seleção de fotos produzidas em campo e na
primeira etapa de Educação Patrimonial, o acervo fotográfico selecionado deverá
refletir as ações educativas que envolveram os participantes.
Descrição
dos Resultados
As ações de Educação patrimonial
previstas no projeto de “Avaliação de Impacto ao Patrimônio Arqueológico nas
Fazendas Reginato, Rodrigues, Santa Izabel e Santa Rita, Amapá, AP”, ocorreram
em duas etapas, sendo a primeira no mês de dezembro de 2018 e a segunda em
janeiro de 2019. Somadas as horas de planejamento (32 horas) e de execução das
ações de Educação Patrimonial (40 horas), esta pesquisa gerou uma carga horária
de 72 horas. Abaixo o mapa indica as escolas onde foram realizadas as ações de
Educação patrimonial.
Figura 1: Mapa mostrando
os locais onde realizamos as atividades de educação patrimonial, na comunidade
do Breu, na sede da fazenda e na cidade do Amapá.
Educação Patrimonial
nas escolas
A partir de informações da comunidade
ficamos sabendo que duas escolas públicas do Breu que fazem parte do município
de Pracuúba estariam mais próximas do empreendimento foco da pesquisa
arqueológica. Conforme a consulta realizada no site do IBGE o município do
Amapá encontraríamos escolas públicas sob a administração do município e
estado, que atendem a várias faixas etárias. Como o foco principal da Educação
Patrimonial, a equipe de arqueologia procurou as escolas públicas para estabelecer
parcerias onde seriam realizada as atividades. Como parte do contato, a equipe
explicou os motivos da realização da pesquisa arqueológica e “o porquê”
devíamos realizar a Educação Patrimonial. Em geral, fomos bem recebidos por
pelas diretoras e coordenador pedagógico que estavam responsáveis no momento
pelas escolas Evandro Martins Ribeiro e Veiga Cabral (figura 2).
Figura 2: Equipe de arqueologia sendo recebida
pelos responsáveis das escolas.
Com as ações agendadas, retornamos nas
escolas para deixar os cartazes de divulgação. A partir do momento que a equipe
de arqueologia colocou nas paredes das escolas os cartazes, informativos sobre
da ação de Educação Patrimonial, percebemos que nossa atividade seria um
sucesso, pois vimos que os alunos rapidamente foram olhar e demonstraram interesse.
Exibição
de filme
Os filmes: As Aventuras de Tadeo: ele só queria ser
arqueólogo 1 e As Aventuras de Jackie Chan episódio 30 (figura 3, à direita),
foram escolhidos por combinar animação, comédia e imaginário acerca da
arqueologia e da profissão de arqueólogo.
Figura 3: Cartazes dos filmes exibidos nos
ambientes escolas do Breu e Amapá.
Após a organização da sala de aula, iniciamos a
atividade com a apresentação da equipe e expondo o projeto de pesquisa
arqueológica que estávamos desenvolvendo. Em seguida, a equipe de arqueologia
repassou para os alunos pipoca e refrigerante e iniciou a exibição dos filmes As
Aventuras de Tadeo: ele só queria ser arqueólogo 1 e As Aventuras de Jackie
Chan episódio 30.
O Cine arqueologia aconteceu no dia 11 de dezembro
de 2018 às 15: 00 horas, simultaneamente na escola Evandro Martins Ribeiro
(figura 4), situada no Breu e na Escola Veiga Cabral (figura 4), no dia 13 de
dezembro de 2018, às 08:00 horas com 30 alunos.
Figura 4: Cine arqueologia nas Escola Evandro
Martins Ribeiro e Veiga Cabral.
Palestras
Após a exibição dos filmes As Aventuras de Tadeo:
ele só queria ser arqueólogo 1 e As Aventuras de Jackie Chan episódio 30, a
equipe de arqueologia deu início a uma apresentação (figura que abordou a
Educação Patrimonial, patrimônio cultural e suas divisões em material e
imaterial, formas de identificação e preservação destes (figura 5).
Figura 5: Apresentação sobre patrimônio cultural na
Escola Municipal Evandro Martins Ribeiro.
