MÚSICA EM SALA DE AULA: ALGUMAS POSSIBILIDADES DO USO DE
RAPS NACIONAIS PARA TRABALHAR A CONSCIÊNCIA NEGRA NAS ESCOLAS
A
partir de discussões da utilização de músicas em sala de aula, esse trabalho
discorre sobre o uso de raps nacionais para trabalhar a consciência negra,
sobretudo, nas aulas de História do Ensino Médio.
Ao
20 de novembro de cada ano é dedicado o Dia da Consciência Negra e o Dia nacional
de Zumbi. Essa data histórica foi instituída pela LEI Nº 12.519, DE 10 DE NOVEMBRO DE 2011.Um
dos principais fatores para que esse dia fosse definido no calendário é o de que,
nessa data, pode-se trabalhar sobre as diversas faces das lutas da população
negra em torno da igualdade racial no Brasil. Embora seja uma data definida por
lei, são poucas as localidades que a definem como sendo de fato um feriado.
Deve-se levar em consideração que o Brasil é um país de dimensões continentais,
e que cada localidade tem a sua especificidade, ou até mesmo prioridade. Nesse
sentido, alguns pesquisadores defendem que o feriado deveria ser nacional,
assim como o de Tiradentes, por exemplo.
A
utilização da música em sala de aula, principalmente no ensino de História,
pode ser uma metodologia que permite o estudante ter uma visão mais geral de determinado
tema; ou ainda que ele possa desenvolver um gosto maior pelo tema estudado, uma
vez que, na atualidade, o método tradicional de ensino, que utiliza giz e lousa
e que perdura por muito tempo, está cada vez mais defasado frente ao uso da
tecnologia em sala de aula. Dessa forma, a utilização de vídeos, músicas e,
principalmente, a utilização da internet, vem gradativamente ganhando espaço
nas escolas.
Essa
implementação de tecnologias no ambiente escolar torna necessário que, além de
repassar conteúdo, o professor seja um mediador entre o estudante e a
informação, separando, assim, as mídias que devem ser utilizadas para se
trabalhar os fatos históricos. Diante disso,
“O rap nos proporciona esse novo
olhar para a complexidade que existe nas relações raciais no Brasil, que
transmitem toda uma vivência de exclusão, pertencimento e luta por justiça
social e racial. Ao fazer uso dessa temática de maneira interdisciplinar
poderemos, através da arte, cultura, discussão e consequente interpretação, construir
espaços dialógicos, emancipatórios e verdadeiramente democráticos no seio
escolar” (MIZAEL, 2012, p. 5).
Existem diversos cantores(as) e grupos brasileiros
de raps que trabalham a questão da consciência negra em suas letras. Sendo
algumas sugestões:
D.M.N: 4.P (1993).
Emicida Part. Drik Barbosa,Rico Dalasam, Amiri, Raphão Alaafin, Muzzike, Rafael Tudesco:Mandume (2015).
Emicida Part. Karol Conká: Todos os olhos em nóiz (2018).
Emicida:Amoras (2015), Avuá (2017); dentre outras.
Gabriel O Pensador: Racismo é burrice (2003).
Lady Rap: Mulheres pretas (1993 ).
Mv Bill: Contraste social (1999), Só Deus pode me julgar (2002); dentre outras.
Negra Li Part. Rael:Raízes (2018).
Posse Mente Zulu: Sou negrão (2004).
Racionais MC’S: Voz ativa (1992), Negro drama (2002); dentre outras.
Rappin Hood: Eu tenho um sonho (2005), dentre outras.
Ressalta-se
também que, para a utilização de músicas em sala de aula, é necessário fazer uma
breve introdução sobre o(a) artista trabalhado(a), o contexto que é retratado
na música e qual o ano de sua produção. Nesse sentido, “(...) é fundamental a articulação
entre ‘texto’ e ‘contexto’ para que a análise não se veja reduzida, reduzindo a
própria importância do objeto analisado” (NAPOLITANO, 2002, p. 53).
O
exemplo nessa comunicação será a análise de um clássico do rap nacional,
intitulada “Voz ativa”. A música, de
composição de Edi Rock e Mano Brown,foi gravada pelo grupo Racionais MC’s.
