O SUICÍDIO DE ADOLESCENTES INSTITUCIONALIZADOS NOS CENTROS DE
SOCIOEDUCAÇÃO DO PARANÁ: OS CASOS DO CENSE CASCAVEL II
De novembro de 2015 a
novembro de 2016 dobrou o número de adolescentes cumprindo medida
socioeducativa no país - em novembro de 2015 havia 96 mil adolescentes nessa
condição e em 2016 foram contabilizados 192 mil adolescentes - segundo dados
que foram extraídos do Cadastro Nacional de Adolescentes em Conflito com a Lei
(CNACL) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O tráfico de drogas é o crime
mais frequente entre os jovens; havia quase 60 mil guias ativas expedidas pelas
Varas de Infância e Juventude do país por este ato infracional. Já o crime de
estupro cometido pelos menores aumentou de 1.811, em novembro de 2015, para
3.763, em novembro de 2016.
No Estado do Paraná,
os Centros de Socioeducação (Censes) são responsáveis pelo acompanhamento
desses jovens em cumprimento de medida socioeducativa de internação.
Torna-se fundamental
entender que os adolescentes em conflito com a lei recebem essa denominação a
partir do momento em que são tomados pelo sistema judiciário devido a uma ação
por eles realizada que infringe o Código Penal Brasileiro. Passam de meninos,
que em muitos casos não possuem acesso a bens e serviços
sociais/sanitários/culturais, a adolescentes em conflito com a lei em virtude
do ato infracional realizado, sendo então tomados pela rede da justiça. (Digo
aqui meninos porque a grande maioria dos que cometem atos infracionais são do
sexo masculino – acima de 90%, segundo o Conselho Nacional de Justiça, 2016).
A internação é o sexto estágio da medida socioeducativa e corresponde a
privação de liberdade, que pode ser provisória, com um prazo limite de até 45
dias para resultado da sentença, ou de internação, cujo tempo de permanência
internado é de seis meses até três anos. Segundo o ECA (Estatuto da Criança e
do Adolescente), lei n.º 8.069/90 de 13
de julho de 1990 em seu art. 122, a medida de internação só poderá ser
aplicada quando tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou
violência à pessoa, por reiteração no cometimento de outras infrações graves ou
por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta
(BRASIL, 2005b). Por isso, a sentença deve ser sempre proporcional à gravidade
do ato infracional e precisa obedecer alguns princípios, tais como, brevidade e
excepcionalidade. Os outros tipos de medidas socioeducativas são: advertência
(art. 115 do ECA); obrigação de reparar o dano (art. 116 do ECA); prestação de
serviços à comunidade (art. 117 do ECA); liberdade assistida (arts. 118 e 119
do ECA); semiliberdade (art. 120 do ECA).
A internação corresponde aos artigos 121 a 125 do ECA, e é esse universo
do adolescente institucionalizado privado de liberdade que interessa a minha
pesquisa.
No Paraná ao todo são dezenove Censes distribuídos em três regiões num
total de 1065 adolescentes internados. (Como dito anteriormente são em sua
grande maioria do gênero masculino, mas a título de informação são cinco
unidades para internação feminina em todo Paraná, localizadas em Ponta Grossa,
Curitiba, Londrina, Foz do Iguaçu e Maringá).
Entre os anos de 2006 e 2013 tive a oportunidade de trabalhar como
educador social - hoje nominado como agente socioeducativo - em duas unidades
de internação: Cense Londrina II e, posteriormente, Cense Cascavel II, ambas
unidades de internação de adolescentes do gênero masculino que atendem em média
70 e 55 adolescentes, respectivamente, e que não possuem histórico de
superlotação.
De acordo com Peixoto, a unidade Cascavel II, inaugurada em 2007, é uma
das cinco unidades inauguradas no mesmo ano e correspondem a um novo projeto
arquitetônico e um novo panorama de atendimento socioeducativo, onde foi
necessária a rejeição categórica de práticas absolutistas das instituições
totais que se
caracterizavam pela segregação do indivíduo e pela ruptura com o mundo exterior
(PEIXOTO, 2011, p. 58).
