André Bueno


"NÃO HÁ DESVIOS NO CAMINHO DO ESTUDO": UM DIÁLOGO ENTRE PENSADORES DA CHINA TRADICIONAL E A QUESTÃO DO APRENDIZADO


"Muito estudo leva a erudição; pouco estudo, a superficialidade. Ampliar sua visão de mundo leva a profundidade; reduzi-la, a estreiteza de juízo".  
[荀子 Xunzi, -313 a -238]

Quando Xunzi citou esse pequeno trecho, ele tinha em mente a sempre onipresente questão do estudo. Estudar é um verbo, em chinês, cuja dimensão ultrapassa o sentido que temos em português [no Brasil] do que seja o ato de imbuir-se do desejo de conhecer, e do hábito de exercitar essa busca.

Quando eu estudava chinês, lembro de tontearmos nossa professora com uma pegadinha – que então compreendi – existe em nossa língua, mas não necessariamente em chinês. Ao explicar o que era o verbo chinês ‘estudar’ [xue], perguntamos também como seria o verbo ‘aprender’. Nossa professora não compreendeu a pergunta. Para ela – e para os bilhões de chineses – estudar é aprender. Dissemos que em português [Brasil] era possível ‘estudar e não aprender, e aprender sem estudar’. Ela não compreendeu. Eu sim, e tive então certa vergonha da situação. Percebi que, infelizmente, temos isso incrustado em nossa cultura. Talvez por serem milenares, os chineses perceberam que estudar é aprender, e vice-versa. Perde-se em riqueza lingüística, mas se ganha em sentido. O que restou a nossa docente foi explicar que em chinês, você pode estudar [xue], mas não compreender [dong]; e que é muito estranho afirmar que alguém compreendeu sem estudar, pois se parte do pressuposto que, se compreendeu, estudou [a questão, ao menos]. De fato, se entende que se alguém estudou, mas não compreendeu, é porque precisa estudar mais.

Essa discussão poderia ser infrutífera e meramente formal, se ela não levasse ao seguinte ponto: milênios atrás, os chineses já haviam compreendido que não se nasce sabendo.‘Dom’, ‘benção do saber’, ‘facilidade’, ‘esperteza’, são coisas limitadas e imaginárias. Obviamente, os chineses não tinham dúvidas que os talentos pessoais variavam de pessoas para pessoa. Mas desenvolvê-los era outra coisa. Ainda que as pessoas tenham suas propensões, se não as desenvolverem, elas estagnam. Xunzi estava consciente disso. Ele começara a estudar em idade avançada, e ressentia-se sempre do que não sabia. Ainda que desse demonstrações cabais de capacidade, o tempo perdido nunca seria recuperado.

Talvez seja importante lembrar que essa discussão é antiga na China, e talvez por isso eles tenham superado deste ponto. Portanto, se o modelo da analogia nos serve, poderíamos aproveitar a experiência chinesa para calar, de vez, nossos maus hábitos culturais de acreditar na sapiência da esperteza. Wang Chong, estudioso da dinastia Han, deixou isso bem claro no século +1:

"Nenhuma pessoa inteligente teve êxito sem ter estudado, nem chegou a aprender sem ter questionado. Alguém poderia objetar: ‘mas não é verdade que Xiang Tuo, uma criança de sete anos, ensinou Confúcio?* Aos sete anos ele nem estava na escola. Mas o que se fala aqui é das pessoas que nascem sabendo. Durante o reinado de Wang Mang [+9 a +25], havia na prefeitura de Bohai um jovem de vinte e um anos chamado Yin Fang, que não tivera professor nem estudara com amigos, mas possuía uma inteligência inata. Dominava todos os cinco livros clássicos do Confucionismo. Chunyu Cang, magistrado local de Weidu, informou a corte, dizendo que Yin Fang, sem haver estudado, sabia recitar de memória composições literárias que só havia lido uma vez, e sabia comentar questões sobre diversos temas, citando os cinco clássicos confucionistas para explicar textos e analisar seu conteúdo, satisfazendo a todos. As pessoas o chamavam de santo, do sábio sem estudo, do gênio sem mestre. Isso não era algo divino?’. Minha resposta é: ainda que ele não tenha tido mestre ou colegas, ele teve que perguntar aos demais, e ouvir a resposta, para esclarecer certas questões. Mesmo que não tenha lido livros, ele sabe ler e escrever. Uma criança recém-nascida, cujos olhos e ouvidos nem se abriram, é incapaz de entender a verdade das coisas, por melhores que sejam seus dotes naturais. Xiang Tuo deu mostras de talento aos sete anos, mas aos três ou quatro anos, já ouvia falar sobre as pessoas. Yin Fang maravilhou a todos aos vinte e um anos, mas já devia ter visto e ouvido bastante coisa desde os quinze anos. [...] São casos de inteligência precoce os de Xiang Tuo e Yin Fang. Quanto a Huangdi [imperador amarelo] e Diku [antigo sábio], mesmo com inspirações divinas, podem também contar entre aqueles que tinham uma inteligência precoce. É certo que algumas pessoas alcançam a maturidade intelectual antes das outras, mas em todo o caso isso só acontece através do estudo. Há pessoas que, mesmo que não tenham estudado com mestres, pais ou irmãos, são objeto de excessivos elogios por parte daqueles que só enxergam seus êxitos em idade tenra. É dito que Xiang Tuo fez isso e aquilo com sete anos, mas suspeito que ele tinha dez anos; e se diz que ele ensinou Confúcio, mas acredito que Confúcio tenha lhe feito as perguntas. Dizem que Huangdi e Diku nasceram falando; mas qualquer criança só começa a falar pelos três ou quatro anos, e penso que esse é o caso. Dizem que Yin Fang tinha apenas vinte e um anos quando deu mostras de seu talento, mas o mais provável é que ele já tivesse trinta anos. Afirmam que ele não estudara nem com mestres nem com colegas, mas soube que ele estudou sozinho, e teve orientações de pais e irmãos em casa. É prática mais do que habitual neste nosso mundo fazer elogios pródigos além da verdade, ou difamar uma pessoa aumentando seus defeitos reais. Segundo a tradição, Yan Kuan, discípulo de Confúcio, escalou o monte Taishan aos trinta anos, e ali vislumbrou um cavalo branco amarrado fora do portão ocidental da muralha da capital do estado de Wu. No entanto, ao investigarmos os fatos e o terreno, revelou-se que aos trinta anos Yan Kuan não escalou o Monte Taishan, nem viu a capital do estado de Wu. Os elogios feitos a Xiang Tuo e Yin Fang são indignos de crédito, como é falso tudo que se possa dizer de Yan Kuan. As pessoas diferem em talentos, mas só chegam a saber aprendendo; quem aprende, sabe; e quem não aprende não sabe". [王充 Wang Chong, +27 a +97]

O trecho ‘ainda que ele não tenha tido mestre ou colegas, ele teve que perguntar aos demais, e ouvir a resposta, para esclarecer certas questões. Mesmo que não tenha lido livros, ele sabe ler e escrever. Uma criança recém-nascida, cujos olhos e ouvidos nem se abriram, é incapaz de entender a verdade das coisas, por melhores que sejam seus dotes naturais’ é absolutamente esclarecedor. As pessoas esquecem, hoje, que tiveram que estudar com um professor para aprenderem a ler e escrever. Algumas afirmam que ‘aprenderam tudo sozinhas’. Sozinhas, na verdade, eles não teriam sobrevivido algumas semanas depois de nascer. É humano – e talvez muito brasileiro – renegar os mestres, e afirmar-se sábio de si mesmo. A desvalorização dos professores em nossa cultura depende, em parte, desse problemático valor cultural de acreditar que as diferenças intelectuais são ‘naturais’; alguns nascem sabendo, outros nunca. O desinteresse no estudo é falsamente justificado por uma natural incapacidade individual. Ora, desde o século +1 os chineses sabem que não é bem assim. Eles inverteram o paradigma. Qualquer um poderia ser inteligente, com esforço. Quem tem potencial, porém, se não o desenvolve, não se torna inteligente. O mesmo Confúcio, que teria sido avacalhado na apócrifa história de Xiang Tuo, teria dado o troco em outra historieta [igualmente apócrifa] em que, ao passear com seus discípulos, encontraram uma vila em que havia uma criança tida como sábia. Confúcio a perguntou: ‘como poderíamos igualar a todos?’. A criança respondeu: ‘montanhas iguais cansarão as aves; rios iguais matarão os peixes; se o chefe e o louco forem iguais, não haverá ordem. Pra que igualar? Deixe tudo diferente’. Os discípulos de Confúcio ficaram impressionados com a criança. Afirmaram: ‘nossa, quem dera se todas as crianças fossem assim’. Ao que Confúcio respondeu: ‘conheci muitas crianças que ao invés de estarem brincando, queriam saber o mundo. Quando cresceram, não deram em nada, nem fizeram algo grande: elas nunca conheceram a inocência na pureza da infância’ [丛子Kongcongzi].