O
grupo Racionais MC' s foi formado em 1988 por quatro rappers da cidade de São
Paulo;Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e o DJ KL Jay. Em
relação ao grupo, tem-se que
“Nos
anos 1980, eles frequentam bailes de música negra e KL Jay chama atenção pelo
talento como dançarino de break. Edi Rock começa a cantar rap e abre shows para
artistas como Thaíde & DJ Hum e MC Jack. KL Jay começa a acompanhá-lo como
DJ. Os quatro frequentam o Largo de São Bento, reduto paulistano da cultura
hip-hop nos anos 1980. O produtor cultural Milton Salles é quem promove a fusão
das duplas no grupo Racionais MC’s e, em 1988, passa a empresariá-lo” (Fonte: Site Itaú cultural).
Ainda
em 1988
“(...)
foi lançada a primeira coletânea de rap brasileira, ‘Hip-Hop Cultura de Rua’,
produzida por Nasi e André Jung, que contava com participação da dupla Thaíde
& DJ Hum. Uma semana depois foi lançado o LP ‘Consciência Black, Vol. I.’,
apresentando pela primeira vez o grupo Racionais MC's ao Brasil” (ROSA, 2017,
p. 14).
A
canção analisada aqui nesta comunicação está presente no segundo disco do
grupo, disco este lançado em 1992, com o título “Sobrevivendo no inferno”. A
letra da música “Voz ativa” vem a seguir:
Voz Ativa
Composição: Edy Rock / Mano Brown
Racionais MC's
“Eu tenho algo a dizer
E explicar pra você
Mas não garanto porém
Que engraçado eu serei
dessa vez
Para os manos daqui!
Para os manos de lá!
Se você se considera um
negro
Um negro será MANO !!!
Sei que problemas você
tem demais
E nem na rua não te
deixam na sua
Entre madames fodidas e
os racistas fardados
De cérebro atrofiado não
te deixam em paz
Todos eles com medo
generalizam demais
Dizem que os negros são
todos iguais
Você concorda...
Se acomoda então, não se
incomoda em ver
Mesmo sabendo que é foda
Prefere não se envolver
Finge não ser você
E eu pergunto por que ?
Você prefere que o outro
vá se foder.
Não quero ser o Mandela
Apenas dar um exemplo
Não sei se você me
entende
Mas eu lamento que,
Irmãos convivam com isso
naturalmente
Não proponho ódio, porém
Acho incrível que o
nosso compromisso
Já esteja nesse nível
Mas Racionais,
diferentes nunca iguais
Afrodinamicamente
mantendo nossa honra viva
Sabedoria de rua
O RAP mais expressiva(E
ai...)
A juventude negra agora
tem a voz ativa (Pode crer)
Você gosta, gosta,
gosta, gosta de Nós (Hum...)
Somos Nós, Nós, Nós, Nós
mesmos (Hum...)
Você gosta, gosta,
(Scracthes..), gosta de Nós
Somos Nós, Nós, Nós, Nós
mesmos (Hum...)
Você gosta, gosta,
(Scracthes..), gosta de Nós
Somos Nós,
(Scracthes..), Nós mesmos (Hum...)
Você gosta de Nós
Somos Nós,
(Scracthes..), Nós mesmos
Precisamos de um líder
de crédito popular
Como Malcom X em outros
tempos foi na América
Que seja negro até os
ossos, um dos nossos
E reconstrua nosso
orgulho que foi feito em destroços
Nossos irmãos estão
desnorteados
Entre o prazer e o
dinheiro desorientados
Briganbo por quase nada
Migalhas coisas banais
Prestigiando a mentira
As falas desinformado
demais
Chega de festejar a
desvantagem
E permitir que desgatem
a nossa imagem
Descendente negro atual
meu nome é Brown
Não sou complexado e tal
Apenas Racional
É a verdade mais pura
Postura definitiva
A juventude negra
Agora tem voz ativa
Você gosta,
(Scracthes..), gosta, gosta de Nós (Hum...)
Somos Nós, Nós, Nós, Nós
mesmos (Hum...)
Você gosta,
(Scracthes..), gosta de Nós
Somos Nós,
(Scracthes..), Nós mesmos (Hum...)
Você gosta,
(Scracthes..), gosta de Nós
Somos Nós,
(Scracthes..), Nós mesmos (Hum...)
