ENTRE
A HISTÓRIA E A MODA: UMA NOVA LINGUAGEM PARA O TRABALHO HISTORIOGRÁFICO
O estudo sobre moda é uma das
variedades do campo da História. Relaciona-se com todas as esferas da vida
social, mudanças no cotidiano e cenário urbano, hábitos e padrões sociais
estabelecidos, assim como abre possibilidades de pesquisa sobre a construção da
identidade, relações econômicas e políticas, bem estar, beleza e aparência,
mostrando que através dos discursos e práticas que envolvem esses aspectos, é
possível a compreensão acerca das representações da vida, costumes e
modificações que ocorreram na sociedade.
A moda também proporciona a análise de
características de gênero, marcadas pela definição dos papeis de homens e
mulheres na sociedade, entre outros pontos que podem ser trabalhados
detalhadamente devido à amplitude do tema, como os discursos presentes nos
periódicos que visavam enquadrar e moldar padrões para mulheres e homens. Desta
forma estabelece o diálogo com outros campos da história, o que torna a
investigação ainda mais rica, com a
diversidade de questionamentos que surgem ao explorar esse universo
levando em consideração a moda e o cenário em que está inserida.
A História consiste em uma grande
variedade de conhecimentos, experiências e fatos acerca das ações humanas e
suas relações com as diferentes fases que envolvem a sociedade. Por isso a
importância de um processo que envolve ferramentas para buscar o diálogo, a
construção de novas questões e acontecimentos, responsável pela formação dos
indivíduos, que são levados a aprender a pensar historicamente, tendo como base
as permanências, rupturas e as continuidades ocasionadas pelas transformações
apresentadas com o decorrer do tempo.
Durante o século XIX, surge a história
como ciência, que estabelecia a história como narrativa, voltada para
justificar os acontecimentos de âmbito nacional e a preocupação com a
construção da identidade dos cidadãos, a memória coletiva e a nacionalidade, de
modo que não houve a aplicação de outro método para maior exploração dos
processos históricos. A partir do século XX, com o movimento dos Annales, houve
uma rearticulação historiográfica e uma desconstrução da história-narrativa,
pois novos temas passaram à condição de objetos de estudo no campo da História.
Novos objetos, problemas, abordagens e
técnicas, a História encontra uma nova forma de ser feita. A transformação em
história-problema ou pesquisa possibilitou o acesso a temas que até então não
faziam parte do universo historiográfico, como o cotidiano, vestuário,
mulheres, gênero, corpo, entre outros. O que levou à uma nova condição:
problematizar, pois o o historiador passou a ter a necessidade de investigar a
relação do tempo com a sociedade, as transformações sociopolíticas e as
inquietações que movem o seu trabalho, através dos documentos, vestígios, entre
outras marcas das ações humanas no tempo
Os documentos respondem ao
questionamento do historiador, em geral são provenientes tanto do tempo em que
estão inseridos, quanto das ferramentas para explorar os vestígios. Os
questionamentos que surgem com o levantamento das fontes, são comuns no campo
da investigação, pois os problemas encontrados também movem o historiador, seja
para a manutenção ou alteração de memórias, o rompimento ou não do silêncio,
isto é, pode-se voltar para problematizar muito além do que está presente na
documentação, levando à inúmeros caminhos devido a amplitude e abrangência do
tema que envolve a pesquisa.
O Historiador precisa ser crítico para
questionar e retirar informações relevantes durante a coleta feita com a
investigação, por isso vale apontar para o trato com a fonte, que pode
apresentar diversos tipos de influências de seu tempo, seja através de
representações, relações de poder, grupos, famílias, entre outros, o que torna
todos esses aspectos passíveis de análise e detalhamento.
A própria amplitude desse tema no
âmbito acadêmico, também é uma novidade. Os assuntos mais abordados eram
voltados para outros tipos de questionamentos e críticas, como a visão da
cidade através da política de determinado governante, ou o capital financeiro
que envolve uma sociedade.