A estrutura física das novas unidades, aparentemente, é menos ostensiva
do que as unidades mais antigas. Foz do Iguaçu tem até hoje uma estrutura
física precária adaptada de uma antiga escola agrícola, improvisada, onde no
ano de 2010 passou por um grave episódio: um adolescente de 16 anos foi morto
por asfixia por um de seus colegas de alojamento enquanto dormia na madrugada
de 12 de julho.
Segundo relatório da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de 2016, a
estrutura arquitetônica do CENSE Curitiba durante visita no mesmo ano estava em
total dissonância com o previsto no ordenamento jurídico e nas normas de
referência do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE),
lembrando-se que suas instalações foram adaptadas e não projetadas para a
implementação do programa socioeducativo (SANTOS, 2016, p. 37). Nesse mesmo Cense, no ano de 2014, foi
registrada a morte um adolescente de 13 anos por suicídio. As frequentes
situações de isolamento, os conflitos entre os internos, o ambiente insalubre,
o controle constante dos corpos e o sofrimento mental associado são fatores de
risco que podem potencializar um sentimento de vazio existencial e medo levando
os adolescentes à episódios de tentativas e de suicídios.
De acordo com o SINASE a grande maioria das unidades de privação de
liberdade, onde se incluem os CENSES, está longe de cumprirem os requisitos
mínimos estruturais para o desenvolvimento do trabalho socioeducativo:
“As Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção de Jovens Privados
de Liberdade estabelece o princípio - ratificado pelo ECA (artigos 94 e 124) -
que o espaço físico das Unidades de privação de liberdade deve assegurar os
requisitos de saúde e dignidade humanas. Entretanto, 71% (setenta e um por
cento) das direções das entidades e/ou programas de atendimento socioeducativo
de internação pesquisadas em 2002 (Rocha, 2002) afirmaram que o ambiente físico
dessas Unidades não é adequado às necessidades da proposta pedagógica
estabelecida pelo ECA (SINASE, 2006, P. 20).”
A capacitação para todos os novos funcionários concursados do ano de
2006 no Estado do Paraná, que foi desenvolvida à primeira vista sob uma
perspectiva humanizante e mais adequada à prática socioeducativa preconizada em
leis, talvez não tenha sido suficiente para a garantia dos requisitos de saúde
e dignidade humanas no interior dos CENSES.
Situações como essas de Foz do Iguaçu e Curitiba, e várias outras até
mais violentas levaram a produção de um Protocolo Interinstitucional de Gerenciamento
de Crises (2006), que é um dos documentos usados nessa pesquisa e que compõem,
dentre outros documentos institucionais, os chamados Cadernos de Socioeducação
(2006), documentos que auxiliam no convívio e não relações estabelecidas nos
CENSES.
Vale lembrar também que o Cense Londrina II passou por seis rebeliões
entre os anos de 2004 e 2007, tendo eu presenciado a última (disponho de
relatórios, fotografias e um vídeo que podem ser usados em algum momento, se a
pesquisa assim exigir, para referendar as mais de 7 horas de rebelião e
destruição de quase toda unidade, além de um estupro).
Abaixo reproduzo sem alterações documento de 2006 preenchido por mim
informando a direção sobre uma tentativa de fuga no CENSE Londrina II:
“No dia citado trabalhei no plantão da manhã até as 13:30, dobrando até
as 18:15 para compensar folga autorizada por essa direção. As atividades
transcorreram normalmente. Por volta das zero hora do mesmo dia, recebi a
ligação do Cense pedindo apoio já que o adolescentes da ala D haviam serrado 4
grades e a tentativa de fuga estava a pouco de se concretizar. Cheguei a
unidade por volta das 0:20 e logo de início avistei as viaturas da polícia
militar e tropa de choque. No pc recebi as primeiras orientações sobre o
ocorrido e na quadra encontrei um grupo de pelo menos 12 educadores munidos dos
equipamentos de CDC, junto a pelo menos mais uns 15 educadores divididos e
organizados por funções. Imediatamente a célula de CDC adentrou ao solário e um
a um os adolescentes foram algemados e levados para as salas de
atendimento/oficinas e também para o CC-4 da ala C. Foram 4 grades serradas de
4 alojamentos. Foram encontradas 2 serras cortadas ao meio, uma faca de
cozinha, 3 chaves de fenda e uma roupa de bebê no interior dos alojamentos. Pelo
menos 1 alojamento ficou totalmente destruído. No dia 28.11.2006, as 7:30
quando assumíamos o plantão, o adolescente Carlos Marcello, ala D, conseguiu
abrir o parafuso que trancava o ferrolho da oficina onde passou a noite e
acabou saindo pelo telhado, ganhando a parte intermediária na unidade e ainda
subindo no portão e no muro, quando foi surpreendido pelos educadores e guarda
da guarita. Foi algemado e imediatamente levado ao CC-4. sem mais.” (Cense II –
Londrina Relatório do dia 27/11/2006
e 28/11/2006 - Tentativa de fuga ala D - Educador Fernando Cesar Arnoni). Foram
mantidos aqui inclusive os erros de português, concordância verbal e digitação.
