Jéssica Mayara Santos Sampaio


ENTRE A HISTÓRIA E A MODA: UMA NOVA LINGUAGEM PARA O TRABALHO HISTORIOGRÁFICO

O estudo sobre moda é uma das variedades do campo da História. Relaciona-se com todas as esferas da vida social, mudanças no cotidiano e cenário urbano, hábitos e padrões sociais estabelecidos, assim como abre possibilidades de pesquisa sobre a construção da identidade, relações econômicas e políticas, bem estar, beleza e aparência, mostrando que através dos discursos e práticas que envolvem esses aspectos, é possível a compreensão acerca das representações da vida, costumes e modificações que ocorreram na sociedade.

A moda também proporciona a análise de características de gênero, marcadas pela definição dos papeis de homens e mulheres na sociedade, entre outros pontos que podem ser trabalhados detalhadamente devido à amplitude do tema, como os discursos presentes nos periódicos que visavam enquadrar e moldar padrões para mulheres e homens. Desta forma estabelece o diálogo com outros campos da história, o que torna a investigação ainda mais rica, com a  diversidade de questionamentos que surgem ao explorar esse universo levando em consideração a moda e o cenário em que está inserida.

A História consiste em uma grande variedade de conhecimentos, experiências e fatos acerca das ações humanas e suas relações com as diferentes fases que envolvem a sociedade. Por isso a importância de um processo que envolve ferramentas para buscar o diálogo, a construção de novas questões e acontecimentos, responsável pela formação dos indivíduos, que são levados a aprender a pensar historicamente, tendo como base as permanências, rupturas e as continuidades ocasionadas pelas transformações apresentadas com o decorrer do tempo.

Durante o século XIX, surge a história como ciência, que estabelecia a história como narrativa, voltada para justificar os acontecimentos de âmbito nacional e a preocupação com a construção da identidade dos cidadãos, a memória coletiva e a nacionalidade, de modo que não houve a aplicação de outro método para maior exploração dos processos históricos. A partir do século XX, com o movimento dos Annales, houve uma rearticulação historiográfica e uma desconstrução da história-narrativa, pois novos temas passaram à condição de objetos de estudo no campo da História.

Novos objetos, problemas, abordagens e técnicas, a História encontra uma nova forma de ser feita. A transformação em história-problema ou pesquisa possibilitou o acesso a temas que até então não faziam parte do universo historiográfico, como o cotidiano, vestuário, mulheres, gênero, corpo, entre outros. O que levou à uma nova condição: problematizar, pois o o historiador passou a ter a necessidade de investigar a relação do tempo com a sociedade, as transformações sociopolíticas e as inquietações que movem o seu trabalho, através dos documentos, vestígios, entre outras marcas das ações humanas no tempo
Os documentos respondem ao questionamento do historiador, em geral são provenientes tanto do tempo em que estão inseridos, quanto das ferramentas para explorar os vestígios. Os questionamentos que surgem com o levantamento das fontes, são comuns no campo da investigação, pois os problemas encontrados também movem o historiador, seja para a manutenção ou alteração de memórias, o rompimento ou não do silêncio, isto é, pode-se voltar para problematizar muito além do que está presente na documentação, levando à inúmeros caminhos devido a amplitude e abrangência do tema  que envolve a pesquisa.

O Historiador precisa ser crítico para questionar e retirar informações relevantes durante a coleta feita com a investigação, por isso vale apontar para o trato com a fonte, que pode apresentar diversos tipos de influências de seu tempo, seja através de representações, relações de poder, grupos, famílias, entre outros, o que torna todos esses aspectos passíveis de análise e detalhamento.

A própria amplitude desse tema no âmbito acadêmico, também é uma novidade. Os assuntos mais abordados eram voltados para outros tipos de questionamentos e críticas, como a visão da cidade através da política de determinado governante, ou o capital financeiro que envolve uma sociedade.

A moda conversa com os debates sobre gênero, pois entre a análise das práticas e representações na sociedade, estão as determinações impostas aos indivíduos através do contexto social, por meio dos “relacionamentos familiares, formas de expressar a sexualidade, ideias sobre maternidade e paternidade, os modos como se dão as relações de trabalho, a divisão de tarefas ou a distribuição social” (PINSKY, 2009, p. 32) de poder e liberdade. Todos esses fatores tem ligação com a dinâmica da sociedade, a partir de condutas, práticas e do discurso construído por meio das relações sociais, que funcionam como estruturadores das ações e normas que circulam na sociedade e influenciam o desenvolvimento de discriminações, contestações e conflitos entre homens e mulheres.

