O artigo apresenta um estudo realizado com o
propósito de abordar o processo imigratório dos ucranianos para Prudentópolis/PR,
bem como de elucidar a colonização nesse município. Nesse seguimento, o artigo explana
acerca da inserção do imigrante em terras paranaenses desde fins do século XIX e
as suas dificultosas adaptações no território de florestas da época. Por fim,
ilustra a importância desse contexto de colonização supracitado para a
construção e o desenvolvimento de Prudentópolis, assim como para a preservação
da identidade étnico-cultural dos habitantes descendentes. O estudo apresenta essa
população municipal na contemporaneidade, população que, em cerca de 75%, é composta
por descendentes de ucranianos. Para a efetivação dessa proposta de pesquisa,
foram empregadas fontes teóricas, conceituais e documentais, isso em conjunto
com as informações adquiridas mediante um estudo de campo para a obtenção de
histórias orais. Dessa forma, foram obtidos os subsídios necessários e pertinentes
para a construção do artigo. Como desfecho, foi elaborada uma análise sobre as informações
relevantes para a constituição étnico-cultural da população prudentopolitana e
o desenvolvimento do município.
Introdução
O Brasil apresenta uma identidade cultural
fundamentada em uma miscigenação composta inicialmente pelos autóctones,
posteriormente por lusitanos e, por último, por africanos. Essa mistura entre
as etnias principiou-se em torno de 1530, quando os portugueses desembarcaram
no litoral território com o objetivo de colonizá-lo. Destarte, os brasileiros,
mais precisamente, os nativos, foram concebidos com uma nova identidade.
Evidencia-se então que a imigração, a colonização e a identidade desempenham
uma relação intrínseca, responsável pela construção do país que temos na
contemporaneidade.
Dessa mesma forma se sucedeu em diversas regiões interioranas
do país, onde, a partir da imigração de outros indivíduos, foi concebida uma
nova estrutura a cada localidade. No Paraná, a imigração inicial de europeus portugueses
e espanhóis resultou na formação histórica de um estado de grande extensão
demográfica. Estes indivíduos chegaram aos territórios paranaenses na condição
de colonos visando desenvolver vastas lavouras no interior do estado e
fortalecer as vilas, que, no decorrer de décadas e séculos, viriam a constituir
as futuras cidades.
No caso do território que viria a ser o município
de Prudentópolis, os colonizadores também foram imigrantes europeus, porém a
maior parcela oriunda da Ucrânia e corresponde à maior colônia de imigrantes
ucranianos no estado do Paraná, bem como em todo o Brasil, apresentando uma intensa
tradição que narra a história e a trajetória cultural de uma população que
pelejou com a dominação de outros países e trazia, nos costumes e na cultura, uma
maneira de preservar suas tradições e de esquivar-se da repressão a que tinham
sido historicamente submetidos. Essa cultura atualmente causa grande influência
na rotina das pessoas e na própria cidade.
De acordo com os dados obtidos pelo – Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística − IBGE, no ano de 2010 os descendentes de
ucranianos no Brasil constituíam uma população de cerca de 500 mil habitantes,
dos quais 80% residiam em território paranaense e, conforme supracitado, 75% da
população de Prudentópolis é considerada como de ascendência ucraniana.
A construção de uma reflexão acerca do processo de
colonização do município de Prudentópolis realizada pela imigração dos
ucranianos se faz de suma importância para os historiadores que residem no
estado paranaense. Dessa forma, ponderamos a escolha desta temática como uma
fonte de conhecimento para os habitantes da região, sobretudo para os
descendentes de ucranianos ali residentes e que desempenham uma participação
efetiva e simbólica na constituição e na preservação de uma identidade
étnico-cultural relativa ao seu passado europeu.
Conforme os dados expostos anteriormente, esse
município se estabelece com uma porcentagem relativamente alta de descendentes
ucranianos, assim constituindo a maioria da população. Contemporaneamente, esses
indivíduos vivenciam uma realidade consuetudinária estabilizada. Torna-se
relevante, no entanto, frente a esse cenário, a menção às dificuldades
enfrentadas por seus antepassados na construção de Prudentópolis.