Ao ler isso, podemos supor que Confúcio era contra o estudo, e assim se contradizia? Claro que não, é justamente o contrário. Confúcio nos informa que, sem estudo, a bajulação dos adultos prejudicaria o desenvolvimento infantil. Ainda que ela tivesse talento, precisaria estudar. Wang Chong repetiria esse argumento. A fantasia sobre uma suposta ‘inteligência superior na infância’ estragaria o seu crescimento. Isso tudo, porque, as pessoas teriam o hábito de ser orgulhar de crianças inteligentes – afinal, quem não gostaria de saber sem ter que estudar? Esse é um desejo humano, absolutamente concebível pela ideologia da preguiça, mas dificilmente – senão impossível – de ser alcançado. Os chineses aprenderam isso há muitos séculos atrás. Deveríamos ser cautelosos, pois, com a desconsideração pelo estudo.

O reverso dessa ponderação é o afã de demonstrar algum estudo, sem uma real aquisição. Novamente, a questão é meramente de ostentação. Os chineses tiveram que lidar continuamente com isso. O desprezo ao estudo fora substituído pela vaidade de representar um aparente conhecimento – sem o tê-lo, de fato. O problema se acentuou com o desenvolvimento dos concursos públicos na China, depois da dinastia Han, em que o preparo do aluno levava anos, e começava cedo. Eu poderia destacar algumas citações que ilustram a questão, mas pulemos direto ao século 12 [a história chinesa nos permite essas transposições, em alguns casos], quando Yeshi nos diz que:

"Confúcio devia estar aludindo a alguns casos concretos quando falou sobre ‘estudar sem refletir’ e ‘refletir sem estudar’. Vemos o que fazem as gerações atuais. Estudando os livros clássicos, herdam de geração em geração opiniões superficiais e sem substância. Estes são os que não pensam. Outro tipo são aqueles que, de forma fingida, divagam sobre a ‘natureza humana’ e o ‘mandato celeste’, e andam envaidecidos do pouco que sabem. Estes são o que não estudam. Os letrados vulgares pertencem ou a uma categoria ou a outra". [叶适Yeshi, +1150 a +1223]

Não existiria, pois – e já nessa época o vocábulo já se delineou – ‘estudar sem aprender’ ou ‘aprender sem estudar’. Verbos como refletir [ si] ou compreender [dong] representam uma perspectiva anexa a de estudar [xue]. A completa educação [ jiao] só se dá quando o estudo proporciona o real aprendizado e a capacidade de reflexão.

Todavia, como disse, a China pode nos servir de modelo de comparação – inclusive em seus problemas. A fixação no estudo presunçoso e isento de profundidade arrastar-se-ia na burocracia imperial, que criara mecanismos para driblar o estudo sincero. Entre eles, está a ‘demonstração de leitura’. Quem não conhece pessoas que se orgulham de seus milhões de livros, de suas vastas leituras, mas ao fim se comprazem apenas com resumos explicativos, sem adentrar em qualquer tópico? Como disse Feng Ban:

"Há quem considere que são estudiosos aqueles que lêem com uma rapidez extraordinária, terminando dezenas de volumes por dia, e persistindo em leituras cansativas até exaurir-se. No entanto, creio que esse trabalho todo renda muito pouco. Sustento essa opinião bem embasado. Uma leitura rápida torna impossível deter-se em reflexões tranqüilas e profundas; uma leitura ligeira não basta para consolidar o que foi lido. Se alguém lê desta maneira, apesar de sua aplicação e assiduidade, é como se não tivesse lido nada". [冯班 Feng Ban, +1602 +1671]

