POLÍTICAS
DE AÇÕES AFIRMATIVAS: BREVE HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS JUSTIFICATIVAS E O
PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO
A relevância das ações afirmativas no
contexto brasileiro e seus principais argumentos As políticas
de ações afirmativas para o ensino superior têm como principal objetivo
incorporar estudantes oriundos de grupos sociais representados de forma menos expressiva
nas universidades públicas do Brasil. Segundo Bolonha e Tefé (2012, p.122), as
ações afirmativas no âmbito educacional buscam produzir uma “real efetividade
ao direito fundamental à educação e ao princípio da igualdade”, objetivos presentes
na Constituição Federal de 1988. De forma mais ampla, tais políticas voltam-se
para a promoção do acesso aos meios fundamentais como educação e emprego, e têm
como público-alvo as minorias étnicas, raciais, sexuais, nacionais e grupos com
características físicas e outras que diferem do padrão social majoritário normatizado.
São segmentos que historicamente sofreram e sofrem algum tipo de discriminação
e exclusão social (GOMES, SILVA, 2001). Sendo assim, as ações afirmativas
pretendem viabilizar as oportunidades de “ingresso no mercado de trabalho, progressão
na carreira, desempenho educacional, acesso ao ensino superior, participação na
vida política, entre outros” (MOEHLECKE, 2002, p. 198; SILVA, 2006).
Em estudo
comparativo entre Brasil e África do Sul sobre as políticas de ações afirmativas,
Silva (2006, p. 140) destaca que o argumento da modernização estava presente
entre as justificativas mais frequentes para a implementação de tais políticas.
A autora enfatiza que ambos os países passaram por processos de democratização
em período recente, sendo que no Brasil a Constituição vigente foi promulgada
em 1988 - após o término do regime autoritário civil-militar. A partir da visão
de Telles (2004), o estudo aponta que tanto o Brasil quanto a África do Sul ao
“se tornarem democracias passaram a sofrer pressão de grupos sociais para
compensar suas dívidas históricas com os grupos excluídos”.
Em
consonância com tal afirmativa, Moehlecke (2002) afirma que com a redemocratização
no Brasil, movimentos sociais exigiram uma postura mais ativa do poder público
diante de questões como raça, gênero e etnia, estimulando o debate para que
fossem criadas medidas específicas para a solução de problemas relacionados a esses
grupos, como são as ações afirmativas.
Torna-se
essencial compreendermos também a importância dos direitos humanos para a
existência das ações afirmativas. Na concepção de Santos (2012, p.290), a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, que completou 70 anos em 2018, “pode
ser identificada como marco universal em defesa e justificação das ações afirmativas”.
O autor destaca a influência do documento na construção da concepção contemporânea
dos direitos humanos, que consagra o princípio da igualdade, e está em harmonia
com a Carta Magna brasileira, onde é determinado que “todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza” (BRASIL, 1988).
No entanto,
essa igualdade formal, baseada em um aparato jurídico, não equivale a igualdade
material. Por isso, argumenta-se sobre a necessidade de romper com a lógica
igualitária e instituir um tratamento diferenciado, a fim de atenuar as desigualdades
concretas, primando pela equidade. Ao implementar políticas públicas de ações
afirmativas, o Estado admite a necessidade de “conferir a determinados grupos uma
proteção especial e particularizada” (PIOVESAN, 2005, p. 46).
No âmbito
educacional, a adoção das cotas sociais e raciais nos processos seletivos de
acesso às universidades públicas efetivam uma discriminação positiva, ao tratar
grupos considerados vulneráveis de forma diferente. Também nesse caso, a necessidade
de criar políticas públicas que possibilitem um tratamento diferenciado a determinados
grupos, passa pelo reconhecimento das desigualdades sociais historicamente
construídas que decorrem do processo de formação da sociedade brasileira
(PIOVESAN, 2005).
Na literatura
sobre as ações afirmativas (SILVA, 2006; FERES JÚNIOR, 2006; SANTOS, 2012) são
destacados três argumentos que justificam a adoção dessas políticas no contexto
do ensino superior: 1o) o argumento da reparação, 2o) o argumento da Inclusão
Social e 3o) o argumento da Diversidade. O argumento da reparação é uma justificativa
histórica, que fundamenta-se na necessidade de buscar uma compensação em função
da discriminação ocorrida no passado, como a escravidão no Brasil e o Apartheid
na África do Sul. O argumento da Inclusão Social enfatiza uma compensação baseada
no presente, diferindo da noção de passado do argumento de Reparação, expondo a
necessidade de ações afirmativas para promover a “mobilidade de grupos excluídos
socialmente” no contexto atual (SILVA, 2006, p. 142).