Em geral, destacamos os patrimônios do Estado do
Amapá, como a Fortaleza de São José de Macapá, a base área do Amapá (BAA). A
equipe de arqueologia exemplificou verbalmente sobre os patrimônios presentes
na comunidade que é próxima a reserva biológica do Lago Piratuba e rodeada pelo
bioma do cerrado no qual possui como características naturais diversidades de
ecossistema e fauna onde os moradores extraem os recursos naturais
especificamente para consumo familiar.
Os alunos foram separados em dois grandes grupos. A
equipe auxiliou os alunos a fazer uma caracterização de um ambiente familiar.
Todos os alunos participaram da construção artística e colocaram um pouco de
suas ideias próprias no desenho para torná-lo mais específico possível. Cada
grupo teve que verbalizar cinco exemplos de patrimônios materiais e cinco
imateriais presentes em sua comunidade e o motivo que os levou a escolher
aquela paisagem. Ao termino desta atividade, a equipe de arqueologia agradeceu
a participação de todos os alunos que mostraram interesse durante toda a
execução e construção desse momento didático a partir dos desenhos.
Desenhos
A partir da exposição feita na
apresentação sobre patrimônio cultural e sua divisão em material e imaterial,
os alunos foram separados em grupos (figura 6). Cada grupo recebeu folhas
branca A4 ou papel 40 kilos e lápis de cor. A equipe de arqueologia instruiu
que os alunos descrevessem por meio do desenho o que seria patrimônio para cada
um destes. Após, o termino do desenho cada grupo explicou as motivações que
levaram a eleger a categoria indicada no desenho.
Figura 6: Momento da elaboração dos desenhos e
desenho pronto.
Com o levantamento das informações
advinda da coleta dos desenhos, também foi possível verificar que os alunos
consideram como patrimônio a Base área do Amapá (BAA), os vestígios
arqueológicos como machado e urnas funerárias, a praça Barão do Rio Branco, a
escola, a Fortaleza de São José de Macapá, além da dança, comida e lendas que
fazem parte da história das comunidades distantes das áreas urbanas (figura 7).
Figura 7: Outros patrimônios culturais indicados
pelos alunos da Escola Evandro Martins.
Quanto ao patrimônio material pode-se visualizar
que a Base área do Amapá, os vestígios arqueológicos (machado e urnas
funerárias) e a Fortaleza de São José de Macapá são as categorias reconhecidas
pelos alunos. A explicação para a indicação destas categorias talvez esteja
relacionada a propagação das imagens da Fortaleza de São José de Macapá e dos
vestígios arqueológicos pela mídia local. Já a Base área do Amapá por ser o
patrimônio mais próximo da comunidade do Breu e do Amapá.
Outras categorias de patrimônio como
casa/família, escola e objetos pessoais foram indicadas nos desenhos dos
alunos. Em relação a essas categorias, é comum em comunidades afastadas a
valorização e zelo do patrimônio familiar como a casa e objetos pessoais. Outro
dado apontado pela figura 7, mesmo que de baixa expressividade é a valorização
do patrimônio ambiental, como por exemplo, o rio Breu e o Curiaú.
Exposição
fotográfica
Como experiência anteriormente aplicada
no âmbito da extensão universitária, aplicamos a proposta de uma exposição
fotográfica tendo como suporte fios de barbante, que mostra a trajetória das
atividades executadas pelos participantes feitas no âmbito da educação
Patrimonial (Luna et al, no prelo). Na Escola Estadual Veiga Cabral, a exposição
fotográfica intitulada “Dia da arqueologia no Amapá” (figura 8) mostrou as
ações realizadas como: a socialização das atividades no empreendimento,
atividades de campo e na escola.
Figura 8: À esquerda, montagem da exposição
fotográfica. À direita, alunos visitando a exposição fotográfica.
Desse modo, junto a exposição sempre tinha um membro da
equipe disposto a explicar o que estava sendo mostrado nas fotografias com quem
se aproximava e explicar que é arqueologia e patrimônio arqueológico, e o que
viemos fazer no município do Amapá.