Com o intuito de atrair a atenção da população para
essa temática, o presente artigo propende a incentivar a importância de não
somente preservar as tradições e os costumes, mas também resgatar a história de
um grupo étnico que possibilitou o progresso do município de Prudentópolis.
O principal objetivo desta pesquisa consiste então em
apresentar uma abordagem referente ao processo de imigração e de colonização
ucraniana no município de Prudentópolis/PR. Mediante uma pesquisa do tipo qualitativa
e a obtenção de relatos orais de personagens representativos dessa população,
buscaremos elucidar os motivos para a expatriação do ucraniano, bem como a sua
inserção no território brasileiro, sobretudo na região centro-sul do Paraná.
Ademais, explanaremos acerca da acomodação do imigrante em Prudentópolis,
evidenciando a colonização e a construção desse município. Nessa narrativa vão
salientados, mediante ilustrações, edificações, imagens, iniciativas coletivas
e depoimentos, relativos às formas empregadas para preservar a identidade étnico-cultural
dos descendentes de ucranianos em Prudentópolis.
Imigração
e identidade ucraniana em Prudentópolis: uma dualidade necessária
A cidade de Prudentópolis, localizada no estado do
Paraná, apresentou-se, até o século XIX, como uma região de povoamento escasso,
bem como a quase totalidade do território paranaense. Destarte, ao término desse
século se evidenciavam as chegadas dos primeiros imigrantes, sobretudo aqueles
provenientes da Ucrânia, de que os seus descendentes compreendem, na contemporaneidade,
cerca de 75% da população prudentopolitana. Nesse contexto, faz-se relevante
salientar os fatores que forçaram o processo de emigração de contingentes
populacionais ucranianos. Foram fatores não somente econômicos, mas sociais e
políticos, que desempenharam esse papel de impulsionar uma intensa fuga desses
indivíduos de sua terra natal.
Durante o século XVII, a Ucrânia encontrava-se sob
a dependência da Polônia e, desse modo, a população padecia com as imposições
desse governo. Vivenciando um regime de servidão, os camponeses eram explorados
e oprimidos em distintas esferas, sobretudo na alta cobrança de impostos e na
opressão do culto religioso. A dominação polonesa, no decurso do tempo,
intensificou-se, impondo uma conjuntura de extrema pobreza sobre a população
camponesa. Concomitantemente a esse fator, os governos americanos, de norte a
sul, iniciaram seus investimentos em propagandas visando atrair imigrantes com
a finalidade de povoar os seus países.
Nesse cenário, diante das calamitosas condições
políticas e econômicas instaladas na Ucrânia, com supressão das liberdades
sociais e culturais da população, inúmeros ucranianos decidiram por expatriar-se
como uma forma de reconquistarem os seus direitos e se desvencilharem das dificuldades.
Isto posto e deslumbrados com as propagandas supracitadas, esses indivíduos se
viram forçados a abandonar a sua terra natal em busca de outros países,
sobretudo de países no continente americano, em busca de paz e de liberdade, na
esperança de poderem continuar a praticar a sua religiosidade, de resguardar as
suas tradições e de manter a sua cultura.
Uma grande parcela dos imigrantes ucranianos
instalou-se no Paraná, mais precisamente no território que se tornaria o município
de Prudentópolis. Segundo as considerações do historiador Ruy Christovam Wachowicz
(1988, p. 116), os primeiros ucranianos chegaram ao estado paranaense no início
de 1891, oriundos da Galícia e abrigando-se, ao chegarem, na região de “[...]
Rio Claro, Antônio Olinto, Senador Correia, Cruz Machado, Prudentópolis”. Acerca
desse processo imigratório, a historiadora Oksana Boruszenko ressalva que:
“A
imigração ucraniana no Paraná realizou-se em três etapas distintas. A primeira
data dos fins do século XIX, quando milhares de ucranianos (sobretudo
lavradores da Galícia e da Bukovina, que, desde o Congresso de Viena, estavam
sob o domínio da Áustria, em consequência da superpopulação agrária e débil
industrialização, bem como das más condições socioeconômicas) abandonaram as
terras negras e transferiram-se para outros países, entre os quais o Brasil,
onde se fixaram, especialmente no Estado do Paraná”. (BORUSZENKO, 1995, p. 9).
