IDEIAS
HISTÓRICAS SOBRE A RELAÇÃO FUTEBOL E POLÍTICA NO BRASIL [2019]: UMA PROPOSTA DE
PESQUISA EM HISTÓRIA E ENSINO
Investigar os usos, funções e formas
que o conhecimento histórico assume na sociedade é papel do historiador, visto
que através desse conhecimento é possível enxergar as estruturas que compõe as
mais complexas relações sociais e compreender o comportamento humano.
Não é de hoje que no Brasil percebemos
uma relação próxima entre práticas culturais e as tomadas de decisões
políticas, onde só é possível evidenciar essa proximidade através do estudo do
conhecimento histórico que circula na sociedade em geral, não apenas aquela
voltada aos especialistas. Exemplificando, vemos cada vez mais ícones esportivos
se tornarem representantes políticos, grandes eventos se apropriarem de
marketing partidário, ou mesmo arquibancadas se tornarem movimentos sociais
organizados.
Esse fenômeno social pode ser
apropriado por pesquisas de variados campos de estudo da História como a
Didática da História, a História Política, a História Pública, até mesmo a
História por meio do Futebol.
Logo, o projeto em questão busca
compreender um aspecto característico que marca a História recente do Brasil, a
relação entre Política e Futebol, contudo, através do olhar do aluno de Ensino
Médio.
A proposta é perceber de que forma a
História contribui para o entendimento da relação Futebol e Política em alunos
de Ensino Médio. Essa relação está presente no conhecimento histórico dos alunos?
Futebol tem alguma relação com a Política no Brasil? De que maneira essa
relação auxilia na formação do conhecimento histórico? Faz sentido aproximar
uma prática cultural tão popular no Brasil com a História Política brasileira?
De que maneira essa relação é evidenciada pelos jovens estudantes brasileiros?
Para tanto, acredita-se que seja
necessária uma articulação entre estudos de autores de várias áreas da
História, como as já mencionadas acima, para solucionar essa especulação.
Primeiramente, a contribuição de Jörn
Rüsen para o estudo da Didática da História, onde o autor entende a história
relacionada à vida prática das pessoas, não apenas dentro da escola, mas também
fora dela. No caso, a Didática da História se preocupa com as formas de
elaboração da consciência histórica, o saber histórico que circula na sociedade
e dentro da escola a forma que a disciplina de História é apreendida, o que se
apreende e o deveria ser apreendido, até onde há cientificidade nas narrativas
históricas.
A História Política que René Rémond
propõe voltada a interlocução dos aspectos políticos com os mais variados
campos do saber também retém a atenção em se trabalhar com a investigação
proposta neste projeto pois dinamiza a historiografia política e fundamenta uma
possível relação entre o futebol e as tomadas de decisões políticas.
Em pesquisas sobre narrativas
históricas circulantes na sociedade é importante compreender de que maneira o
conhecimento histórico é apropriado pela sociedade e quais seus mecanismos de
propagação, desta forma, a História Pública é uma área de atenção na
articulação da temática aqui proposta. Obras como ‘Introdução à História
Pública’ [2011] de Almeida e Rovai e ‘História Pública no Brasil [2016] de
Mauad, Almeida e Santhiago trazem uma discussão recente do compartilhamento da
história como conhecimento científico com os mais variados públicos e de modo
inter-relacional, transdisciplinar.
Além disso, mesmo que não seja o
objetivo principal do projeto realizar uma historiografia política do Brasil ou
uma História do Futebol no Brasil, estudos históricos que entendem a história
do Brasil através do Futebol vão auxiliar na compreensão das narrativas
históricas de alunos sobre a relação política e futebol. Alguns estudos que
trabalham com essa perspectiva são: ‘A dança dos deuses’ [2007] de Hilário
Franco Júnior, ‘Memória Social dos esportes: futebol e política’ [2006] de
Silva e Santos, ‘O negro no futebol brasileiro’ [2003] de Mário Filho, entre
outros.
Norteado por tais análises, o problema
aqui proposto é compreender as ideias históricas dos alunos de Ensino Médio
sobre a relação Política e Futebol no Brasil, articulando variadas noções
históricas, como de permanências e mudanças, noções de fontes e evidências,
interpretação, narrativa, além de ideias substantivas, conceitos históricos
gerais, como ditadura, revolução, ideias de espaço/tempo, histórias nacionais,
etc.