Você gosta de Nós
Somos Nós,
(Scracthes..), Nós mesmos
Mais da metade do país é
negra e se esquece
Que tem acesso apenas ao
resto que ele oferece
Tão pouco para tanta
gente
Tanta gente
Tanta gente na mão de
tão pouco
Pode crer
Geração iludida uma
massa falida
De informações
distorcidas
subtraídas da televisão
Fodidos estão sem nenhum
propósito
Diariamente assinando o
seu atestado de óbito
Pô to cansado de toda
essa merda que eles mostram na televisão
Todo dia mano...não
aguento mais é foda mano...
Mas onde estão
Meus semelhantes na TV
Nossos irmãos
Artistas negros de
atitude e expressão
Você se põe a perguntar
por que
Eu não sou racista
Mas meu ponto de vista é
que
Esse é o Brasil que eles
querem que exista
Evoluído e bonito, mas
sem negro no destaque
Eles te mostram um país
que não existe
Esconde nossa raiz
Milhões de negros assistem
Engraçado que de nós
eles precisam
Nosso dinheiro eles
nunca descriminam
Minha pergunta aqui fica
Desses artistas tão
famosos
Qual você se identifica?
Então, Lecy Brandão,
Moisés da Rocha,
Thaíde e Dj Hum, Ivo
Meireles, Moleques de Rua e tal
E da Zona leste de São
Paulo Grupo DMN.
Pode crer é isso ai.
Nossos irmãos estão
desnorteados
Entre o prazer e o
dinheiro desorientados
Mulheres assumem a sua
exploração
Usando o termo mulata
como profissão
É mal...
(Chegou o Carnaval,
Chegou o Carnaval)
Modelos brancas no
destaque
As negras onde
estão...Ham
Desfilam no chão em
segundo plano
Pouco original mais
comercial a cada ano
O carnaval era a festa
do povo
Era...mas alguns negros
se venderam de novo
Brancos em cima negros
em baixo
Ainda é normal, natural
400 anos depois, 1992
tudo igual
Bem vindos ao Brasil
colonial e tal
Precisamos de nós mesmos
essa é a questão
DMN meus irmãos
descrevem com perfeição então
Gostarmos de nós
brigarmos por nós
Acreditarmos mais em nós
Independente do que os
outros façam
Tenho orgulho de mim, um
rapper em ação
Nós somos negros sim de
sangue e coração
Mano IceBlue me diz
Justiça é o que nos
motiva a minha a sua
A nossa voz ativa
(Scracthes..)
Racionais
(Scracthes..)
Racionais
(Scracthes..)
Racionais
Ra, Ra, Racio, Ra, Ra,
(Scracthes..), Ra, Ra, (Scracthes..), Ra,(Scracthes..), Ra, (Scracthes..), Ra,
Racionais”.
Fonte:Site
Letras. Disponível
em:<https://www.letras.mus.br/racionais-mcs/63445/>. Acesso em: 1 jan. 2019.
Quando
se analisa a letra fica claro que é um rap que fala sobr eas ruas, sobre a
realidade da população negra brasileira, principalmente a de baixa renda.
Gravada no ano de 1992, ela traz um estilo de rap que estava em plena ascensão
no mundo, que utilizava o dia a dia como inspiração para produção das letras. Aqui
no Brasil o próprio Racionais MC’s se tornou o principal grupo desse período, mas
em outros diversos lugares já haviam surgido artistas que utilizavam a periferia
como recorte espacial, Tupac Shakur (1971-1996), nos Estados Unidos, talvez
seja o maior exemplo. Essas letras voltadas para o cotidiano podem ser
entendidas como
“[...]
um conjunto disperso de práticas, representações e formas de consciência que
possuem lógica própria (o jogo interno do conformismo, do inconformismo e da
resistência) distinguindo-se da cultura dominante exatamente por essa lógica de
práticas, representações e formas de consciência” (CHAUÍ, 1994, p. 25).
Desse
modo, percebe-se que, na letra de “Voz
ativa”, são citadas várias personalidades negras que exerceram ou ainda
exercem papel de liderança. Na música é trabalhado a necessidade de se dar
maior voz aos cidadãos negros, principalmente na mídia, que tem um papel fundamental
na luta pela igualdade. Por meio dessa análise também é possível desenvolver
pesquisas no que tangemaos movimentos negros no país, ressaltando o período em
que a canção foi gravada, do ano de 1992 aos dias atuais, pesquisando sobre os
possíveis avanços das lutas desses movimentos.