Por fim, a
justificativa baseada na Diversidade projeta as ações afirmativas como uma
ferramenta de inclusão de grupos de alunos de diferentes origens raciais e
étnicas, pluralizando o espaço universitário e enriquecendo as experiências de
aprendizado e socialização do aluno. Transformam-se, portanto, em uma
importante ferramenta de integração que estimula a convivência com as
diferenças culturais no ensino superior.
Com base nos
principais argumentos de justificação, é possível afirmar que o tema das ações
afirmativas tem uma importância central no debate sobre um ensino superior mais
democrático, onde é possível pensar medidas que possibilitem a inserção de
grupos representados em menor número nas universidades públicas do país. Entende-se
que, em longo prazo, tais políticas “seriam responsáveis por mudar
substancialmente a composição daqueles que ingressam na universidade pública,
tanto no corpo discente quanto docente, ajudando a suprimir possíveis estereótipos
na vida universitária e no convívio geral da comunidade” (BOLONHA, TEFFÉ, 2012,
p. 124).
Nesse
cenário, as cotas surgem como um importante mecanismo na busca por maior
equidade dentro do espaço universitário público brasileiro, sendo a modalidade
de ação afirmativa mais adotada entre as universidades públicas do país.
Conforme levantamento realizado por Daflon, Feres Júnior e Campos (2013, p.
314) “das 70 universidades brasileiras que possuíam na época alguma ação
afirmativa, 35 (50%) aplicavam exclusivamente o sistema de cotas”.
Apesar de ser
a modalidade mais comum entre as ações afirmativas destinadas ao ensino
superior, o sistema de cotas representa apenas uma categoria dessa política. Além
das cotas, existem outras duas modalidades de ação afirmativa: A distribuição
de bônus e o acréscimo de vagas, utilizados em ao menos 37,5% de todas as
universidades federais e estaduais do país, segundo levantamento realizado no
ano de 2011 (FERES JÚNIOR, CAMPOS, DAFLON, 2011). Os autores analisam as
especificidades dessas duas modalidades de ações afirmativas menos conhecidas:
A
distribuição de bônus é um mecanismo utilizado para equilibrar a concorrência
no vestibular a partir da distribuição de pontos-extras nas provas dos
candidatos pertencentes a determinados grupos. Ao invés de se reservar um
número de vagas, prefere-se bonificar os alunos negros, de escola pública, indígenas,
de baixa renda etc. O bônus não garante que as vagas serão preenchidas pelos
candidatos pertencentes a grupos desfavorecidos, mas pretende facilitar seu
acesso a essas vagas. Já o acréscimo de vagas cria postos suplementares para
determinados grupos (FERES JÚNIOR, CAMPOS, DAFLON, 2011, p. 314).
As ações
afirmativas presentes nas universidades brasileiras possuem critérios bastante
distintos, sendo a desigualdade social mais aceita dentre as normas de inclusão
dos programas, e os critérios raciais sendo os mais criticados pela população (GUARNIERI,
SILVA, 2017). É possível afirmar que a modalidade de ações afirmativas mais
conhecida são as cotas raciais - reserva de vagas para afrodescendentes e
indígenas - talvez muito por conta do protagonismo do movimento negro na mobilização
em prol de políticas públicas que buscassem atenuar as desigualdades raciais
presentes no Brasil.
A expansão das ações afirmativas em todo o país
provocou uma série de alterações no ensino superior público brasileiro nos
últimos quinze anos. O aumento do número de vagas e matrículas, assim como a
mudança de perfil do estudante universitário, ocasionada pelo maior acesso das
camadas populares as universidades públicas no país, são algumas das
consequências mais perceptíveis de tais políticas. Na próxima seção pretendo
analisar brevemente esse processo de democratização, as mudanças decorrentes da
implementação das ações afirmativas e as peculiaridades da expansão do ensino
superior brasileiro.
Democratização do ensino superior
brasileiro: Um sistema de massa em construção?