A moda conversa com os debates sobre
gênero, pois entre a análise das práticas e representações na sociedade, estão
as determinações impostas aos indivíduos através do contexto social, por meio
dos “relacionamentos familiares, formas de expressar a sexualidade, ideias
sobre maternidade e paternidade, os modos como se dão as relações de trabalho,
a divisão de tarefas ou a distribuição social” (PINSKY, 2009, p. 32) de poder e
liberdade. Todos esses fatores tem ligação com a dinâmica da sociedade, a
partir de condutas, práticas e do discurso construído por meio das relações
sociais, que funcionam como estruturadores das ações e normas que circulam na
sociedade e influenciam o desenvolvimento de discriminações, contestações e
conflitos entre homens e mulheres.
Durante o período republicano, alguns
aspectos podem ser analisados, pois o momento enquadrava as mulheres nas
atividades domésticas, com a responsabilidade de manter a união do lar e o
fortalecimento da unidade do país, apontando sempre a fragilidade da
modernidade, que poderia desviar os instintos maternais, de boa mãe e esposa,
para um processo de emancipação que não era destinado às mulheres naquele
contexto. Sob o controle do Estado e da Igreja, o comportamento feminino não
poderia apresentar contradições em relação às ações de submissão e obediência.
Diferente do que era direcionado ao masculino, as mulheres tinham que se
encontrar dentro das possibilidades oferecidas para sua condição, baseados na
integridade da família e nos valores morais. Por isso, vale ressaltar a
importância das normais sociais na orientação das relações de gênero, que estão
presentes, como frisa Pinsky (2009, p.41) em “doutrinas religiosas, concepções
educacionais, condutas jurídicas, dinâmicas familiares, escolhas de parceiro,
noções de progresso”, entre outros fatores que criam um abismo ainda maior nas
relações entre os sexos.
Por fazer parte dos estudos sobre moda
presentes na historiografia brasileira, tem-se na década de sessenta a obra
pioneira da historiadora Gilda de Mello e Souza, referência no campo da moda e
relações sociais. ‘O espírito das roupas – a moda no século dezenove’, descreve e interpreta as vestimentas e
hábitos do século XIX e volta-se para as mudanças e conquistas que surgiram com
o período da modernidade início do século XX.
Estudo que atravessa o gosto e o consumo, mas proporciona a leitura da
estrutura social através da moda, modos e os costumes.
“As mudanças da moda dependem da
cultura e dos ideais de uma época. Sob a rígida organização das sociedades,
fluem anseios psíquicos subterrâneos que a moda pressente a direção. Na
sociedade democrática do século XIX, quando os desejos de prestígio se avolumam
e crescem as necessidades de distinção e liderança, a moda encontrará recursos
infinitos de torná-los visíveis” (SOUZA, 1987, p. 25).
Obra que permite a análise das regras
que giravam em torno do comportamento feminino e apareciam no cenário da
cidade, possibilitando compreender os costumes que estavam presentes no passado
e como a moda tinha características específicas de acordo com os grupos
sociais. Estes aproveitavam seus hábitos para perpetuar a visibilidade através
das vestimentas, aparições em público e de valores que combinassem o controle
do corpo, com os aspectos religiosos impostos pela igreja e às mudanças que não
levassem à desaprovação das indumentárias e do comportamento de homens e
mulheres.
As relações de gênero estão presentes
nesse campo da história, pois apóiam-se em discussões sobre a condição
feminina, práticas políticas, econômicas e sociais, que também fazem parte dos
processos históricos em que as relações sociais são marcadas e definidas pelas
relações de poder, em que é possível fazer ligações entre uma diversidade de
aspectos que permitem o entendimento sobre práticas, condutas e influencias.
A moda nem sempre foi vista como um
instrumento que possibilita análises. Por isso Calanca (2011, p.37), afirma que
a desvalorização desse estudo pode ser “compreendida dentro de um âmbito
historiográfico mais amplo, (...) alguns historiadores definem a historia
social como uma “nova história” e outros como “uma história fraca”. No entanto,
a investigação sobre modos e relações sociais é capaz de reconstruir os âmbitos
político, econômico e social através das roupas que funcionam como símbolos de
distinção, mas constituem na perspectiva de gênero: normas sociais e a própria
construção das relações entre homens e mulheres.