Nos dias que se seguiram foram feitas reuniões chamadas de Conselho
Disciplinar (CD) para responsabilização dos adolescentes envolvidos e, no
geral, todos permaneceram por dias isolados dos demais adolescentes, confinados
em seus alojamentos, saindo somente para atendimento técnico da assistência
social ou psicologia, ou atendimento médico. Sequer saindo para atividades de
escolarização o que sugere que esse isolamento possa ser um fator determinante
para a prática e/ou tentativa de suicídio, dificultando o convívio e
permanência na instituição.
A partir desse breve relato justifico o meu interesse e relevância sobre
o tema da pesquisa e, apesar de ainda muito insipiente, pude observar que o que
aparentemente era o mesmo trabalho de atendimento, algo que a primeira vista
saltava aos olhos como homogêneo e universalizante, de fato apresentava-se de
uma forma muito diferente se compararmos uma unidade com a outra.
Escolhi o Cense Cascavel II como recorte espacial dessa pesquisa por ser
uma unidade considerada modelo e sem histórico de rebeliões ou motins,
(diferente em vários sentidos da Unidade Londrina II), mas, também por
registrar dois suicídios de adolescentes (2009 e 2017) e diversas outras
tentativas de suicídio. Casos de suicídio e tentativa não são exclusividade do
Cense Cascavel II. A unidade de Pato Branco no sudoeste do Estado também
registrou um suicídio no ano de 2006. Hoje extinta, essa instituição era um
anexo adaptado à cadeia pública da cidade, descumprindo a legislação e
colocando em risco as vidas que ali estavam sob a tutela do Estado.
O (recorte temporal/ Estudo de caso) são os casos de suicídio de 2009 e
2017 ocorridos no CENSE Cascavel II, ambos por enforcamento e pretendo me
debruçar sobre o documento chamado de Livro de Ocorrências ou Livro Ata
especificamente da Casa de número 01, casa de acolhida e recepção dos
adolescentes recém-chegados para assim, chegar até esses adolescentes tentando
compreender suas relações enquanto institucionalizados.
Esses casos de tentativas e de suicídios que como visto não ocorrem de
forma tão excepcional como imaginava exigiram, por parte do Estado, a criação
de um Caderno de Socioeducação: internação e suicídio (2010) e posteriormente
um Caderno de Prevenção de Suicídios (2015), dois documentos fundamentais para
essa pesquisa e que também compõe os Cadernos de Socioeducação.
“Ainda, tendo em vista o dever de cuidado do Estado para com os
adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, em especial às questões
relativas à saúde e à segurança, a prevenção do suicídio figura como um de seus
objetivos. Esta preocupação se acentua pelo fato de que vários fatores de risco
para o suicídio são identificados entre os adolescentes em conflito com a lei
privados ou restritos de liberdade, quais sejam: transtornos mentais,
tentativas de suicídio anteriores, desesperança, maus-tratos na infância,
problemas familiares, suicídio de um colega, pouca habilidade na resolução de
problemas, fácil acesso a meios letais e problemas nas relações com os pais
(PARANÁ, 2015, p. 18 e 19).”
Esses cadernos sobre prevenção de suicídio, encontrados por acaso,
chamaram minha atenção por parecerem contraditórios se comparados com os
registros dos Livros Atas ou Livros de Ocorrência das casas do Cense Cascavel
II, que preenchi durante todo meu tempo trabalhando como agente socioeducativo.