Avaliação
das atividades de Educação Patrimonial
Vasconcellos e Hattori (2014, p. 80-81)
em caminhos metodológicos para a Educação patrimonial na arqueologia
preventiva, lembram da importância de questionamentos que visem refletir e
avaliar a própria práxis das ações de Educação Patrimonial na arqueologia. Como
a práxis é entendida como uma prática regida por princípios
teórico-metodológicos que ancoram projetos (Lima et al, 2007), avaliamos as
ações de Educação Patrimonial e a práxis feita no percurso desta pesquisa
arqueológica.
Objetivo 1: Realizar atividades que tenham como
ponto de partida o que seria patrimônio para o público envolvido. Para este
objetivo, o principio metodológico de observação, rege o desenvolvimento das
percepções sobre o patrimônio cultural dos participantes (Horta et al, 1999) e a
socialização das atividades de campo, ao destacar a importância da pesquisa
arqueológica como forma de preservação da História do Amapá.
Em
geral, as inferências tratam das ações educativas iniciais feitas com os
moradores do empreendimento, auxiliares de campo, rádio e escolas. Ao ter
contato com este público, buscamos inicialmente saber o que estes conheciam acerca
da arqueologia e do patrimônio cultural, sendo também uma forma de troca, experiências
e saberes. Em nossas ações procuramos ter como ponto de partida, a relação das
pessoas com os lugares. Este é o caso da Educação Patrimonial articulada a
Educação Ambiental (Brasil, lei N° 9.795, de 27/04/1999; Gerhardt & Nodari, 2010; Horta
et al, 1999).
Os
registros dos trechos das entrevistas, os desenhos e a entrevista realizada na
rádio dão conta das indicações feitas pelo público alvo. O público alvo do
Amapá, principalmente do ambiente escolar, reconhece como patrimônio a Base
Área do Amapá.
Outra questão geral apresentada pelo
público alvo trouxe à tona a ideia romantizada e equivocada da arqueologia
(Bahn, 1996; Oliveira & Lima, no prelo; Moreno de Sousa, 2018). Como as informações absorvidas pela maioria
das pessoas sobre a arqueologia e sua prática foram produzidas principalmente
por não arqueólogos e disseminadas pela mídia (Chowaniec, 2012, 2013), estas acarretaram equívocos sobre o seu papel
social e da imagem do patrimônio arqueológico como tesouro e de valor comercial
(Moreno de Sousa, 2018; Oliveira & Lima, no prelo; Ribeiro, 2018; Trigger, 2004; Zanettini,
maio de 1991. Jornal da Tarde. SP).
Objetivo
2: Apresentar outros tipos de patrimônio que sejam desconhecidos para o público
envolvido. Após as exibições de filmes, a realização das palestras nos
ambientes escolares visou mostrar aos alunos os outros tipos de patrimônio que
eram desconhecidos destes, pois conforme expresso no objetivo 1. Para iniciar,
o conceito de patrimônio cultural foi explicado. Em seguida, as distinções
entre patrimônio material e imaterial tendo como referência exemplificações
trazidas pelos palestrantes eram indicados. Ao fazer isso, aos alunos eram feitas
perguntadas sobre o que estes indicariam como patrimônio.
Como forma de indicar outros tipos de
patrimônio cultural, ao partir da arqueologia, as imagens traziam informações
referentes à fase Aristé, a classificação dos tipos de sítio arqueológico e
como esta se diferencia da Base Área do Amapá. Ao fazer estas comparações,
podemos os tipos de sítios arqueológicos relacionados aos períodos
pré-coloniais e Coloniais. Ao apresentar, fotos dos materiais arqueológicos
encontrados na área do empreendimento foco da pesquisa arqueológica, os alunos
ficaram surpresos com a informação.
Ao salientar que os materias
arqueológicos teriam relação com a antiga ocupação do território que hoje
conhecemos como Amapá, a preservação e salvaguarda destes colaboraria com a
reescrita de histórias de ocupação e construções identitárias, tendo em vista
que outras memórias poderiam ser ativadas e as histórias particulares vir à
tona e contrastar com as memorias universalistas construídas sobre a região do
Amapá (Nora, 1993).