Tem-se,
portanto, a conclusão de que o rap nacional se apresenta como uma ferramenta
que torna possível desenvolver aulas que levem os estudantes a refletirem sobre
a temática da consciência negra. Ademais, é papel fundamental da educação
brasileira promover crescentemente a igualdade na sociedade, eliminando as
práticas racistas que muitas vezes persistem no ambiente escolar. Ao apresentar
e debater a consciência negra utilizando métodos mais envolventes e inovadores,
a escola ajuda na promoção de cidadãos mais críticos e atuantes em prol de uma
sociedade mais justa e igualitária.
REFERÊNCIAS:
Edivaldo
Rafael de Souza é Graduado em História pelo Centro Universitário de Patos de
Minas – UNIPAM; pós-graduado em Metodologia do Ensino de Sociologia pelo
Instituto Superior de Educação Ateneu - ISEAT; atualmente cursa pós-graduação
em Biblioteconomia pela Faculdade Venda Nova do Imigrante – FAVENI. É também
professor regente de aulas de História da rede estadual de ensino do Estado de
Minas Gerais.
E-mail:
edivaldorafael007@gmail.com
CHAUÍ,
Marilena. Conformismo e resistência:
aspectos da cultura popular no Brasil. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
MIZAEL,
Náiade Cristina de Oliveira; et al. Rap
no espaço escolar: redescobrindo identidades. Anais do III Congresso
Internacional de História da UFG/ Jataí: História e Diversidade Cultural, p.
1-7. Universidade Federal de Goiás, 2012.
NAPOLITANO,
Marcos. História & música: história
cultural da música popular. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2002.
PERCILIANO,
Michele. No ritmo e na poesia: o rap
e o hip-hop como estratégia didática para o ensino de História da áfrica e
cultura afro-brasileira. Anais do VIII Congresso Internacional de História, p.
1341-1348. Universidade Estadual de Maringá, 2017.
ROSA,
Vitor Hugo de Araújo. Patos de rimas:
o rap em Patos de Minas. 2017. 23p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
em História), Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM), Patos de
Minas-MG, 2017.
Site Letras. Disponível em:<https://www.letras.mus.br/racionais-mcs/63445/>. Acesso em: 1 jan.
2019.
Site Itaú Cultural.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo636012/racionais-mcs.
Acesso em 1 jan. 2019.
LEI Nº 12.519, DE 10 DE NOVEMBRO DE 2011. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12519.htm>. Acesso em: 1 jan. 2019.
Muito legal a sua proposta! Penso que é fundamental trabalhar a consciência negra nas escolas, porém, isso deve ser feito ao longo do ano e não somente na data de 20 de novembro. Visto que a letra da música aborda algumas palavras de uso cotidiano e informal, para qual nível de ensino essa proposta foi pensada? Além do rap, que outros tipos de manifestações poderiam ser ligados ao tema de conscientização negra?
ResponderExcluirAtenciosamente, Fabiana Wentz.
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ExcluirObrigado pela leitura. Exatamente esse tema deve ser debatido durante todo o ano letivo. Principalmente, ao trabalharmos os eixos temáticos que norteiam o conteúdo de História. Nesse sentido, o objetivo desse texto é trazer a possibilidade de se trabalhar com letras de rap no Ensino Médio. Pois, como você disse as letras utilizam muitas das vezes linguagem informal. Todavia, são muito importantes, abordando principalmente a questão racial no Brasil. Em relação ao uso de outras manifestações artísticas para se trabalhar a Consciência Negra, acredito que podem ser utilizadas diversas formas e fontes sobre esse tema, dentre elas ressalto a música, a dança, o cinema, os jornais, a poesia, o esporte, enfim. Aqui na escola em que eu trabalho o projeto têm a participação de todas as pessoas que trabalham na escola. Espero ter respondido a sua pergunta. Novamente, obrigado pela participação. Ademais, estou a disposição.
ExcluirAtenciosamente, Edivaldo Rafael de Souza.
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ResponderExcluirOi, Edivaldo!