A fase
pioneira da imigração destacada por Boruszenko remete àquela na qual os
ucranianos se submeteram a uma política oficial de povoamento do governo
nacional e foram instalados em lotes coloniais na região de Prudentópolis. O
doutor em História, Odinei Fabiano Ramos, reitera que:
“Foi no
dia 16 de abril de 1896 que chegaram à região que futuramente se chamaria
Prudentópolis as carroças de Henrique Kremmer trazendo as primeiras famílias de
imigrantes ucranianos, os quais foram encaminhados à região pelo serviço
imigratório do Paraná. Foi então que o diretor das obras públicas e coloniais,
o engenheiro civil Dr. Cândido Ferreira de Abreu, resolveu por denominar a
colônia de imigrantes eslavos de Prudentópolis, em homenagem ao então
presidente da República, Dr. Prudente de Moraes”. (RAMOS, 2012, p. 70-71).
Desse modo, salienta-se que Prudentópolis se
concebe como o município brasileiro que recepcionou a maior parte dos
imigrantes procedentes da Ucrânia. Essa população foi destinada a territórios
inóspitos e obstruídos da região, sendo imprescindível o desbravamento das
matas e a construção de estradas para alcançar as suas novas terras. Há de se
considerar, no entanto, que, mesmo com essas muitas dificuldades iniciais, a
instalação na pátria brasileira possibilitou aos ucranianos a preservação de
sua cultura, bem como a prática religiosa no seu rito bizantino católico.
A segunda fase ocorreu no início do século XX, mais
precisamente após o ano de 1918 ou, consoante a historiadora, “[...] após a
Primeira Guerra Mundial”, destacando-se que “[...] os motivos, desta vez eram,
sobretudo, políticos” (BORUSZENKO, 1995, p. 9). Desse modo e em razão do
fracasso da independência da Ucrânia em 1919, a população ucraniana padeceu com
a forte dominação simultânea da Polônia e da Rússia sobre os seus territórios.
Nessa conjuntura arrevesada, outros indivíduos abandonaram sua pátria natal e
rumaram para países da América, sobretudo para o Brasil, com o objetivo de
encontrar melhores condições de vida. Os imigrantes que adentraram o estado
paranaense nesse ínterim foram encaminhados aos já consolidados lotes
coloniais.
A última etapa da imigração ucraniana ocorreu após
a Segunda Guerra Mundial e, segundo Boruszenko, foi considerada a maior em
número de indivíduos. Registra-se que “[...] eram mais de duzentos mil imigrantes,
entre operários, prisioneiros de guerra, refugiados políticos e soldados da
Primeira Divisão ucraniana e de outras formações militares, que lutaram contra
os russos” (BORUSZENKO, 1985, p. 10). Cabe destacar que, além desses imigrantes
instalados no Brasil, outros também se refugiaram em países como Argentina,
Canadá e Estados Unidos. Evidencia-se, mediante o mapa abaixo, que o processo
imigratório dos ucranianos para o município de Prudentópolis se intensificou
antes mesmo da Segunda Guerra Mundial.
Consoante os dados de
Boruszenko (1969, p. 427), até o ano de 1960 cerca de 150.000 imigrantes
ucranianos se encontravam instalados no Brasil e, desse total, em torno de
120.000 residiam em território paranaense. A respeito do município de
Prudentópolis, não constam dados precisos, no entanto, segundo os números de
Paulo Renato Guérios, em sua obra Imigração Ucraniana ao Paraná (2007,
p. 117), “[...] entre 1896 e março de 1897 cerca de 5.200 ucranianos foram
destinados à Prudentópolis”. Salienta-se, de acordo com as historiadoras Talita
Seniuk e Maria Inêz Antônio Skavronski (2014, p. 86), que. “[...] para os que
desejavam migrar para o Brasil”, este território “[...] era o local que mais se
assemelhava em relação ao clima europeu”.