Tem-se o entendimento a piori de que a
relação entre Política e Futebol no Brasil compõe um problema de orientação da
vida prática dos sujeitos que pertencem ao contexto brasileiro a partir do
século XX. A fundamentação para tal é a de que um esporte que surge como
prática da elite se torna atividade popular de cunho identitário e que passa
ser representativo na ascensão social de estratos marginalizados demonstra que
algumas características históricas possibilitaram que esse fenômeno ocorresse numa
sociedade tão complexa como na história do Brasil recente.
A História, segundo Rüsen [2010],
através de competências da consciência histórica, busca resolver problemas
práticos de orientação. Unindo a tese de que o Futebol é fator que pode
condicionar ações políticas da sociedade brasileira com a perspectiva de que a
História questiona e instiga compreensão racional e científica das ações
humanas, justifica-se a escolha da temática na análise de narrativas de um
grupo de jovens estudantes brasileiros para compreender se este fenômeno tem
algum sentido no cotidiano desses jovens e em que dimensão isso ocorre. Além de
percebermos de que maneira se articulam as ideias históricas em alunos de
Ensino Médio, que nível científico compõe as narrativas desses jovens, que
noções históricas são utilizadas na fundamentação de argumento racional para os
problemas de vida prática.
A pesquisa já fora aplicada em caráter
inicial na dissertação de mestrado, e busca neste momento aprofundar as
questões aqui apresentadas visto que o primeiro estudo instigou inúmeras
especulações referentes a relação Política e Futebol na História do Brasil
sobre olhares de estudantes de Ensino Médio. Percebeu-se que os alunos
utilizaram ideias históricas complexas para articularem problemas do cotidiano,
sendo que fundamentaram suas narrativas em saberes especializados que estão
presentes em variadas mídias, contudo, a presença de narrativas fragmentadas e
simples também alertou para alguns problemas de compreensão histórica que fazem
parte da História Pública.
Sendo assim, a relevância de uma
pesquisa mais abrangente e que analise uma amostragem diferente se dá na
perspectiva de que o tema e a metodologia ainda possuem uma gama considerável
de exploração, visto que pode proporcionar avanços nas pesquisas em Didática da
História, Educação Histórica, História Pública, entre outras áreas.
A pesquisa tem como objetivo principal
analisar de que maneira as ideias históricas de alunos de Ensino Médio tratam a
relação entre Futebol e Política no Brasil e se esta relação tem sentido em
suas vidas práticas.
Como objetivos específicos buscaremos
compreender:
1)
Que noções históricas são articuladas
na fundamentação racional dos alunos diante de carências de orientação do
cotidiano?
2)
A História está relacionada à vida
prática?
3)
A História é entendida pelos alunos
como conhecimento científico?
4)
Existe alguma relação histórica entre
Futebol e Política no Brasil?
5)
É viável entender a História do Brasil
através do Futebol de acordo com os alunos pesquisados?
DESCRIÇÃO DAS FONTES, METODOLOGIA E REFERENCIAL TEÓRICO
Acredita-se que a proposta de pesquisa
se enquadra melhor numa dinâmica qualitativa, sendo que não haverá preocupação
com um número exorbitante na amostragem, pois pode haver defasagem na análise
minuciosa das narrativas colhidas durante a aplicação dos variados instrumentos
de coleta de dados. Pensa-se, dessa forma, na utilização do método de pesquisa
conhecido como ‘Grounded Theory’, inspirado principalmente nos escritos de
Kathy Charmaz [2009].
‘Grounded Theory’ ou Teoria
Fundamentada é um método de pesquisa que surge nos EUA na década de 1960 com
Glaser e Strauss e propõe análises qualitativas em estudos em ciências sociais.
O método surge em decorrência do conflito com preceitos positivistas que
estavam em alta e busca dinamizar o modo de interpretação das realidades
sociais pesquisadas no período.
A Teoria Fundamentada passou por
reformulações com o decorrer dos anos, surgindo algumas correntes específicas
de acordo com os trabalhos publicados, principalmente diante do conflito
metodológico adotado por seus expoentes. É quando se diferenciam seus métodos
de abordagem em ‘Grounded Theory’ clássica [Glaser], ‘GT full conceptual
description’ [Strauss e Corbin] e ‘GT construtivista’ [Charmaz]. Basicamente,
as divergências entre essas correntes é a rigidez das categorias que surgem no
decorrer da pesquisa e a abrangência da pergunta principal, onde a vertente
clássica faz críticas a reformulação proposta por Strauss e Corbin devido a
descaracterização do poder analítico do pesquisador.