Nos livros deve constar a rotina de cada uma das casas, mas, principalmente,
situações que fogem da regra e da rotina de segurança e prevenção como a que
foi descrita no episódio da tentativa de fuga. Outros exemplos ocorrências de
menor e maior gravidade respectivamente e que eram muito comuns na rotina do
CENSE são a recusa do alimento, no caso o almoço ou jantar, inclusive a
sobremesa e a confecção de “terezas”. “Terezas” são cordas improvisadas
fabricadas com recortes de peças de roupas que os adolescentes se utilizam para
“pescar” coisas, mas também como instrumento para enforcamento.
Logo abaixo transcrevo pequeno texto a partir de fotografia de Livro de
Ocorrências do CENSE Cascavel II fornecida por um funcionário, informalmente:
“Recebido Ata do CD 051/201X que consta medidas disciplinares dos
adolescentes Gustavo, Wiliam e Everton 8 dias sendo de 20/10/201X até
27/10/201X e do adolescente Marcos 4 dias sendo de 20/10/201X até 24/10/201X.
Sem mais encerro o plantão com os mesmos 8 adolescentes.”
Os dias de cumprimento de medida disciplinar são determinados após
reunião de Conselho Disciplinar, reunião que conta com representantes de vários
setores: socioeducadores, técnicos, direção. No caso transcrito não tivemos
acesso à falta cometida pelos adolescentes. Possivelmente uma falta média ou
grave, estando a exemplificação e gravidade das faltas registradas em um
caderno chamado de Rotinas de Segurança. O resultado do Conselho Disciplinar
como transcrito foi de 8 dias de isolamento, inclusive deixando de frequentar
as aulas e outras atividades e o adolescente saindo do alojamento somente para
atendimento técnico ou médico. No interior de cada CENSE temos a modalidade EJA
– Educação de Jovens e Adultos do Paraná – que os adolescentes frequentam de
forma regular. Privá-los da escolarização como forma de punição é no mínimo um
exagero.
O documento institucional considera que os fatores de risco para o
suicídio são relativos à vida pregressa dos adolescentes, incluindo todo tipo
de violação e sofrimento mental, mas parece desconsiderar que o próprio
ambiente de carceragem pode ser um fator de risco vindo a potencializar o
comportamento suicida. O documento admite também que é impossível a prevenção
total da prática do suicídio.
Na metade do século XIX e para além de uma crítica de Economia Política,
Marx, em texto de 1846 já refletia sobre as causas que aparentemente poderiam
levar indivíduos ao suicídio:
“As doenças debilitantes, contra as quais a atual ciência é inócua e
insuficiente, as falsas amizades, os amores traídos, os acessos de desânimo, os
sofrimentos familiares, as rivalidades sufocantes, o desgosto de uma vida
monótona, um entusiasmo frustrado e reprimido são muito seguramente razões de
suicídio para pessoas de um meio social mais abastado, e até o próprio amor à
vida, essa força enérgica que impulsiona a personalidade, é frequentemente
capaz de levar uma pessoa a livrar-se de uma existência detestável (MARX, 2006,
p 24).”
O autor analisa o suicídio como expressão extrema de uma sociedade doente,
de um sistema que necessita de uma transformação radical para resolver não só
as questões do campo da política e da economia, mas, também, as opressões nas
relações sociais e o mal-estar dos indivíduos.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde a adolescência compreende a
faixa etária entre os 10 e 20 anos; o Estatuto da Criança e do Adolescente –
ECA restringe essa fase entre os 12 e 18 anos. Grande parte dos estudiosos
sobre adolescência afirma que esse período não pode ser considerado hegemônico,
ou seja, são identificados períodos/etapas distintas.
Embora as etapas estejam definidas pelas faixas etárias, na realidade,
são determinadas, também, mais pela experiência do que pela idade, mais pelo
comportamento do que pela aparência e mais pelo significado interior do que
pela avaliação exterior. Dessa forma, pode-se afirmar que a adolescência é um
período de constantes transformações: no corpo, na mente e na vida social.
Referência:
Fernando Cesar Arnoni é mestrando em História pelo PPGH da Unioeste
Campus de Marechal Cândido Rondon – PR, linha de pesquisa Trabalho e Movimentos
Sociais, sob a orientação da Professora Dra. Aparecida de Souza
Darc.