Destarte, entre os anos
de 1895 e 1896, inúmeros imigrantes chegaram à cidade, designada, na época, de
São João de Capanema, consistindo em uma vila com vastas regiões de matas, que,
ao serem povoadas, originou o município de Prudentópolis. Assim foi fundada,
portanto, a Colônia Ucraniana, local de habitação desses imigrantes que viriam
a colonizar o município. A Colônia Federal Prudentópolis foi ponderada como a
mais ampla, recebendo, em 1895, cerca de 250 famílias de imigrantes oriundas da
região da Galícia e da Bukovina. Ademais, constata-se que esses imigrantes
constituíram em torno de 130 comunidades rurais, comunidades que, por sua vez, formaram
o município de Prudentópolis no ano de 1906.
Ressalta-se, no entanto,
que a instalação dos ucranianos em sua nova pátria foi marcada por intensas
dificuldades, como a laboriosa adaptação, a expansão na taxa de mortalidade por
causa das péssimas condições vida, a ausência de subsídios do governo para
suprir, nos tempos iniciais, as condições básicas de sobrevivência. Tudo isso somado
ao desconhecimento acerca da terra e do idioma resultou no anseio de muitos desses
imigrantes em regressar ao seu país de origem. De acordo com o relato da
descendente de ucranianos e gerente do Departamento de Cultura de
Prudentópolis, Nádia Morskei (2017), os imigrantes pioneiros habitavam em
pequenos “barracos”. Ademais, não dispunham de alimentos básicos, tampouco de
ferramentas para trabalharem com a agricultura, prática que desempenhavam em
sua nação de origem. A entrevistada expõe, porém, que, mediante a “força de
vontade”, esses indivíduos adquiriram seus empregos e, com isso, foram obtendo
melhorias em suas vidas.
Dada essa conjuntura
supracitada, os ucranianos permaneceram nas terras ilusórias, ponderando sobre
a falsidade das propagandas governamentais que concebiam o Brasil como um
território de solo fértil e favorável aos imigrantes, porém livres para prática
da sua religiosidade, prática era reprimida na Ucrânia. As informações de
Meroslawa Krevei (2017), responsável pelo Museu do Milênio em Prudentópolis,
elucidam a fé desses indivíduos. Desse modo, a entrevistada relata que “[...] o
desânimo, as doenças e a saudade rodeavam o imigrante ucraniano”, no entanto, “[...]
a igreja que segurou o imigrante no Brasil, sempre presente em tudo”. Ademais,
Krevei reitera que “[...] a força condutora do povo ucraniano é a igreja”. O
Museu do Milênio foi inaugurado em Prudentópolis quando houve a solenidade do
centenário da imigração ucraniana no município em 11 de agosto de 1995. Em seu
interior consta um acervo de livros, arquivos e fotografias, rememorando as
tradições e a cultura da comunidade ucraniana brasileira de Prudentópolis
Mediante a abolição da
escravidão no Brasil em 1888, os proprietários de terras e de indústrias avaliaram
os imigrantes ucranianos como um possível recurso para a escassa mão de obra
que se instalava no país e, a partir disso, foi possibilitado o ingresso desses
indivíduos no mercado de trabalho. Dessa forma, esses imigrantes recebiam seus
salários, adquiriam terras para construir suas moradias e reconstruíam suas
vidas na nova pátria. Krevei (2017) segue narrando a inserção dos ucranianos no
Brasil, explanando que “[...] fizeram dele um país querido, mantendo aqui
alguns aspectos de sua cultura de origem”.
As comunidades
instituídas pelos descendentes ucranianos foram, paulatinamente, concebendo um
aspecto de cidade aos territórios habitados, e isso foi conquistado por meio da
construção de estradas e de ferrovias, do progresso no comércio, bem como da fundação
de centros de saúde, de estabelecimentos educacionais e de templos religiosos.