Posteriormente com a popularização da
GT no meio acadêmico outros autores puderam reelaborar os pressupostos adotados
em seu surgimento. Desta forma, Kathy Charmaz publica ‘A construção da Teoria
Fundamentada’ [2009], quando dá início ao que chamamos de Teoria Fundamentada construtivista,
que dá certo relativismo ao conhecimento. Construtivista devido ao
reconhecimento que a produção do conhecimento ocorre de maneira recíproca entre
o pesquisador e os sujeitos da pesquisa, levando em consideração a dimensão do
significado.
Com isso, entendendo a vertente
construtivista mais apropriada à pesquisa, alguns pontos devem ser esclarecidos
sobre o método: a) não existe uma pergunta de pesquisa a priori; b) os dados
são [co]construídos, construção simultânea entre pesquisador e pesquisados,
através de variadas técnicas [questionários, entrevista semi-estruturadas, análise
textual, Grupo Focal, etc.]; c) existe uma categoria principal que se articula
às demais categorias que vão surgindo no decorrer da pesquisa.
Em síntese, a GT propõe a aplicação de técnica de
recolhimento de dados que quando analisados construirão categorias específicas
que demandarão a aplicação de novos procedimentos que apresentarão novos
memorandos e assim sucessivamente até obter dados que atendam a categoria principal
e que possibilite o entendimento de uma realidade social.
Como fonte para a compreensão do
problema apresentado neste projeto utilizar-se-ão narrativas de estudantes de
Ensino Médio da rede pública e/ou privada. A construção dessas fontes será viabilizada
pela aplicação de procedimentos específicos que serão propostos em sala de
aula, onde a cronologia de aplicação surgirá de acordo com a demanda de
memorandos construídos.
Logo, algumas técnicas são possíveis e
já reconhecidas por outros trabalhos acadêmicos, a exemplo da submissão de
questionários escritos, que podem identificar conhecimentos prévios como visto
no trabalho de Isabel Barca [2007], ou mesmo a organização de Grupo Focal que
percebe na interlocução das narrativas dos sujeitos pesquisados uma alternativa
para construção de dados [GATTI, 2005]. Além da execução de algumas atividades
que instiguem o estudante a analisar os questionamentos do pesquisador, como
análises de fontes documentais como jornais, redes sociais, mídias eletrônicas,
livros, e o enfrentamento destas fontes, a exposição de filmes sobre o tema,
entre inúmeras outras atividades que podem proporcionar ao aluno pesquisado
base para a fundamentação das questões apresentadas.
Narrativas de jovens estudantes é matéria-prima
para pesquisas em Ensino de História, em específico no campo de pesquisa em
Didática da História e na especialidade de análise Educação Histórica.
Acredita-se na utilização simultânea da
Didática da História e da Educação Histórica porque as percebemos como
complementares, mesmo que em alguns pontos elas se distanciem.
Por Didática da História entendemos um
campo de pesquisa do papel da História na opinião pública, analisando qual e
como os saberes históricos circulam na sociedade. Essa função didática se
compromete com a introdução de saberes históricos científicos para as
explicações de mundo a partir da investigação das ideias dos sujeitos, pois
identifica carências de orientação e projeta um raciocínio histórico como norte
reflexivo. Bergmann [1989/90] ainda complementa dizendo que ideias históricas
estão intimamente presentes na compreensão do comportamento humano, pois os
sujeitos agem de acordo com as respostas que dão aos problemas do cotidiano, de
maneira que resgatam experiências passadas e que refletem em ações futuras. O
engajamento da Didática da História se volta à cultura histórica, ao pensamento
histórico, à consciência histórica, não apenas dentro da escola.
Para aprimorar a análise para dentro do
universo escolar, acredita-se que o uso das pesquisas em Educação Histórica
apresenta grande valia. A Educação Histórica é uma especialidade de análise do
vasto campo de pesquisa em Ensino de História, onde direciona seu foco para o
ensino e aprendizagem histórica no ambiente escolar. A problemática da Educação
História se volta a como os alunos aprendem história e para que serve tal
aprendizado, partindo dos conhecimentos históricos que os mesmos carregam, se
distanciando de uma aprendizagem transpositiva que outrora fora pensada [RAMOS,
2013].