BRASIL. Constituição da República
Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2005.
______. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Ministério da
Educação, Assessoria da Comunicação Social. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília: MEC/ACS, 2005b.
______. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE. Brasília –
DF: CONANDA, 2006.
______. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do
Adolescente. Curso para operadores do
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE. Brasilia, jul. /out. 2010.
CURY, Munir (coord.). Estatuto da
criança e do adolescente comentado: comentários jurídicos e sociais. 9ª
ed., atual. São Paulo: Malheiros, 2008.
MARX, Karl. Sobre o suicídio.
Tradução de Rubens Enderle e Francisco Fontanella. - São Paulo: Boitempo, 2006
PARANÁ. Instituto de Ação Social do Paraná. Práticas de Socioeducação,
Cadernos para Prevenção do Suicídio, Protocolos de Gerenciamento de Crise,
Compreendendo o Adolescente. Cadernos do
IASP, Curitiba, 2007.
PEIXOTO, Roberto Bassan. A gestão de execução de medidas socioeducativas
no Paraná: uma política pública em construção. Dissertação de Mestrado. FAE
Centro Universitário – Curitiba, 2011.
SANTOS, Maria Christina dos: Relatório
de visitas a centros de socioeducação e a unidades de semiliberdade no estado
do Paraná: adolescentes em privação e restrição de liberdade / Maria
Christina dos Santos, Marta Marília Tonin, Anderson Rodrigues Ferreira. -
Curitiba: OABPR, 2016.
O suicídio hoje está aumentando consideravelmente no Brasil e em outros países. Achas que o atentado de Realengo e o de Suzano podem influenciar diretamente o suicídio de adolescentes nos próximos anos ? Existe alguma possibilidade de se criar uma política pública que busque minimizar esses danos ?
ResponderExcluirTiago Tormes Souza
Olá, Tiago e obrigado pela pergunta. Em Realengo e Suzano o desfecho foi o suicídio. Analisando pela sociologia de Durkheim em seu texto clássico de 1897, "o suicídio", o que ocorreu nas duas situações foi um suicídio de tipo egoísta, afrouxamento dos laços sociais e sentimento de não pertencimento ao grupo. Causou estranheza grupos que comemoraram na chamada "deep web" a morte das 8 pessoas e o suicídio do dois meninos como se foossem martirs. As políticas públicas já existem nos três níveis, nacional, estadual, municipal e tambem mundialmente, ditado pela OMS. No geral, acredita-se na possibilidade da prevenção do suicídio, o que está diretamente relacionado com a necessidade de dificultar o acesso aos meios letais, entre eles arma de fogo. Brasil mais uma vez está na contramão. Não romantizar nem sensacionalizar por parte da mídia no geral, não revelar detalhes de como o ato irreversível aconteceu, são algumas medidas. Mas principalmente acompanhar o indivíduo com histórico de tentativa de suicídio. É um problema mundial cuja discussão envolve várias áreas do conhecimento e acho que esse é o caminho, estabelecer uma rede de proteção e tambem, mais do que nunca, propor um outro tipo de sociabilidade que vá para alem da competição/ fracasso/ frustração tão comuns com relação aos jovens de hoje. Os atentados de Realengo e Suzano podem sim, ser objeto de imitação. Espero ter sido útil. Estou à disposição. Forte abraço!
ResponderExcluirPrezado Fernando,
ResponderExcluirO trabalho aborda elementos complexos, sensíveis e necessários de discussão.
Além de contar com suas próprias vivências. E é uma importante contribuição.
Algumas questões:
Você disse que transcreveu o relatório e manteve as características. Mas os nomes dos adolescentes também correspondem ao real? Pergunto pelas questões legais.
Outra questão. Apesar do difícil consenso sobre a classificação da adolescência, percebe-se que ela se dá pelo social. Mas como se dá as menções a estes adolescentes nos documentos além de "adolescentes em conflito com a lei"? Há o uso do termo "menor"?
Por fim, sua análise do suicídio pela experiência social, e seus teóricos, é muito interessante. Há possibilidade de pensar também nas subjetividades, além das já mencionadas (como estrutura física e etc)?
Ass.: Lucas Santos