Evidenciam-se, na
sequência deste estudo, as considerações supracitadas de que a religiosidade e
a força de vontade dos imigrantes ucranianos foram os principais fatores responsáveis
pela permanência desses indivíduos em Prudentópolis e, sobretudo, responsáveis
por uma adequada colonização do município, reconhecido na contemporaneidade como
a “pequena Ucrânia no Brasil” – o que, efetivamente, é uma justa designação, considerando
a formação de uma identidade étnico-cultural marcante e única. Esse fator se tornou
de suma importância para o intenso desenvolvimento da cidade e do município
todo, tanto no setor econômico, quanto no cultural, atraindo milhares de
turistas para Prudentópolis, incentivados a comparecer para conhecer,
compreender e admirar as tradições ucranianas que foram trazidas para o nosso país
e aqui mantidas na medida do possível.
Para o teórico cultural
Stuart Hall (2002), as nações modernas dispõem de uma fusão de grupos étnicos
diferentes. Esse é o caso do Brasil, caracterizado por sua miscigenação inicial
de povos no período colonial, ou seja, pela mistura inicial de três povos com
peculiaridades dessemelhantes – mesmo dentro de cada povo desses −, sendo eles
os índios nativos, os portugueses colonizadores e os africanos escravizados. A
imigração ucraniana em Prudentópolis possibilitou, diferentemente da
miscigenação tradicional do Brasil e do Paraná, uma outra identidade étnica aos
antigos habitantes do município, que se integraram aos imigrantes ucranianos
estabelecidos então como maioria e que implantaram as suas tradições culturais
e religiosas, que foram sendo reafirmadas constantemente pelas práticas da
população descendente, assim motivando e moldando um original sentimento de
pertença em território brasileiro paranaense.
Faz-se relevante
destacar, nesse cenário, as contribuições dessa nova identidade étnico-cultural
para a cidade e região, como a arquitetura impressa nos templos religiosos, o
emprego da língua ucraniana nos eventos − especialmente nos das igrejas −, a
gastronomia referenciando os ucranianos, o artesanato − sobretudo o bordado
desempenhado com desenhos e figuras geométricas que remetem à religiosidade −,
as festividades folclóricas e os rituais pascais.
A forte religiosidade
dos ucranianos possibilitou uma expansão cultural no município, sendo motivo de
atração aos visitantes oriundos de diversas regiões do país. Os costumes e as
tradições desses imigrantes foram resguardados por seus descendentes, sendo
praticados ainda na contemporaneidade. Nota-se, na Igreja Matriz de São Josafat,
que as missas são celebradas na língua ucraniana e, ademais, a edificação e a
decoração desse ambiente simbolizam um caráter alusivo à Ucrânia.
As práticas
desempenhadas por esses descendentes de ucranianos − sejam as vivenciadas no
cotidiano, sejam as programadas no calendário anual − buscam uma afirmação
identitária no presente a partir daquela que foi reconstruída por seus
antepassados pioneiros nos primeiros contatos com a cultura dos brasileiros.
Segundo as considerações de Hall (2002), ocorreu um hibridismo cultural, isto
é, um complexo de culturas diferentes, tal como ocorreu em Prudentópolis a
partir dos fins do século XIX, quando da chegada dos primeiros ucranianos ao
município. Daquele episódio histórico em diante foi surgindo a reconstrução de
uma identidade homogênea, ou seja, o misto entre a cultura brasileira e a
ucraniana, misto do qual resultou a formação de uma identidade prudentopolitana.
Esse processo de reconstrução da identidade étnica pelos descendentes de
ucranianos apresentou determinadas alterações − seja para eles próprios, seja
para a pequena população nativa − em razão de variadas influências modernas,
ponderando que as culturas não são estáveis, transfigurando-se de acordo com as
alterações no ambiente externo.
Em suma, sem aqui
mencionar as contribuições mútuas entre nativos e imigrantes, são inúmeras as
contribuições que a imigração ucraniana possibilitou a Prudentópolis, sendo esse
um processo fundamental e de extrema importância para a formação e o
desenvolvimento da atual população urbana e rural do município.
Considerações Finais
No presente artigo
abordamos sumariamente o processo de imigração e colonização ucraniana no
município de Prudentópolis/PR. Elucidamos aspectos como as fases imigratórias a
que os ucranianos se submeteram até se instalarem no estado paranaense,
sobretudo em Prudentópolis, o que incluiu informações sobre a chegada e a adaptação
desses indivíduos à sua nova pátria, bem como a importância desse processo para
a cidade.