ResponderExcluirParabéns pelo texto! Também uso bastante rap nas aulas do pré-vestibular e a pegada da música aliada à potência das letras jogam a compreensão de determinados temas para outros lugares, diferentes daqueles possíveis de ocupar apenas com a leitura de textos didáticos ou acadêmicos. Arte, né?! Afeta de modos outros...
Eu só senti muita falta de conhecer mais dos vestígios desse uso junto aos estudantes. Você diz, na abertura do texto, que discorrerá sobre o uso dos raps para trabalhar a questão da consciência negra nas aulas do EM, mas não nos apresenta nenhuma leitura de como esse trabalho efetivamente alcançou os estudantes. O que eles construíram a partir dessas músicas de indagação da realidade? Que conexões fizeram entre a letra e o tema abordado na aula? Que compreensões transcenderam os teus objetivos enquanto professor, trazendo outras questões para o debate? Enfim, como a experiência foi vivida por você e por seus estudantes? Eu, como leitora, confesso que fiquei super curiosa, com gostinho de "quero saber mais" mesmo! Talvez seja uma boa pista para um próximo artigo: traga seus estudantes para falar sobre essa metodologia.
Abraços,
Caroline Trapp de Queiroz.
Obrigado pela pergunta Caroline.
ExcluirO projeto da escola se chama "Consciência Humana". Através disso, as (os) professoras (es) da escola trabalham diferentes questões sobre variados temas. Nas aulas de História além do rap, trabalhei com textos complementares, e o uso de apresentações de trabalho sobre o preconceito em geral. Houve também a participação de outros professores e da equipe de orientação pedagógica, que promoveram peças, palestras e apresentações artísticas. Mas em relação as letras das músicas, foi possível a abertura de uma série de discussões; alguns exemplos: um pouco do movimento do hip hop no Brasil, estudo e identificação de lideranças de movimentos, a desigualdades social, dados do censo 2010 - IBGE, formas de linguagem, o Brasil escravocrata, etc. Nesse sentido, o principal objetivo da música em sala de aula pode ser o de abrir novas oportunidades de pesquisas e debates em torno de diferentes temas. Eu gostei muito do projeto em geral, visto que havia começado a dar aulas havia menos de dois meses. Espero ter respondido a sua pergunta. Ademais, agradeço as suas sugestões.
Atenciosamente, Edivaldo Rafael de Souza.
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ResponderExcluirParabéns pelo trabalho, prof. Edivaldo! O seguinte trecho me chamou atenção: "(...) Essa implementação de tecnologias no ambiente escolar torna necessário que, além de repassar conteúdo, o professor seja um mediador entre o estudante e a informação, separando, assim, as mídias que devem ser utilizadas para se trabalhar os fatos históricos (...)". Me parece essencial incorporar as tecnologias em sala e fornecer ferramentas para os alunos lidarem com todas as informações proporcionadas, especialmente no atual contexto de difusão/consumo de fake news. E a contextualização, conforme você pontuou, é importante.
ResponderExcluirLendo a letra da música me atentei para alguns trechos que vão para além da denúncia do racismo e trabalham a questão da dupla opressão vivida por mulheres negras: "Mulheres assumem a sua exploração
Usando o termo mulata como profissão
É mal..." e "Modelos brancas no destaque
As negras onde estão...Ham
Desfilam no chão em segundo plano
Pouco original mais comercial a cada ano" Você acredita que seria válido explorar esse ponto também?
Por último, uma sugestão para complementar sua lista de sugestões de rappers - Preta Rara, rapper e professora de história. Ela tem uma websérie chamada "Nossa voz ecoa" no Youtube, que tem um episódio sobre hip-hop e pode também ser usado como material em sala de aula!
Adelle Jeanne Santos Sant'Anna
Obrigado pela leitura Adelle.