Séculos depois, portanto, o problema muda, mas continua a girar em torno do problema do ato de estudar. Se antes acreditava-se na inteligência inata, agora, alguns praticavam a ‘facilitação’. Esses maus hábitos iriam proporcionar tempos calamitosos para os chineses, nos quais muitos ‘letrados’, despreparados para lidar com o futuro, se aferravam a sua arrogância ignorante. Seria por isso que 泽东 Mao Zedong [1893-1976] afirmaria, numa frase bastante dúbia, que ‘os fundadores das antigas escolas de pensamento eram jovens despreparados, que ao vislumbrarem algo novo, aferravam-se a isso, desafiando os antigos’. Nada mais verdadeiro para justificar o atropelo fatídico e mortal da jovem guarda vermelha nos tempos da revolução cultural [1966]. No entanto, isso era uma justificativa para a falta de estudo, apenas. A mudança pretendida, calcada na violência, se passava por um ‘novo saber’. Tivesse Mao aprofundado suas leituras, teria visto que nenhum dos antigos aprendeu sozinho, e até a negação de algo pressupõe a sua existência [mesmo que conceitual]. Por isso seu projeto falhou, e durou pouco depois de sua morte. Mas a falta do estudo aprofundado, essa sim, causou incompreensão, ignorância e por fim, morte.

Assim sendo, não há desvios no caminho do estudo. Podem-se mudar as técnicas e métodos de ensino, mas a atividade fundamental do estudo real depende, ainda, do mergulho do leitor, e de sua reflexão. Ainda hoje, não há outra via: e as experiências milenares, se nos servem para algo, ilustram essa inevitável realidade.

Referências
André Bueno é Prof. Adjunto de História Oriental da UERJ e bolsista da Fundação Biblioteca Nacional.

*O conto de Xiang Tuo, um tanto extenso, pode ser visto no site de Sério Caparelli:
Márcia Schmaltz também fez um estudo do mesmo, aqui:
 As demais citações apresentadas são traduções feitas a partir da antologia de 
CHAN, Wing-Tsit. Sources of Chinese Philosophy. Princeton: Princeton University Press, 1969.
FENG, Tianju. (org.) La inteligencia a los ojos de los pensadores chinos. Shanghai: Ediciones extranjeras, 1986

12 comentários:

  1. Prezado professor Dr. André Bueno,

    Parabéns pelo seu texto e por esta instigante reflexão!

    Sua metáfora sobre o “mergulho do leitor”, para que ele possa alcançar a reflexão necessária no estudo, me faz pensar sobre as técnicas que possuímos no mundo ocidental na atualidade, e dentre elas eu destaco os mecanismos de busca da internet, os quais estão criando uma geração de estudiosos, que molham apenas pé e quem sabe o tornozelo nas águas do conhecimento. Leitores superficiais, estudiosos superficiais, reflexões superficiais e conhecimento superficial... concordo com você, há uma necessidade urgente de nos lançarmos em águas mais profundas do estudo.

    Max Lanio Martins Pina

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    1. Caro Prof. Max, saudações!
      De fato... com tanta informação disponível, infelizmente, as pessoas pouco tem lido, pouco tem estudado, e tem lamentavelmente apelado para o controlC-controlV. Penso que é uma questão cultural - e como tal, pode ser mudada. Mas, para evidenciar isso, temos que prestar atenção naqueles modelos onde a aposta na educação deu certo. Essa era a ideia. Mergulhemos! =)
      abraço,
      André Bueno

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  2. Professor Dr. André Bueno,

    Parabéns pelas reflexões sobre diferentes noções culturais do que é estudar e aprender! Essas diferentes noções me fazem questionar uma noção que aprendi com um professor de Biologia, no Ensino Médio. Ele disse que nós nascemos com combinações de genes que definem nossas capacidades cognitivas, ou seja, sermos um Albert Einstein ou não.

    Nessa época, eu realmente acreditava que tal determinação dos genes justificava porque eu e outros colegas de sala tínhamos dificuldade em desempenhar os conteúdos de exatas em provas e sempre fazermos provas de recuperação em tais matérias. Eu estava conformada em acreditar que, por uma determinação biológica, jamais poderíamos superar nossas dificuldades no domínio destes conhecimentos. No ensino médio, fomos divididos por turmas de acordo com o nosso desempenho escolar, se tínhamos muitas notas abaixo ou acima da média. Sabíamos dos alunos considerados “bons” ou “maus” de acordo com os discursos dos docentes e alunos sobre seus comportamentos e histórico escolar.