A apresentação da diversidade cultural
e suas múltiplas formas a partir da perspectiva das pessoas, seja na forma de
expressão oral e escrita, nas representações sociais que comunicam cultura e
identidades sociais, variam conforme o tempo e espaço, possibilitando com isso,
reconhecer o que nos torna plurais, como propõe a Carta Magna de 1988. Desta forma, o patrimônio foi percebido como
uma construção humana que perpassa geração a geração (Martins, 2001).
A percepção sobre o patrimônio significa
relativizar o olhar sobre o outro, de maneira a contextualizá-lo, compreendendo
o outro e seus valores. Com isso, a diferença passa a ser percebida como
diversidade relacionada ao modo de viver, contrapondo-se ao etnocentrismo.
Para o fomento de visitações, destacamos
a importância das instituições de pesquisa no Amapá que realizam os estudos
arqueológicos como o Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas do Amapá
(CEPAP) da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), o Núcleo de Pesquisas
Arqueológicas (NuPARQ) do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do
Estado do Amapá (IEPA) e Museu Histórico Joaquim Caetano da Silva (MHJCS) do
Governo do Estado do Amapá (GEA).
Objetivo
3: Registrar as percepções do público envolvido acerca do patrimônio arqueológico.
Ao reconhecer que cada pessoa percebe o mundo de acordo com os aspectos que
possuem importância para si (Lima et al, 2007, p. 9), podemos elencar de fato o
que principalmente os públicos dos diferentes ambientes escolares registraram
como percepção do patrimônio cultural e arqueológico que se materializaram
através dos desenhos.
Ao
avaliar esta informação por área, podemos observar conforme expresso
anteriormente que no Breu o meio ambiente é muito valorizado igualmente a Base
Área do Amapá, o que os garante como referência cultural (Florêncio et al,
2014, p. 20-21) é uma referência. Estas informações foram importantes,
pois os desenhos permitiram expressar outras categorias de patrimônio que só
emergiram neste momento. Estes são os exemplos das menções a lugares (Praça
Barão do Rio Branco), Igreja e Escola, que podem ser explicados como a
valorização da conservação, em decorrência de investimento público.
De ordem mais estrita, também surgem
categorias como casa/família e objetos pessoais, pois os alunos entendem também
patrimônio como uma herança. Desta forma, entende-se que os grupos, em especial
escolar fizeram escolhas influenciadas por outros grupos (Lima et al, 2007, p.
11), tais como país, direção escolar que regem certas diretrizes sobre os bens
de sua responsabilidade.
Para finalizar, apesar de ter
encontrado dificuldades de acesso a alguns segmentos escolares em decorrência
do ano corrido por falta de professores, considera-se que as ações de Educação
Patrimonial foram executadas conforme a proposição inicial. É preciso mencionar
que na Escola Estadual Veiga Cabral, outros pesquisadores que estejam
realizando projetos relacionados ao licenciamento ambiental ou pesquisa
acadêmica, procure o corpo técnico desta, pois esta seria uma das escolas que
podem contribuir com a socialização do patrimônio arqueológica da região dada a
sua proatividade e colaboração.
Considerações
finais
No percurso deste relatório,
objetivamos mostrar como foram executadas as ações de Educação Patrimonial do
Projeto de “Avaliação de Impacto ao Patrimônio Arqueológico nas Fazendas
Reginato, Rodrigues, Santa Izabel e Santa Rita, Amapá, AP” conforme recomenda o
IPHAN na portaria n°230, de 17 de Dezembro de 2002 e
Instrução Normativa n°001
de 25 de Março de 2015. A Educação Patrimonial proposta pela presente equipe de
arqueologia teve como consenso principal levar o conhecimento para a comunidade
geral e escolar a partir da pesquisa vinculada ao licenciamento ambiental. Esta
é uma oportunidade que abre mais um espaço para trocas de
experiências e saberes mais horizontais.
De fato as pesquisas no âmbito
acadêmico e do licenciamento ambiental, tornam gritantes as execuções da
Educação Patrimonial. No entanto, é com o licenciamento ambiental que muitas
vezes a arqueologia chega em lugares que desconhecem a importância da
valorização e preservação do patrimônio cultural. Esta situação já foi
ressaltado por Bastos (1999). Para o autor, a existência de sítios
arqueológicos que não seriam pesquisados no âmbito acadêmico, tiveram através
da pesquisa arqueológica de contrato a determinação que fossem abrangidos
através da legislação e desta forma teriam conhecimento produzido incorporado à
Memória Nacional (Bastos, 1999).