Durante o período republicano, alguns aspectos podem ser analisados, pois o momento enquadrava as mulheres nas atividades domésticas, com a responsabilidade de manter a união do lar e o fortalecimento da unidade do país, apontando sempre a fragilidade da modernidade, que poderia desviar os instintos maternais, de boa mãe e esposa, para um processo de emancipação que não era destinado às mulheres naquele contexto. Sob o controle do Estado e da Igreja, o comportamento feminino não poderia apresentar contradições em relação às ações de submissão e obediência. Diferente do que era direcionado ao masculino, as mulheres tinham que se encontrar dentro das possibilidades oferecidas para sua condição, baseados na integridade da família e nos valores morais. Por isso, vale ressaltar a importância das normais sociais na orientação das relações de gênero, que estão presentes, como frisa Pinsky (2009, p.41) em “doutrinas religiosas, concepções educacionais, condutas jurídicas, dinâmicas familiares, escolhas de parceiro, noções de progresso”, entre outros fatores que criam um abismo ainda maior nas relações entre os sexos.

Por fazer parte dos estudos sobre moda presentes na historiografia brasileira, tem-se na década de sessenta a obra pioneira da historiadora Gilda de Mello e Souza, referência no campo da moda e relações sociais. ‘O espírito das roupas – a moda no século dezenove’, descreve e interpreta as vestimentas e hábitos do século XIX e volta-se para as mudanças e conquistas que surgiram com o período da modernidade início do século XX.  Estudo que atravessa o gosto e o consumo, mas proporciona a leitura da estrutura social através da moda, modos e os costumes.

“As mudanças da moda dependem da cultura e dos ideais de uma época. Sob a rígida organização das sociedades, fluem anseios psíquicos subterrâneos que a moda pressente a direção. Na sociedade democrática do século XIX, quando os desejos de prestígio se avolumam e crescem as necessidades de distinção e liderança, a moda encontrará recursos infinitos de torná-los visíveis” (SOUZA, 1987, p. 25).

Obra que permite a análise das regras que giravam em torno do comportamento feminino e apareciam no cenário da cidade, possibilitando compreender os costumes que estavam presentes no passado e como a moda tinha características específicas de acordo com os grupos sociais. Estes aproveitavam seus hábitos para perpetuar a visibilidade através das vestimentas, aparições em público e de valores que combinassem o controle do corpo, com os aspectos religiosos impostos pela igreja e às mudanças que não levassem à desaprovação das indumentárias e do comportamento de homens e mulheres.

As relações de gênero estão presentes nesse campo da história, pois apóiam-se em discussões sobre a condição feminina, práticas políticas, econômicas e sociais, que também fazem parte dos processos históricos em que as relações sociais são marcadas e definidas pelas relações de poder, em que é possível fazer ligações entre uma diversidade de aspectos que permitem o entendimento sobre práticas, condutas e influencias.

A moda nem sempre foi vista como um instrumento que possibilita análises. Por isso Calanca (2011, p.37), afirma que a desvalorização desse estudo pode ser “compreendida dentro de um âmbito historiográfico mais amplo, (...) alguns historiadores definem a historia social como uma “nova história” e outros como “uma história fraca”. No entanto, a investigação sobre modos e relações sociais é capaz de reconstruir os âmbitos político, econômico e social através das roupas que funcionam como símbolos de distinção, mas constituem na perspectiva de gênero: normas sociais e a própria construção das relações entre homens e mulheres.

“As formas de aquisição e posse dos bens revelam não somente o mundo econômico ao qual tais bens pertencem, mas também o mundo moral e político, pois, se de um lado remetem a mecanismos sociais que colocam em movimento um processo de transformação dos comportamentos econômicos, de outro atingem o conjunto das normas sociais, religiosas, políticas pelas quais a sociedade é regulada” (CALANCA, 2011, p.39).