    Sou professora em pré-vestibular comunitário na Baixada Fluminense e licencianda em Ciências Sociais. Também percebo que os alunos ainda acreditam numa determinação biológica que justifica suas dificuldades em aprender determinado conteúdo. Gostaria de orientações sobre que textos, atividades, posso propor para os alunos lerem e problematizarem essa ideia de inteligência inata que, geralmente, os fazem não investirem em tirar dúvidas e refletirem sobre o que é ensinado?
    Cordialmente,
    Bruna Navarone Santos

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    1. Cara Bruna, tudo bem?
      Esse tipo de construção sócio-cultural é extremamente danosa para a escola, inserindo os alunos em determinismos biológicos que esmagam os seus potenciais criativos. Infelizmente, existem teorias nesse sentido...
      Queria dar uma outra sugestão: leia "O mestre ignorante", de Jacques Ranciere. Ele conta como um professor conseguiu que seus alunos aprendessem sozinhos, tão bem quanto quaisquer outros, através de suas próprias iniciativas. É uma experiência viva e real sobre educação, que, penso eu, pode redimensionar essas questões. No mais, sugiro também, e sempre, a leitura de Confúcio e seus textos sobre educação - ok, são da antiguidade, mas ele já defendia que todos podem alcançar um mesmo nível de acordo com o seu esforço. A questão é: o que cada um quer alcançar?
      saudações!
      André Bueno

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  3. Caro professor André Bueno, eu o saúdo e parabenizo pelo seu trabalho. O texto que o senhor apresentou me fez refletir sobre uma orientação pedagógica recente para que os pais não elogiem seu filhos quanto a sua inteligência, mas sim foquem no esforço e na satisfação própria das crianças com o fruto dos seus próprios trabalhos. Isso é indubitavelmente uma perspectiva muito mais interessante que incentiva a dedicação e até mesmo a busca de uma satisfação própria, interior, não voltada para o desejo de agradar ou impressionar o outro. Quando o senhor coloca a questão da "facilitação" e suas consequências danosas entre os chineses, me faz refletir sobre a "facilitação" à brasileira que está disseminada em nossa cultura e que se agrava com as redes sociais aonde o "parecer ser" e o desejo de se mostrar para o outro tem sido cada vez mais presentes. Nesses tempos de forte "parecer ser" e de imensa superficialidade como poderemos enquanto pais e educadores incentivar estudos profundos, substanciais, tanto em termos de auto-conhecimento quanto de conhecimento de mundo? Bárbara Carolina Medeiros de Tompa

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    1. Oi Bárbara,
      agradecido pelo questionamento!
      Penso que, apesar de empregar autores antigos da China, a questão do princípio e da metodologia se desenvolveram em um mesmo sentido: como construir pessoas autônomas e pensantes? Metodologias novas recriam essa ideia, independente das questões ideológicas. o Design thinking, por exemplo, envolve os alunos na construção de conhecimento e na produção de saberes, incorporando suas experiências e gostos. Os chineses, por seu turno, usam a tradicional rotina de estudos, mas diversificando-a; colocam os filhos para estudar as disciplinas escolares e, se possível, numa atividade física e numa artística [com ênfase em música].
      No caso do Brasil, isso implicará numa mudança profunda de mentalidade, que deveria começar pelos pais... Mas, na impossibilidade disso, atuemos na construção de uma nova geração. No mais, o campo da história precisa renovar-se também. As aulas estão péssimas, e pouco motivadoras. Os profissionais estão desatualizados e pouco inclinados a mudanças inovadoras. Isso está falindo o campo da história nos corações d@s alun@s! Por isso, precisamos mesmo estudar! =)
      saudações!
      André Bueno