Em geral, é consenso que a pesquisa
arqueológica e a Educação Patrimonial estão envolvidas nas questões atreladas
ao licenciamento ambiental (Schaan, 2007; Vasconcellos & Hattori, 2014). A
arqueologia e as ações de Educação Patrimonial, desenvolvidas junto às
comunidades tem como finalidade dialogar com as diferentes visões
principalmente no contexto de transformação da economia global ligados aos
empreendimentos (Vasconcellos & Hattori, 2014, p. 79).
Ao concordar com Bastos (1999) que o
“IPHAN tem papel preponderante em capitanear ações educativas exemplares e de
desenvolvimento econômico a partir do uso do patrimônio arqueológico”,
recomenda-se que articulações entre este, Ministério Público do Amapá fomentem
e incentivem projetos educativos de longa duração na Base Área do Amapá e no
Museu do Amapá que se encontram abandonados pelo poder público e que estas
sejam conduzidas pela Escola Estadual Veiga Cabral.
Referências Bibliográficas:
Avelino
Gambim Junior é Bacharel em História pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUC RS) e professor no curso de História Universidade
Federal do Amapá (UNIFAP).
Jelly
Juliane Souza de Lima é Licenciada em História pela Universidade Federal do Amapá
(UNIFAP) e mestra em Arqueologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ).
Os autores agradecem a equipe de arqueologia que fez parte
desta pesquisa educativa: Deise
Cristina Vale, Jordan Souza de Lima, Joely Priscila Souza de Lima, Julielton
Souza de Lima, Marcio Claudio Lima Nunes, Ildo Guilherme Pinheiro, Daniel
Paixão Ramos, José Wilker Penha da Silva, Leitícia Pinheiro Barros e Carlos
Eduardo Santos Barbosa. Agradecemos ainda as escolas Evandro Martins Ribeiro e
Veiga Cabral pela possibilidade de interação desta pesquisa.
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Olá, Jelly e Avelino, parabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirGostaria de saber se os alunos das duas escolas envolvidas conheciam os artefatos citados somente pela divulgação midiática ou se eles tiveram contato também nas suas comunidades.
Saudações,
Tathianni Cristini da Silva
Olá Tathianni, obrigado.
ResponderExcluirOs alunos das escolas têm contato na maioria dos casos com os artefatos pré-coloniais através da mídia e atividades educativas, alguns poucos ou chegaram a visitar museus ou reservas técnicas com coleções expostas ao público e alguns já escutaram falar da presença desses artefatos indígenas devido a recorrência dos mesmos não apenas na região, em alguns caso na comunidade, já que existem sítios arqueológicos cadastrados nessas comunidades, em todo o município, mas também no estado como um todo, não sendo comum os mesmos se referirem a casa de parentes onde foram encontrados artefatos indígenas por exemplo. Porém o que ficou evidente é o reconhecimento da base aérea do Amapá como um local de memória materializada que eles conhecem e se sentem parte, que faz parte da história recente do município, assim como os artefatos associados. Neste sentido o objetivo do nosso trabalho foi, entre outros, estabelecer um diálogo entre a comunidade identificando a base aérea como o local onde praticamente todos lembram e a partir daí entendem a importância dos outros artefatos na sua própria história.
Atenciosamente,
Avelino Gambim Júnior
Ola Tathianni.Tudo bem?
ResponderExcluirEntão, inicialmente fizemos três etapas de educação patrimonial nas escolas. Na primeira e segunda etapa infelizmente não havíamos encontrado vestígios arqueológicos. Somente no final da pesquisa de campo, com os achados de vestígios arqueológicos é que resolvemos fazer uma terceira etapa de educação patrimonial. Como no inter do Amapá tudo fica muito distante, sentimos muito de não poder levar os alunos no campo para poder participar da escavacao. Espero ter respondido sua pergunta.
Att, Jelly Juliane Souza de Lima