As duas últimas
décadas foram marcadas pelo processo de ampliação da educação superior
brasileira, onde foi verificado um aumento significativo do número de
instituições, cursos, vagas e matrículas. Esse período pode ser dividido em
dois momentos: Segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso
(1999-2002), caracterizado pelo alastramento das instituições privadas, e os
governos Lula-Dilma (2003-2016), destacados “pela sintonia com as políticas
globais de inclusão social” (RISTOFF, 2014, p. 724), configurada pela expansão
das ações afirmativas no ensino superior público, mas também pela criação de
políticas direcionadas às instituições particulares, como o PROUNI (RISTOFF, 2014;
GOMES, MORAES, 2012).
Ristoff (2014) analisa alguns dados que
favorecem a visualização desse processo, ao afirmar que o número de
instituições de ensino superior aumentou de “893 em 1991 para 2.416 em 2012,
representando um crescimento de 171%”. Outro dado relevante para a discussão
destacado pelo autor diz respeito ao aumento de número de matrículas que
“cresceram de pouco mais de 1,5 milhão para mais de 7 milhões no [mesmo]
período, representando um crescimento de cerca de 350%” em pouco mais de 20
anos (RISTOFF, 2014, p. 724).
Verificou-se que entre 1999 e 2003 as
matrículas no setor privado cresceram quatro vezes mais do que no primeiro
mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006), período em que, apesar de não
ter ocorrido crescimento significativo nessa área, o número total de matrículas
no setor privado se manteve superior ao setor público. Esse cenário somente foi
modificado no fim do primeiro mandato de Dilma Rousseff, quando o setor público
apresentou um crescimento de matrículas superior ao setor privado pela primeira
vez em muitos anos.
A partir dessas informações o autor
referenciado explicita um importante contraste entre o ensino superior em
relação aos demais níveis de ensino: Enquanto todas as etapas da educação brasileira,
do ensino fundamental ao doutorado, apresentam maiores porcentagens de
matrículas nas instituições públicas, o ensino superior, pelo contrário,
concentrava até 2012, um maior número de matrículas no âmbito privado (RISTOFF,
2014).
Em um primeiro momento, o quadro
descrito acima pode sugerir que as mudanças ocorridas nos últimos vinte anos
seriam suficientes para que o Brasil tivesse atingido um sistema de educação
de massas. Ristoff (2014), Gomes e Moraes (2012) se apoiam na perspectiva
teórica desenvolvida por Martin Trow para analisar o contexto do sistema de
ensino superior brasileiro. Trow (2005) desenvolveu três dimensões para pensar
as transições dos sistemas de ensino superior, denominadas “sistema de elite”,
“sistema de massa” e “sistema de acesso universal”, onde as principais
transformações estariam associadas 1) as taxas de crescimento da matrícula; 2)
o tamanho do sistema e das instituições de forma individual e a 3) a proporção
do grupo etário de 18 a 24 anos matriculado (RISTOFF, 2014; GOMES, MORAES,
2012).
Tanto Ristoff (2014) como Gomes e
Moraes (2012) destacam as porcentagens de matrículas no ensino superior com o
intuito de compreender a realidade do sistema brasileiro. Ambos os trabalhos
utilizam a perspectiva de Martin Trow que compreende que um sistema de elite atende
até 15% do grupo etário de 18 a 24 anos da população, o sistema de massa é
definido por atender entre 16% e 50% desse grupo, enquanto o sistema universal
caracteriza-se por um volume de matrículas que compreende mais de 50% dessa
população (RISTOFF, 2014; GOMES, MORAES, 2012).
Com base na classificação de Trow,
ambos os autores concluem que o sistema brasileiro de ensino superior ainda
pode ser compreendido como um sistema de massa em construção, tendo em vista
que os estudantes de nível superior do Brasil representam cerca de 15% da taxa
de escolarização líquida do grupo etário entre 18 e 24 anos. A
consolidação de um sistema de massa em relação ao sistema de elite, de acordo
com Trow, no entanto, só é possível, quando passa a admitir mais de 30% das
matrículas do grupo etário relevante (RISTOFF, 2014; GOMES, MORAES, 2012).