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  4. Professor, este texto me fez refletir sobre certos operadores do Direito em nossa sociedade que ocupam nossos tribunais e promotorias. Conseguiram passar em concursos por que "estudarem sem refletir" e se prepararam desde cedo. E quando são confrontados para agir com pensamento crítico, com originalidade, com alguma reflexão sobre a realidade, quase sempre o resultado é desastroso. Poucos dias atrás ouvi um bacharel reclamando que na graduação teve algumas disciplinas "chatas" como Filosofia do Direito. A China, pelo que parece, conhece esse problema, enquanto aqui no Brasil ainda estamos longe de se quer alcançar o diagnostico.
    Esse caso do Direito foi apenas um exemplo de como tratamos a capacidade de decorar textos (e suas devidas interpretações consolidadas), elaborar planilhas, executar planos de ação, etc, como verdadeiro conhecimento. Estou exagerando ao acreditar que este cenário está intimamente ligado a atual caça aos professores que lutam por serem educadores e não apenas instrutores e a super valorização do auto-didata?

    Rodrigo de Souza Costa

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    1. Caro Rodrigo,
      obrigado pela pergunta!
      Estou inclinado a acreditar, inclusive, que muitos professores das mais diversas áreas, aqui no Brasil, têm atuado simplesmente como transmissores de conteúdo. Isso tem tornado o ensino maçante. A questão é que o ensino na China atual, por exemplo, privilegia também uma fixação de dados e informações. O problema é o que faremos com tudo isso, e se poderemos investir naquilo que gostamos.
      Nesse caso, entra toda a carga preconceituosa que existe contra o professor no Brasil. Na China, professores são adorados. Isso é fato. Aqui, há esse conflito entre valorizar x detestar [pq no final das contas, mesmo nos cursos de humanas, quando o professor se vê obrigado a reprovar alguém... também passa a ser detestado].
      Resumindo: penso que a caça aos professores é resultado dessa cultura de ignorância, que não dá muita importância ao estudo. Como diz nosso infeliz provérbio: "não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe". MAS, é na atitude do indivíduo que se dá o exemplo; e ainda acredito que a própria educação é o melhor meio de resolver esses problemas, e auxiliar as pessoas a se descobrirem e serem o que elas querem. =)
      saudações!
      André Bueno

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  5. Profº André

    que satisfação participar deste evento e poder ler este trabalho. Dois pontos me despertou o alerta com a leitura: a) o saber Chinês, algo que não estamos habituados por conta do eurocentrismo que nos molda historicamente; b) e a situação atual do Brasil. Como nossa nação não valoriza os estudos, o saber sistematizado e seus professores. Como, em consequência disso estamos sendo governados por despreparados e lacaicos. Assim, a questão que me vem a mente, pautada no tempo que estamos perdendo, é como romper e estabelecer uma nova lógica de valorização e adesão aos estudos, a leitura, lembrando que ainda temos as redes sociais que contribuem neste processo de manutenção da ignorância social?

    Obrigada pela partilha.

    Simone Aparecida Quiezi

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    1. Cara Simone,
      obrigado por sua indagação!
      Penso que nossos jovens leem, e todos esse mundo de redes sociais e recursos digitais atrai sua atenção. Entendo que a questão é: como empregar esses recursos a nosso favor? Nossos educadores não estão acompanhando, no geral, a evolução dos meios eletrônicos e das redes, ou o fazem de forma tímida.
      Temos de fato um público jovem complicado, e atualmente, como um elemento novo: eles tem mais acesso e mais interação com os meios e as fontes atuais de informação do que aqueles que, muitas das vezes, estão lecionando para eles.
      Se posso apontar algo nesse sentido - e me valendo, novamente, de uma sabedoria antiga, mas não de um instrumento superado - se trata fundamentalmente de estimular os estudantes a produzir conhecimento, a agiram de forma ativa, a conduzir, sem impor, deixando que eles busquem e se expressem pelos mais diversos meios. Há uma infinidade de recursos pedagógicos que podemos utilizar, e nisso, o interesse pelos estudos acompanha o das atividades e propostas.
      eu que agradeço! =)
      André Bueno

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  6. Caro professor Dr. Andre Bueno

    Parabenizo pelo texto, que nos permite meditar sobre uma orientação educacional da qual ela pode ser observada desde o educação dos pais e até o que é ministrado em sala de aula.
    Pois temos que mostrar ao educando que quanto mais estuda mais conhecimento e adquirido.

    Cristina Maria Pereira Martins Pina

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