Dessa forma, explanamos
que a imigração no Paraná ocorreu em três fases, variando no decurso do tempo em
razão das condições em que os ucranianos se encontravam em sua terra natal. Dentre
os fatores predominantes que determinaram o processo de emigração do Leste Europeu
para território americano em geral, aí incluído o território brasileiro,
destacamos, nesta pesquisa, a dominação polonesa e a dominação russa sobre a
população da Ucrânia, a qual se viu obrigada a expatriar-se em busca de
melhores condições de vida.
Em seguida, analisamos o
processo de adaptação dos imigrantes em terras brasileiras. Ressaltamos, nesse
contexto, as dificuldades enfrentadas por esses indivíduos ao se situarem em
uma conjuntura diferenciada daquela de origem. Moradias precárias, ausência de
alimentos e de ferramentas para trabalhar e, sobretudo, a deficiência
governamental em proporcionar subsídios aos ucranianos, apresentaram-se como
fatores que desestimularam esses novos habitantes de São João de Capanema –
antiga denominação de Prudentópolis. Vimos, no entanto, que a religiosidade e o
empenho desses imigrantes resultaram na concepção de uma nova cidade no Paraná
e que é popularmente denominada de “a pequena Ucrânia no Brasil”.
Por último, observamos a
importância e a intensa contribuição do processo imigratório para
Prudentópolis. Conforme supracitamos, a transformação do antigo vilarejo em município
foi resultado da colonização ucraniana, que, mediante construção e fundação de
escolas, de igrejas, de postos de saúde e de casas de comércio, foi possibilitando
o desenvolvimento e tornando aquela antiga vila na contemporânea cidade de
Prudentópolis. Ademais, esclarecemos acerca das contribuições culturais e
econômicas que os descendentes de ucranianos desempenham no município,
salientando, nessas contribuições, a preservação dos costumes e das tradições
de seus antepassados europeus do Leste.
Em síntese, foi
analisada a formação de uma nova identidade étnico-cultural para os
prudentopolitanos, para todos os prudentopolitanos, sendo essa formação resultado
de uma mistura entre os brasileiros e os ucranianos. Essa construção se
responsabiliza pelo atual progresso municipal, bem como pelo desenvolvimento da
cidade. Destaca-se que a identidade existente entre a população se reafirma
mediante as práticas culturais desempenhadas periodicamente em Prudentópolis –
inclusive constituindo um calendário turístico – e que possibilitam a essa
população um sentimento de pertença único em âmbito nacional e internacional.
5 Referências
Mestrando do Programa de
Pós-graduação em História da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO).
Membro do grupo de pesquisa de Estudos em História Cultural da Universidade
Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Graduado em Filosofia Licenciatura (2018)
pelo Centro Universitário de Araras Dr. Edmundo Ulson (UNAR), História
Licenciatura (2016) pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) e Ciências
Sociais Licenciatura (2015) pela Faculdade Guarapuava (FG). Especialista em
Docência do Ensino Superior (2018) e Educação a Distância com Ênfase na
Formação de Tutores (2018) pela Faculdade São Braz (FSB); Gestão da Educação do
Campo (2017) pela Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras
(FACEL); Educação Especial e Inclusiva (2016), Metodologia do Ensino de
Filosofia e Sociologia (2016) e Ensino Religioso (2015) pela Faculdade de
Educação São Luís (FESL). Professor de Sociologia contratado pela Secretaria de
Educação do Estado do Paraná e leciona as disciplinas de Filosofia, História e
Sociologia no Colégio Imaculada Virgem Maria e Sociologia no Colégio São José,
ambos em Prudentópolis/PR.
BORUSZENKO, Oksana. A imigração ucraniana no
Paraná. In: Colonização e Migração. Anais
do IV Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História.
Eurípedes Simões de Paula org. São Paulo, p. 423-439, 1985.
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22.
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1963.