O volume de matrícula representa assim,
uma variável central no processo de transição de um sistema para o outro, ao
qual se articulam outras características que o sistema passa a apresentar, como
a inserção de uma diversidade maior de estudantes, de origens sociais
distintas, diferentemente do que ocorre em um sistema de elite onde “o acesso
se dá quase que exclusivamente em função da origem de classe social dos
estudantes, [obtendo] uma relação direta com o nascimento e a renda [onde se] constitui
[um] privilégio social associado aos mecanismos meritocráticos da escolarização
básica” (BOURDIEU, 2001 apud GOMES, MORAES, 2012, p. 174).
Apesar de o processo de “massificação”
do ensino superior brasileiro estar muito associado às instituições privadas,
que possuem o maior número de matrículas de graduandos, é inegável que as
políticas de ações afirmativas direcionadas ao ensino público tiveram uma
importante parcela nesse processo de inserção das camadas mais populares nos
cursos de graduação das universidades mais concorridas do Brasil. Com a
inclusão dos grupos historicamente excluídos desse nível educacional, o perfil
do aluno do ensino superior foi alterado significativamente.
Ristoffi (2014) em seu estudo analisou
essas mudanças de perfil dos estudantes do ensino superior brasileiro levando
em consideração quatro aspectos: 1) Cor do estudante 2) renda mensal da família
do estudante; 3) a origem escolar desse aluno e 4) a escolaridade dos seus
pais. Em sua análise, o autor concluiu
que as políticas implementadas no país nas últimas duas décadas permitiram uma
série de alterações. No entanto, essas modificações representam apenas o início
de um processo de democratização, onde são necessárias a manutenção,
aperfeiçoamento e a ampliação dessas políticas para que seja possível reverter
elementos de um longo período em que perdurou no Brasil um sistema de ensino
superior elitizado.
Dentro das principais conclusões da
pesquisa, o autor destaca que o campus brasileiro ainda está longe de refletir
a realidade populacional do país. Segundo Ristoffi, apesar das alterações
visualizadas nos últimos anos, alguns grupos da sociedade, como negros, e
principalmente pardos, encontram-se ainda sub-representados nas instituições de
ensino superior. Além da questão racial, a questão socioeconômica, a origem
escolar e a escolaridade dos pais mostraram-se relevantes, conforme destacado
abaixo:
“Há uma forte correlação entre os
indicadores socioeconômicos. Via de regra, o estudante que tem pai com
escolaridade superior vem também de família das duas faixas de renda mais
elevadas, frequenta cursos com os mais altos percentuais de brancos e se
origina da escola do ensino médio privado. Já no outro extremo, estudantes que
não têm pais com escolaridade superior ou com alto rendimento, estudam em
cursos com percentuais de brancos muito próximos ao da população brasileira e
têm a sua origem escolar no ensino médio público” (RISTOFFI, 2014, p. 274).
O autor conclui também que as chances
de ingresso nos cursos de alta demanda estão significativamente marcadas pela
escolaridade superior dos pais, encontrando um resultado que está em
consonância com o que Bourdieu havia evidenciado em sua obra “Os Herdeiros”
(1964), destacado por Nogueira (2015):
“Os estudantes não se distribuiriam
homogeneamente entre os diferentes cursos ou áreas de formação mas, ao
contrário, essa distribuição seria influenciada por sua origem social. Aqueles
com uma origem mais modesta seriam afetados por aquilo que os autores chamam de
uma “restrição de escolha”, concentrando-se nos cursos de menor prestígio, como
Letras e Ciências, em detrimento de opções como Medicina e Direito. A instituição
de ensino superior cursada também seria socialmente condicionada, com clara
concentração daqueles com uma origem social privilegiada nas instituições de
maior prestígio” (NOGUEIRA, 2015, p.51).
Em estudo sobre o processo de escolha
do curso superior, Nogueira (2007) aponta que o perfil dos estudantes varia
fortemente de acordo com o curso frequentado. Para o autor, “essa distribuição
está estatisticamente relacionada às características sociais, perfil acadêmico,
etnia, sexo e idade do estudante” (NOGUEIRA, 2007, p. 3). No entanto, é cada
vez mais frequente nessa etapa de ensino a presença de indivíduos que desafiam
a noção de reprodução construída por Pierre Bourdieu, por serem oriundos de
famílias com pouco ou nenhum capital cultural e mesmo assim conseguirem
ingressar em cursos e instituições altamente seletivas.