Para a autora (2011, p.39), o historiador que estuda a indumentária tem a possibilidade de trabalhar com questões culturais, “o consumo ostentatório, a representação simbólica das hierarquias econômicas e sociais; a distribuição das marcas de origem; questões repletas de conteúdos morais e sujeitas” a uma evolução que se estende durante todo o processo histórico, mas que se dá de forma gradativa e complexa, pois ocorre de um século a outro.

Podemos citar as relações e definições de papéis sociais de homens e mulheres que ocorrem desde o século XIX. Os homens desde a fase infantil eram ensinados a brincar com objetos que lhes permitissem alcançar a liberdade, a apoiar diferenças que sustentassem sua individualidade e principalmente sua posição de virilidade na sociedade. Dotado de força física, capacidade intelectual e a livre circulação por qualquer ponto urbano, os homens das classes médias e altas, iniciaram os estudos fora do Brasil, trajavam vestimentas sóbrias, simples e com acessórios que afirmavam sua posição social e indicavam o seu nível de prestígio.

“Ao mesmo tempo um duplo padrão de moralidade regia as relações humanas, o código de honra do homem sendo diverso do da mulher. (...) de um lado uma moral masculina contratual, um código de honra originado nos contatos da vida pública, comercial, políticas e das atividades profissionais” (SOUZA, 1987, p.58).

A abordagem sobre o universo da moda é apropriada pela união de aspectos metodológicos e teóricos, que visam o levantamento das configurações sociais, dos cenários de transformações encontrados no meio urbano, seja através da estrutura da cidade ou pela alteração das relações dos indivíduos e seus comportamentos no espaço privado e público; e também, pelas ferramentas utilizadas para iniciar o processo de identificação das diferenciações entre as classes sociais, que buscavam uma forma de se manter e se estabelecer enquanto status social, visibilidade e vestuário. Dentro desse contexto, não há dúvidas que os acontecimentos gerais interferem no ritmo de vida de espaços menores, logo os fatores locais fornecem significados de grande contribuição para o trabalho de investigação.

É nesse momento que ocorre o resgate das interações que existiam no espaço local. A investigação tenta recuperar através das fontes os espaços privado e público, as práticas cotidianas dos diferentes estratos sociais da sociedade, instrumentos e trabalho, vestimentas e ocasiões, visando a importância dos contrastes e conflitos apoiados  na prática historiográfica e na expansão dos limites da história. Abordando a partir de então temas tão recorrentes no território privado, como sentimentos, corpo, gestos, entre outros, enfatizando os elementos de valorização que se organizam dentro de cada sociedade através de grupos diferentes, práticas que levam à manutenção da posição social e as ações que determinaram os símbolos valorizados na sociedade. Em razão disso, as manifestações e práticas cotidianas movimentam o campo historiográfico. Ao analisar as condições de vida, as experiências vividas e assuntos ligados ao cotidiano, existem indícios das singularidades, que podem nos remeter a símbolos, práticas culturais e até mesmo a formação social do individuo.

Seja através do uso de periódicos ou estudos bibliográficos, a construção da memória e a análise de acontecimentos individuais e coletivos ocorre para encontrar uma compreensão sobre as transformações urbanas e de beleza. A produção de trabalhos acadêmicos referente a este tema, ainda não tem grandes proporções, por isso a preocupação e responsabilidade por utilizar questões que elucidam as transformações sociais por meio da análise da moda e das representações de gênero, o que significa uma abordagem bem ampla, mas que compreende o processo de modernização das cidades

Diante disso, no século XXI, ainda é possível observar a permanência de muitos aspectos, entre eles a dupla jornada feminina – entre o trabalho e o lar, a crítica à escolha das que não tem a vontade de realizar o desejo maternal, como se todas as mulheres tivessem o objetivo de serem mães; a desaprovação às roupas femininas; as desvantagens salariais enfrentadas por mulheres que ocupam os mesmos cargos que os homens; a distinção de gênero através de cores, rosa para menina e o azul para menino, entre outros obstáculos que se arrastam desde os séculos anteriores. Por isso a necessidade de investigação para fragmentar tudo aquilo que é considerado normal e configura apenas maneiras para estabelecer um padrão e fazer com que este seja mantido.

Dessa forma, o estudo da história e as transformações que ocorrem no tempo e no espaço, permitem desconstruir o que é considerado como permanente na sociedade, começando pelas definições de papeis sociais e os limites sobre o que é do mundo feminino e masculino. Apresentar essas mudanças e o que levou à elas, é uma forma de mostrar o papel transformador do tempo, que  torna os pontos fixos passíveis de uma análise minuciosa com a tendência em se voltar para as diferenças e a uma perspectiva histórica, que traça os caminhos percorridos, as condições que foram submetidas e a construção ou não de novas definições.