GUÉRIOS, Paulo Renato. Memória, identidade
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(Doutorado em Antropologia Social). Museu Nacional. Universidade Federal do Rio
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HALL, Stuart. A
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RAMOS, Odinei Fabiano. Experiências da colonização eslava no centro-sul do Paraná:
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SENIUK, Talita; SKAVRONSKI, Maria Inêz Antônio.
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WACHOWICZ, Ruy Christovam. História do Paraná. 6. ed. Curitiba, PR: Gráfica Vicentina, 1988.
Olá Nikolas! parabéns pelo trabalho. Nikolas sobre a última fase da imigração no pós-guerra quais relações você observa com relação a memória traumática do Holomodor (1931-32) e esse último fluxo imigratório. E que observações você poderia fazer com relação a religiosidade e a linguá ucraniana em Prudentópolis como formas de resistência a uma Ucrânia soviética até 1991. Obrigado.
ResponderExcluirBoa tarde, André.
ResponderExcluirEntre 1932 e 1933, a crise no fornecimento de alimentos marcou a história da Ucrânia e ganhou um nome: Holodomor (em ucraniano, significa “matar de fome”). Com certeza, esse fato fez com que muitos ucranianos migrassem para o Brasil em busca de melhores condições de vida. Embora o povo ucraniano tenha, ao final de 1918, conseguido restabelecer sua república, isso de nada adiantou. Os ucranianos da terceira etapa imigratória vieram em busca de sobrevivência e fugindo da fome e da miséria.
Com relação à língua ucraniana e a religiosidade, ambas práticas feitas aqui em Prudentópolis mostrar a (re)construção de uma identidade ucraniana no município. A preservação da cultura e identidade ucraniana de Prudentópolis devem ser entendidas como parte desse processo de resistência. Percebe-se que há uma lacuna com relação ao
processo de expansão territorial soviético pós-Revolução Russa que afetou diretamente alguns países, como por exemplo, a Ucrânia.
Obrigado pela pergunta.
Resposta de Nikolas Corrent
ola, primeiramente parabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirA minha pergunta é em relação a primeira fase da imigração, é possível que que ucranianos já estivessem no Brasil antes de 1891, chegando com outras levas principalmente grupos poloneses?
Daniele G
Bom dia, Daniele.
ResponderExcluirO número de ucranianos que chegaram ao Paraná e, por conseguinte a Prudentópolis, é controverso, uma vez que os ucranianos desembarcavam no Brasil sob diferentes nacionalidades. Nos anos de 1895 e 1896 entraram no Paraná milhares de poloneses, russos e austríacos, mas não aparecem, nos dados oficiais, as denominações “ucraniano” ou “ruteno”, visto que os imigrantes dessa nacionalidade eram escriturados juntamente aos russos e aos poloneses, tendo em vista que os funcionários da imigração não faziam distinção entre eles (GUÉRIOS, 2007, p. 168).
A respeito dessa ação geradora de problemas e praticada pelos funcionários, Andreazza aponta o envio de uma carta por uma mulher de ascendência polonesa ao jornal A República, de Curitiba, em 1911, aconselhando o periódico que não confundisse poloneses e ucranianos. Sobre essa situação embaraçosa, Andreazza afirma que “[...] o esforço de diferenciação dessas duas etnias na sociedade paranaense foi um processo longo. De qualquer maneira, se a sociedade paranaense homogeneizou as duas durante muito tempo, isso não significa que elas não tenham se autodelimitado” (1996, p. 93-94).
Um dos principais destinos dos ucranianos foi a colônia de Prudentópolis, criada em 1895, na época município de Guarapuava. De acordo com Guérios (2007, p. 117), “[...] entre 1896 e março de 1897 cerca de 5200 ucranianos foram destinados a Prudentópolis”. Segundo dados coletados no site da Prefeitura de Prudentópolis, em 1896 teriam adentrado no município cerca de 1500 famílias, totalizando cerca de 8000 pessoas . Os números, apesar de conflitantes, demonstram o grande afluxo de imigrantes dessa nacionalidade ao município.
Obrigado pelo questionamento.
Resposta de Nikolas Corrent