Considerações Finais
A partir das reflexões levantadas nesse
trabalho, é possível afirmar que nos últimos anos o Brasil consolidou as
políticas de ações afirmativas que vem democratizando o acesso ao ensino
superior, alterando assim, o perfil dos estudantes que ingressam nessas
instituições de ensino. Desta forma, essas ações favoreceram a entrada de
alunos das camadas mais populares da população, estudantes de escolas públicas,
grupos historicamente excluídos, que são muitas vezes os primeiros membros da
família a cursarem o ensino superior.
Apesar do crescimento das ações
afirmativas no ensino superior brasileiro e sua consolidação no cenário
nacional ainda é possível apontar duas questões relevantes ao tema: 1) O maior número
de matrículas dos alunos dessa etapa de ensino está concentrado no setor privado,
se contrapondo ao cenário do ensino médio do país, que possui a maior parte dos
seus estudantes originários da escola pública. Com isso, a realidade do ensino
básico nacional, apesar dos avanços, ainda não é refletida no nível superior,
tornando notória a discrepância entre alunos das escolas públicas que conseguem
vagas nas universidades públicas do país e os demais alunos ingressantes,
oriundos da rede privada; e 2) Apesar de as políticas de ação afirmativa terem
contribuindo com o processo de democratização do ensino superior, torna-se
evidente a necessidade que o Brasil ainda tem de avançar no que diz respeito ao
oferecimento de oportunidades nessa etapa de ensino, tendo em vista que a
maioria da população brasileira não possui nível superior.
Referências
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Santana é mestrando em Ciências Sociais no PPCIS/UERJ. E-mail: diego.dimassantana@gmail.com
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Prezado Diego, em primeiro lugar parabéns pelo ótimo trabalho, muito bem escrito! As ações afirmativas, embora sigam uma tendência global de medida de igualdade, estão passando no atual contexto por um enfrentamento político significativo, principalmente nos discursos de lideranças políticas. Você é da Uerj, universidade pioneira da política de cotas raciais, levando a instituição a mudanças relevantes rumo à pluralidade e à inclusão. Como você percebe a comunidade acadêmica da Uerj diante dos atuais enfrentamentos às políticas afirmativas?
ResponderExcluirUm abraço,
Walace Ferreira.
Prezado Walace, muito obrigado pelo elogio e pelo comentário. Desde o início de sua implementação, no ano de 2003, as ações afirmativas na UERJ foram contestadas por diversos setores da sociedade, incluindo a opinião pública, que muitas vezes questionou a importância de tais políticas e uma suposta queda de qualidade do ensino universitário a partir da entrada dos estudantes cotistas. Atualmente, passados 16 anos desde a primeira versão da lei de cotas, o cenário é diferente, tendo em vista que há um grande número de pesquisas que comprovam que os estudantes cotistas possuem desempenho igual ou até mesmo superior dos alunos ingressantes pelas vagas regulares. No ano de 2018, a versão atual da lei de cotas da UERJ completou 10 anos. Esse período foi de grande relevância, e contou com ampla mobilização da comunidade acadêmica para que a lei fosse prorrogada. Tendo em vista o aprimoramento constante dessa política e os benefícios aos estudantes oriundos de camadas populares do Rio de Janeiro, a lei foi prorrogada, no ano passado, pelo então governador Luiz Fernando Pezão por mais 10 anos. Desta forma, apesar do questionamento de lideranças políticas, principalmente no que diz respeito as cotas raciais que sempre foram mais questionadas que as outras modalidades de ação afirmativa, como por exemplo, cotas para estudantes de escola pública e portadores de deficiência, o caso da UERJ, ao meu ver, encontra-se fortalecido, com uma certa estabilidade construída nesse período, apesar da conjuntura. Atualmente, a comunidade acadêmica encontra-se bastante mobilizada para a aprovação de subsídios que permitam a permanência desse aluno de baixa renda no ambiente universitário por parte do poder público, como a ampliação do passe livre universitário aos estudantes que moram fora da cidade do Rio de Janeiro e a possibilidade de que essa gratuidade também seja estendida as outras modalidades de transporte, como metrô e trem.
ExcluirObrigado pela contribuição!
Abraço,
Diego Cavalcanti de Santana
Obrigado pelos esclarecimentos, Diego!
ExcluirUm abraço,
Walace Ferreira.