Os conceitos de moda, costumes e transformações sociais fazem parte da historiografia, assim como as categorias cultura, identidade, memória e representações, o que nos leva a dar destaque à importância da abordagem e as informações que surgem com a ampliação das linguagens que envolvem esses aspectos da investigação histórica. Dessa forma, pode-se afirmar que são pontos essenciais para entender as singularidades das relações sociais, as expressões de individualidade e aparência, e o cenário estrutural urbano em que as formas de sociabilidades se fixavam.

O próprio espaço ocupado representa uma distribuição de poder e status.  A moda, os costumes, até os móveis e adereços, tudo lembra a organização social.  O que é adotado por indivíduos economicamente abastados são aspectos que passam a ter valor de acordo com quem está usando, o ambiente em que está localizado, sem contar especificamente a sua função, e sim, características que movimentam a vida e o status social, pois de acordo com Halbwachs (1990, p.145) “é necessário que a todo instante cada parte saiba onde encontrar a linha que delimita os poderes que elas tem, uma sobre a outra”.

As cidades podem se transformar, mas a diferenciação entre os indivíduos surge de acordo com o equilíbrio e a adequação às novas condições, de modo que seja desenvolvida a legitimação dos grupos sociais através das relações estabelecidas entre os que detém maior prestígio e os que não se adequam às imposições econômicas, políticas e sociais exigidas por essas disputas.

Belo, feio, moderno, urbano, novidades, sociabilidades. Os conceitos podem ser alterados e distorcidos, de acordo com as dimensões tratadas da realidade estudada. Levando em consideração que o sentido destes está relacionado com as possibilidades de interpretação, a palavra não carrega somente um sentido e sua definição está ligada à forma de apropriação. Por isso, as estratégias de leitura abrem novas possibilidades sobre as definições da natureza dos conceitos.

Com o estudo sobre moda pode-se construir a ligação da identidade através das relações, representações no cotidiano e dos comportamentos sociais. Nesse sentido, as condições que influenciam o comportamento são inúmeras, pois a manutenção de riqueza e prestigio representavam o consumo e a condição social, formando uma estratégia para a distinção. 

Segundo Godart (2010, p. 33), a moda é “um elemento essencial na construção identitária dos indivíduos e dos grupos sociais. As roupas (...) são um elemento importante, mas não o único”, o que revela a diferenciação é a consciência de classe, as escolhas do vestuário, as estratégias de comportamento e aparatos sociais. Logo, ainda de acordo com o autor (p.36), cada indivíduo pode ter múltiplas identidades que podem se consolidar em âmbito privado ou publico, ainda que contribua para a formação de identidades coletivas e de grupos, pois “a moda é uma produção e uma reprodução permanente do social”.

É necessário aprender a interpretar os costumes, valores, discursos, presentes em cada período da história, devido a dificuldade de identificar em uma primeira impressão, as deformidades apresentadas pelas fontes, que em grande parte são construídas com intenção, baseadas em opiniões e o interesse fixar uma verdade. As fontes são tratadas como um armazém de informações, que podem ser munidos de inúmeras revelações, mas são construídos através de registros e processos do cotidiano, peculiaridades de grupos e da memória dos indivíduos.

A expansão desses campos históricos se configura como novos focos de orientação para o historiador no século XX, voltadas muito mais para a dimensão social, do cotidiano e da vida humana, porém o que vai direcionar para a relevância da investigação é a abordagem, os diferentes pontos temáticos.

O campo da moda é cercado por objetos de significação e valor. As vestimentas, ornamentos, comportamentos têm valor no jogo das aparências. Por isso, a relevância em elucidar dentro do estudo sobre o tema, os elementos da moda e modos nas representações sociais e de gênero, dando ênfase aos atributos físicos e comportamentais de homens e mulheres, e observar, especialmente, a preocupação com a perda da feminilidade e a inversão de valores, por exemplo, presentes no período da década de 1930.

 REFERÊNCIAS
Jéssica Mayara Santos Sampaio é graduada em História pela Universidade Estadual do Maranhão e Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIST) da Universidade Estadual do Maranhão.