ExcluirEm relação a sua pergunta, primeiramente toda vez que eu retrato sobre a palavra “mulata” em sala de aula eu descrevo a sua utilização no decorrer da história; ressaltando principalmente o significado pejorativo que ela carrega. Já em relação ao restante do trecho que você identificou, acredito que nessa e em outras letras é possível trabalhar a questão das mulheres. Levando em consideração que há também importantes cantoras brasileiras nessa cena, por exemplo: Drik Barbosa, Stefanie, Flora Matos, dentre outras. Além disso, acredito que é papel do historiador sempre retratar em suas aulas o importante papel das mulheres ao longo dos fatos históricos. Bem como a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Visto que, o que vemos hoje, principalmente no Brasil, é alarmante. Além disso, você bem citou a questão da dupla opressão vivida por mulheres negras no país. A partir daí, é essencial também que a escola seja um local de empoderamento das estudantes, a fim de que adquiram realmente uma consciência histórica e sempre lute pelos seus direitos. Para isso, além de conhecimento sobre as leis e as políticas afirmativas, é necessário também debates que possam envolver todo o ambiente escolar. Desde já, agradeço a indicação do canal, de maneira que, não o conhecia. Pelo que descreveu é muito bom também para se trabalhar em salas de aula, com certeza vou acessar. Obrigado.
Atenciosamente, Edivaldo Rafael de Souza.
Quando ouvi e conheci o grupo Racionais Mc's pela primeira vez estava no 2º ano do Ensino Médio, em uma aula de filosofia (isso em 2008). Lembro que fiquei bastante impactada com a letra da música "A vida é desafio", justamente por retratar um tipo de realidade que eu conhecia muito bem. Acredito que em escolas públicas, onde a maior parte dos estudantes são de periferias, de baixa renda e negros, a utilização dos rapps como ferramenta de ensino seja extremamente importante para o estímulo do senso crítico, bem como para conscientização político-social. Entretanto, gostaria de saber se é possível que esse tipo de abordagem seja aplicado também em colégios particulares, visto que são constituídos em sua maioria por estudantes que vivem outra realidade e o currículo aplicado muitas vezes sofre interferências dos pais? Se sim, de que maneira isso poderia ser feito?
ResponderExcluirAndreia Geronimo Cunha
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
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ExcluirObrigado pela pergunta Andreia.
ExcluirNessa aula escolhi justamente os Racionais Mc’s por serem figuras mais conhecidas, e também mais ouvidas pela população brasileira em geral, de maneira que já estão a muitos anos fazendo sucesso. Concordo quando retrata sobre a realidade da educação brasileira, principalmente em localidades mais pobres, e em especial no ensino noturno. Pois, o ambiente escolar é envolto a muitas questões sociais que ultrapassam os limites da escola, e estão em toda a sociedade, em todos os locais. Através disso, a aproximação de uma linguagem mais simples e próxima realmente pode ser essencial as relações de ensino e aprendizagem entre professores (as) e estudantes. Correlacionado a sua pergunta, realmente em boa parte dos colégios particulares, a muita vigilância em torno daquilo que está sendo trabalhado em sala de aula. Acredito ser papel do (a) professor (a) elaborar um projeto e explicar a importância da utilização desses materiais em sala de aula. É importante ressaltar também que felizmente algumas produções estão ganhando cada vez mais espaço no ambiente acadêmico, olha só um exemplo: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/racionais-mcs-comemoram-sobrevivendo-no-inferno-no-vestibular-da-unicamp-periferia-ocupando-a-academia.ghtml. Portanto, indubitavelmente, o rap tem muito a contribuir também nesses colégios. Espero ter respondido a sua pergunta.
Abraços, Edivaldo Rafael de Souza.
Parabéns pelo texto, muito interessante essa ideia de usar esses instrumentos e músicas que estão muitas vezes mais próximos dos alunos e da sua realidade, que eles ouvem e tem grande facilidade de acesso, pois mostra que o conhecimento não está pronto no livro didático, e que até mesmo uma letra de música é uma fonte pra se estudar e debater questões cotidianas, principalmente da vida desses alunos, questões que muitas vezes eles mesmos vivenciam mais que são silenciados, ou acaba não sendo refletido, sendo assim, veem que a música, principalmente o rap pode dar a voz que eles precisam como também, que a música os compreende, mostra o que eles sentem, e que para o professor auxilia como instrumento para uma analise de todo um contexto histórico a ser abordado em sala de aula, principalmente para romper com preconceitos como também ampliar a importante discussão sobre a consciência negra. Pensando nisso, você também percebe no dia a dia a falta que faz a representatividade de personagens negros no livro didático? O quão pouco se é falado sobre, e quais estratégias poderiam ser tomadas para que a história e nossos alunos conheçam mais e mais a importância do negro para a formação da nossa sociedade.