“As formas de aquisição e posse dos
bens revelam não somente o mundo econômico ao qual tais bens pertencem, mas
também o mundo moral e político, pois, se de um lado remetem a mecanismos
sociais que colocam em movimento um processo de transformação dos
comportamentos econômicos, de outro atingem o conjunto das normas sociais,
religiosas, políticas pelas quais a sociedade é regulada” (CALANCA, 2011, p.39).
Para a autora (2011, p.39), o
historiador que estuda a indumentária tem a possibilidade de trabalhar com
questões culturais, “o consumo ostentatório, a representação simbólica das
hierarquias econômicas e sociais; a distribuição das marcas de origem; questões
repletas de conteúdos morais e sujeitas” a uma evolução que se estende durante
todo o processo histórico, mas que se dá de forma gradativa e complexa, pois
ocorre de um século a outro.
Podemos citar as relações e definições
de papéis sociais de homens e mulheres que ocorrem desde o século XIX. Os
homens desde a fase infantil eram ensinados a brincar com objetos que lhes
permitissem alcançar a liberdade, a apoiar diferenças que sustentassem sua
individualidade e principalmente sua posição de virilidade na sociedade. Dotado
de força física, capacidade intelectual e a livre circulação por qualquer ponto
urbano, os homens das classes médias e altas, iniciaram os estudos fora do
Brasil, trajavam vestimentas sóbrias, simples e com acessórios que afirmavam
sua posição social e indicavam o seu nível de prestígio.
“Ao mesmo tempo um duplo padrão de
moralidade regia as relações humanas, o código de honra do homem sendo diverso
do da mulher. (...) de um lado uma moral masculina contratual, um código de
honra originado nos contatos da vida pública, comercial, políticas e das
atividades profissionais” (SOUZA, 1987, p.58).
A abordagem sobre o universo da moda é
apropriada pela união de aspectos metodológicos e teóricos, que visam o
levantamento das configurações sociais, dos cenários de transformações
encontrados no meio urbano, seja através da estrutura da cidade ou pela
alteração das relações dos indivíduos e seus comportamentos no espaço privado e
público; e também, pelas ferramentas utilizadas para iniciar o processo de
identificação das diferenciações entre as classes sociais, que buscavam uma
forma de se manter e se estabelecer enquanto status social, visibilidade e
vestuário. Dentro desse contexto, não há dúvidas que os acontecimentos gerais
interferem no ritmo de vida de espaços menores, logo os fatores locais fornecem
significados de grande contribuição para o trabalho de investigação.
É nesse momento que ocorre o resgate
das interações que existiam no espaço local. A investigação tenta recuperar
através das fontes os espaços privado e público, as práticas cotidianas dos
diferentes estratos sociais da sociedade, instrumentos e trabalho, vestimentas
e ocasiões, visando a importância dos contrastes e conflitos apoiados na prática historiográfica e na expansão dos
limites da história. Abordando a partir de então temas tão recorrentes no território
privado, como sentimentos, corpo, gestos, entre outros, enfatizando os
elementos de valorização que se organizam dentro de cada sociedade através de
grupos diferentes, práticas que levam à manutenção da posição social e as ações
que determinaram os símbolos valorizados na sociedade. Em razão disso, as
manifestações e práticas cotidianas movimentam o campo historiográfico. Ao
analisar as condições de vida, as experiências vividas e assuntos ligados ao
cotidiano, existem indícios das singularidades, que podem nos remeter a
símbolos, práticas culturais e até mesmo a formação social do individuo.