CALANCA, Daniela. História Social da Moda. 2 edição. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.

GODART, Frédéric. Sociologia da Moda. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.

PINSKY, Carla Bassanezzi. Gênero. In.: PINSKY, Bassanezi (org.). Novos Temas nas aulas de História. São Paulo: Contexto, 2009.

SOUZA, Gilda de Mello e. O espírito das roupas: a moda no século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

6 comentários:

  1. Instigante seu texto, pensar as perspectivas históricas e sua influência na vida social. Dê que maneira podemos trabalhar em sala de aula as diversas influências da moda em nossa vida cotidiana, e os olhares para outras indumentárias, outras culturas, ou até mesmo a hibridade social?

    Att.:
    Lidiane Álvares Mendes

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  2. Boa noite.
    Primeiramente, parabéns pela pesquisa desenvolvida.
    Você concorda que existe um estigma em relação à moda, onde a sociedade a classifica como futilidade e não há uma verdadeira observação em relação a tudo o que ela representa enquanto símbolo, identidade de grupo, classe social, etc?
    Creio que este tipo de pesquisa se mantém apenas ao ramo de Design e Moda, mas não é muito abordado nas faculdades de História (na maioria, talvez nem seja). Você considera importante fazer esta abordagem nas graduações de História, pois entender a História da Moda seria entender parte da construção social de um povo?

    Analuz Marinho Gonçalves

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    1. Jéssica Mayara S. Sampaio11 de abril de 2019 às 04:43

      Olá, AnaLuz! Obrigada por sua contribuição!
      Nos primeiros debates sobre moda, há uma crítica a essa enquadramento como futilidade, pois a moda representa as relações entre os diversos setores da sociedade, envolve economia e até a adoção de costumes e normas sociais. Em um levantamento que fiz durante a pesquisa, a maioria dos estudos não se faz no campo da História, mas fica evidente o esforço dos Historiadores em aproximar essa área dos debate em torno do feminino, dos segmentos menos abastados e outros que não tiveram visibilidade no decorrer do tempo. O trabalho com esse tema, permite fazer tanto no meio acadêmico, quanto no escolar, abordagens que relacionem e comparem o passado e o presente, tornando a interação ainda mais dinâmica pela possibilidade de pensar moda de uma forma diferente nos dias de hoje, sem excluir as variações de identidade, status, classe social, prestígio, entre outros. Esse texto é uma parte da pesquisa que tem como foco o período entre 1920 e 1950, as alterações entre as novidades presentes no começo do século XX e as normas sociais que vigoravam para moldar os comportamentos de homens e principalmente, de mulheres, nesse período.

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  4. Muito interessante de se pensar para a história através dessa perspectiva, e em como a moda e a indumentária diz muito sobre determinadas épocas, dá para se perceber a posição das pessoas na sociedade, sua cultura, costumes e até mesmo crenças pelo que essas pessoas vestiam. Em tempos de "ela estava vestindo roupa curta, ela estava pedindo" como justificativa para estupros, teria alguma estratégia para se trabalhar o tema moda em sala de aula? pensando especificamente o século XXI, seria isso uma boa ideia para que dessa forma também se conscientize e se evite a disseminação de que a roupa feminina justificaria atitudes masculinas machistas.
    ATT. Débora do Rocio Pacheco da Silva

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    1. Jéssica Mayara S. Sampaio11 de abril de 2019 às 05:01

      Olá, Débora! Obrigada por sua contribuição!
      O mesmo questionamento surgiu quando trabalhei com a violência de gênero em ambiente escolar. Trabalhar com moda foi um desdobramento dessa pesquisa, apesar de não abordar com tanto foco a violência, tão presente nos dias de hoje. Uma das formas de desconstruir estereótipos é incluir a discussão de gênero em relação com a moda, a história e a sociedade, destacando inclusive a invisibilidade das mulheres durante o processo histórico, pois os grandes feitos evidenciam a figura masculina; a própria questão do dote como posse, passada de um homem (pai) para outro(marido);assuntos como mercado de trabalho, escolaridade; as diferenças entre os papéis sociais femininos e masculinos e a variação significativa das vestimentas ao longo do tempo. A união de todos esse fatores pode ser uma boa colaboração da história para construir novas ideias em sala de aula!

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