ResponderExcluirAtt. Débora do Rocio Pacheco da Silva
Concordo com você Débora. Nos últimos anos houve alguns avanços no que tange ao ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira nas escolas, principalmente após a aprovação da Lei 10.639/03. Contudo, ainda devem ocorrer muitas melhorias nesse sentido, visto que a história européia ainda é muito mais estudada nas escolas do Brasil. Ressalto que são temas e fatos que devem está no currículo, mas acredito que o professor deve ter mais liberdade para se trabalhar sobre a África e sua história. Apesar de não gostar muito de livros que abordam uma história da totalidade, eu acredito que a coleção de 8 volumes sobre a História Geral da África possa ser de grande valia para a utilização em ala de aula, gosto muito do que retrata sobre os séculos XVI ao XVIII. Além disso, sempre utilizo de aulas temáticas para questionar justamente a falta dessas figuras históricas africanas no material didático. Um exemplo foi durante o período anterior ao carnaval desse ano, que trabalhei o samba enredo "História pra ninar gente grande" da escola de samba Mangueira. Acredito que foi muito interessante a abordagem relacionada a letra desse samba. Enfim, são várias as formas para tentar preencher lacunas do material didático. Obrigado por participar dessa comunicação.
ExcluirAtenciosamente, Edivaldo Rafael de Souza.
Edivaldo, parabéns pelo artigo!Acredito que o RAP, como gênero musical, tenha um imenso potencial para disparar reflexões dentro de sala de aula por ser uma música produzida por indivíduos que, na maior parte, vivenciam a realidade da crônica musical que fazem e trazem nela toda sua experiência social. Parabéns. Tenho uma pequena correção a fazer a cerca da música usada como fonte no artigo e uma questão pra apresentar.O música "Voz Ativa" da sua discografia faz parte do EP "Escolha o Seu Caminho" e não do disco "Sobrevivendo no Inferno". E a questão se refere ao uso do Rap de conjuntos mais radicais do ponto de vista político, como o Facção Central em sala de aula. Você acredita que, para além da temática importante da Consciência Negra, o RAP de conjuntos como o Facção Central, possam ser usados para discussões sobre a consciência e a luta de classes, por exemplo?
ResponderExcluirFrander de Oliveira Pires
Primeiramente Frander, obrigado pela leitura. Quero agradecer também por identificar esse importante trecho que escrevi incorretamente. Creio que na hora estava pensando tanto no disco de maior sucesso do grupo que me confundi. Posteriormente, acredito que o rap assim como outros estilos musicais deve ser visto como essencial para se trabalhar em aulas de História, Sociologia, etc. Porém, o público alvo geralmente é jovens menores de idade; dessa forma, é preciso uma análise se as letras podem ou não ser utilizadas, isso passa em minha opinião não só pelo professor, mas também pela equipe pedagógica das escolas. Através disso, as letras do grupo que você discorre como sendo “mais radical do ponto de vista político”, o Facção Central, na minha percepção têm algumas músicas que eu utilizaria, já em outras não. Ressalto que estou lhe respondendo essa pergunta relacionada a minha opinião enquanto professor. Mas isso não impede de que outras pessoas possam, por exemplo, utilizar todas as letras do grupo supracitado. A questão é muito subjetiva. Ademais, agradeço sua importante contribuição com essa comunicação. Obrigado.
ExcluirAtenciosamente, Edivaldo Rafael de Souza.
Acho muita valida a ideia de colocar o RAP, acho que pode ser levado para diversas discussões sociais, pelo fato de falar com linguagem simples e clara, além de ter o prestigio de parte dos estudantes. Você acha valido a a exposição dos temas que serão abordados em sala de aula com musica de sucesso da época, como inicio de abordagem ao tema, ou musicas que contam ou deixam claro a sociedade estudada?
ResponderExcluirThiago Figueiredo Barros
Em geral a utilização de música em sala de aula pode ser usada tanto para introduzir quanto discutir sobre um tema já apresentado. As duas formas são muito interessantes, creio que isso pode variar de acordo com o tema trabalhado. Fica a critério do professor. A escolha da música também é outro fator, em rápidas pesquisas na internet são encontradas algumas boas pesquisas em torno do uso de músicas no ensino, inclusive de estilos musicais variados.
ExcluirAtenciosamente, Edivaldo Rafael de Souza.