Para Peter Lee [2006], um dos expoentes
da Educação Histórica, a especialidade tem como objetivo a “literacia
histórica”, termo que remete a um “letramento histórico”, um modo específico de
“ler o mundo” a partir da História. Para tanto, o autor esclarece alguns
conceitos históricos específicos que possibilitam a compreensão das narrativas
históricas dos sujeitos. Lee entende que conceitos substantivos são ideias históricas
gerais, normalmente tratados como conteúdo disciplinar, ditadura, imperialismo,
revolução, etc. Por conceitos de segunda ordem são aqueles relativos à cognição
histórica, como noções de interpretação histórica, noção de evidência, mudanças
e permanências, entre outras ideias referentes à natureza do conhecimento
histórico.
Embora percebamos muitas proximidades
entre a Didática da História e a Educação Histórica que auxiliarão no
desenvolvimento da tese aqui proposta, é importante descrever que em alguns
aspectos elas se diferenciam. Primeiramente suas matrizes teóricas, a Didática
da História vem de uma corrente de filósofos da História alemã [Rüsen, Begmann,
Pandel], já a Educação Histórica surge de pesquisas em ensino e aprendizagem
histórica de vertente inglesa [Lee]. Outro ponto é que a Didática da História
não tem foco apenas na aprendizagem histórica dentro da escola, a Educação
Histórica sim, mesmo que leve em consideração saberes históricos trazidos de
outros ambientes. A Educação Histórica também tem interesse na progressão do
conhecimento histórico, pois parte da premissa de um “letramento histórico”,
logo se volta também à currículos escolares, ao processo de aprendizagem dentro
da escola e também à uma potencialização da cognição histórica por parte de
alunos e professores.
Nesta pesquisa acreditamos que a interlocução
de ambas [Didática da História e Educação Histórica] pode enriquecer o poder
analítico das narrativas pois viabiliza o entendimento das ideias dos alunos em
múltiplos ambientes, ancorado em pressupostos que reconhecem uma autonomia do
aprendizado histórico pautado em saberes especializados e não-científicos,
sendo que a reflexão proposta da relação entre história, política e futebol
abrange gamas diversas de construção do conhecimento histórico, essa dinâmica é
composta por saberes escolar, científico e público.
Pautaremos a tese em algumas áreas
específicas do estudo da História que viabilizem a compreensão das ideias
históricas de alunos do Ensino Médio sobre a relação Política e Futebol no
Brasil contemporâneo. A pesquisa se enquadra na linha de estudo sobre o Ensino
de História, com foco em narrativas históricas de jovens estudantes tendo como
premissa a relação entre uma prática cultural popular [Futebol] e ações políticas.
Em Ensino de História, voltaremos
nossos olhares às pesquisas em Didática da História e Educação Histórica. Em
Didática da História algumas obras devem compor o arcabouço teórico da
pesquisa, principalmente os escritos de Jörn Rüsen como sua trilogia ‘Teoria da
História: Razão Histórica, Reconstrução do Passado e História Viva’ [coleção
traduzida para o português pelo professor Estevão de Rezende Martins, publicada
em 2010]. Tais livros descrevem toda a fundamentação teórica utilizada por
Rüsen para entender o processo de construção do conhecimento histórico
científico e sua pretensão de racionalidade relacionando-a a vida prática
humana. Outras obras de Rüsen como ‘Teoria da História: uma teoria da história
como ciência’ [2015] e ‘Jörn Rüsen e o Ensino de História’ [textos de Rüsen
compilados em uma obra de Schmidt, Barca e Martins no ano de 2011] também
compõe esse referencial teórico para a compreensão das operações mentais que
traduzem o conhecimento histórico como indissociável da vida prática e dotada
de racionalidade científica, além de seus usos e funções dentro e fora da
escola.
Sobre
Educação Histórica, os textos de Peter Lee explicitam os conceitos históricos
capazes de analisar as narrativas coletadas durante a pesquisa, fazendo uma
fundamentação acerca da compreensão do termo ‘literacia histórica’ e da
importância do ensino e aprendizagem histórica [‘Em direção a um conceito de
literacia histórica’, 2006; ‘Por que aprender História?’, 2011].
Pesquisadores
portugueses e brasileiros também complementam tais pressupostos e trazem uma
gama a mais de experiências na aplicação de tais fundamentos da Didática da
História e da Educação Histórica como no caso, ‘História e Vida: o encontro
epistemológico entre Didática da História e Educação Histórica’ [ALVES, 2013], ‘Perspectivas
em Educação Histórica [BARCA, 2001], Literacia e Consciência Histórica’ [BARCA,
2006], ‘Educação Histórica: uma nova área de investigação’ [BARCA, 2005], ‘Para
uma definição de Didática da História’ [CARDOSO, 2008], ‘A didática da história para Jörn Rüsen: uma
ampliação do campo de pesquisa’ [CERRI, 2005], ‘Educação Histórica: uma
articulação orgânica entre investigação e ação’ [RAMOS, 2013], ‘O parafuso da
didática da história: objeto de pesquisa e o campo de investigação de uma
didática da história ampliada’ [SADDI, 2012], ‘Educação Histórica: a constituição de um
campo de pesquisa’ [GERMINARI, 2011], entre outras obras.
Para
a fundamentação teórica sobre a relação Política e Futebol, historiadores
políticos da corrente chamada Nova História Política auxiliarão na busca pela
dinamização dos estudos históricos sobre política na história do tempo
presente, de tal maneira, Por uma História Política [RÉMOND, 2003] e Por uma
História do Político [ROSANVALLON, 2010], discorrem sobre a conceituação do
campo do político e da política, além de analisarem essa reformulação das
pesquisas na área, promovendo uma discussão sobre opinião pública, eleições,
ideias políticas, com um viés transdisciplinar, recorrendo à Ciência Política,
Antropologia, Sociologia e afins.
Sobre
a história do Brasil por meio do futebol, há uma bibliografia especializada que
pode fornecer material essencial para promover a relação desta prática
esportiva com a política brasileira trazendo fontes documentais e relatos orais
que enriqueceram a discussão. ‘A Dança dos Deuses’ [FRANCO JR, 2005], ‘Futebol
e populismo: O esporte das multidões e a política das massas’ [SCHLATTER, 2009],
‘Memória Social dos esportes’ [SILVA e SANTOS, 2006], entre outras obras
descrevem momentos específicos da História do Brasil que puderam explicitar que
maneira a prática do futebol pôde condicionar o comportamento social, desde
questões raciais, de gênero, formação de movimentos sociais, influências
econômicas e uso político.
Uma
interface adequada para o entendimento da dinâmica do futebol para com a
sociedade brasileira pode ser melhor compreendida através das pesquisas em
História Pública. Por História Pública entendemos uma valorização da História
para além da academia, uma democratização do conhecimento histórico. Não que
promova uma relativização da ciência da História ou seu descrédito, mas que
busque “[...] reflexões sobre a atuação do profissional capaz de estimular a
consciência histórica para um público amplo, não acadêmico” [ALMEIDA e ROVAI,
2011, p. 7]. “[...] pensamos e falamos historicamente, e esse é o modo pelo qual
nos posicionamos na cultura” [ALBIERI, 2011, p. 28], é o modo pelo qual o
futebol pode ir do apoio à oposição a regimes políticos, quando uma ação
política deixa de fazer sentido, quando o pensar historicamente passa a
questionar mecanismos de dominação.
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Futebol e política andam juntos há muito tempo, e não só no Brasil. De fato não é muito percebido isso nos alunos do ensino médio que observam o esporte apenas no seu entretenimento. Você acredita que o professor de Educação Física ou de Sociologia poderia contribuir apontando suas visões sobre essa perspectiva? Por que os Livros Didáticos omitem essa questão? Existe preconceito na Academia com relação aos estudos sobre futebol por ser esporte popular (e com isso não se desenvolve pesquisas nesse sentido)?
ResponderExcluirRodrigo de Souza Pain e Walace Ferreira.
Olá,
ResponderExcluirPesquisadores em Educação Física e Sociologia têm sim MUITO a acrescentar ao debate, visto que a maior produção científica sobre futebol se encontra na área da Educação Física (Giglio e Spaggiari, 2010).
Os livros didáticos por muitas vezes não veem o potencial nas fontes sobre futebol para se trabalhar história, contudo, isso não é determinante, acredito que seja apenas uma questão de tempo para isso acontecer. Porém, livros didáticos na disciplina em Educação Física por vezes se utilizam da História por meio do futebol (http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/livro_didatico/edfisica.pdf).
Sobre preconceito na Academia, nunca experienciei tal fator. Pelo contrário, o interesse normalmente é grande, ainda mais na crescente que se encontram as pesquisas sobre culturas populares e História Pública.