Seja através do uso de periódicos ou
estudos bibliográficos, a construção da memória e a análise de acontecimentos
individuais e coletivos ocorre para encontrar uma compreensão sobre as
transformações urbanas e de beleza. A produção de trabalhos acadêmicos
referente a este tema, ainda não tem grandes proporções, por isso a preocupação
e responsabilidade por utilizar questões que elucidam as transformações sociais
por meio da análise da moda e das representações de gênero, o que significa uma
abordagem bem ampla, mas que compreende o processo de modernização das cidades
Diante disso, no século XXI, ainda é
possível observar a permanência de muitos aspectos, entre eles a dupla jornada
feminina – entre o trabalho e o lar, a crítica à escolha das que não tem a
vontade de realizar o desejo maternal, como se todas as mulheres tivessem o
objetivo de serem mães; a desaprovação às roupas femininas; as desvantagens
salariais enfrentadas por mulheres que ocupam os mesmos cargos que os homens; a
distinção de gênero através de cores, rosa para menina e o azul para menino,
entre outros obstáculos que se arrastam desde os séculos anteriores. Por isso a
necessidade de investigação para fragmentar tudo aquilo que é considerado
normal e configura apenas maneiras para estabelecer um padrão e fazer com que
este seja mantido.
Dessa forma, o estudo da história e as
transformações que ocorrem no tempo e no espaço, permitem desconstruir o que é
considerado como permanente na sociedade, começando pelas definições de papeis
sociais e os limites sobre o que é do mundo feminino e masculino. Apresentar
essas mudanças e o que levou à elas, é uma forma de mostrar o papel
transformador do tempo, que torna os
pontos fixos passíveis de uma análise minuciosa com a tendência em se voltar
para as diferenças e a uma perspectiva histórica, que traça os caminhos
percorridos, as condições que foram submetidas e a construção ou não de novas
definições.
Os conceitos de moda, costumes e
transformações sociais fazem parte da historiografia, assim como as categorias
cultura, identidade, memória e representações, o que nos leva a dar destaque à
importância da abordagem e as informações que surgem com a ampliação das
linguagens que envolvem esses aspectos da investigação histórica. Dessa forma,
pode-se afirmar que são pontos essenciais para entender as singularidades das
relações sociais, as expressões de individualidade e aparência, e o cenário
estrutural urbano em que as formas de sociabilidades se fixavam.
O próprio espaço ocupado representa uma
distribuição de poder e status. A moda,
os costumes, até os móveis e adereços, tudo lembra a organização social. O que é adotado por indivíduos economicamente
abastados são aspectos que passam a ter valor de acordo com quem está usando, o
ambiente em que está localizado, sem contar especificamente a sua função, e
sim, características que movimentam a vida e o status social, pois de acordo
com Halbwachs (1990, p.145) “é necessário que a todo instante cada parte saiba
onde encontrar a linha que delimita os poderes que elas tem, uma sobre a
outra”.
As cidades podem se transformar, mas a
diferenciação entre os indivíduos surge de acordo com o equilíbrio e a
adequação às novas condições, de modo que seja desenvolvida a legitimação dos
grupos sociais através das relações estabelecidas entre os que detém maior prestígio
e os que não se adequam às imposições econômicas, políticas e sociais exigidas
por essas disputas.
Belo, feio, moderno, urbano, novidades,
sociabilidades. Os conceitos podem ser alterados e distorcidos, de acordo com
as dimensões tratadas da realidade estudada. Levando em consideração que o
sentido destes está relacionado com as possibilidades de interpretação, a
palavra não carrega somente um sentido e sua definição está ligada à forma de
apropriação. Por isso, as estratégias de leitura abrem novas possibilidades
sobre as definições da natureza dos conceitos.
Com o estudo sobre moda pode-se
construir a ligação da identidade através das relações, representações no
cotidiano e dos comportamentos sociais. Nesse sentido, as condições que
influenciam o comportamento são inúmeras, pois a manutenção de riqueza e
prestigio representavam o consumo e a condição social, formando uma estratégia
para a distinção.
Segundo Godart (2010, p. 33), a moda é
“um elemento essencial na construção identitária dos indivíduos e dos grupos
sociais. As roupas (...) são um elemento importante, mas não o único”, o que
revela a diferenciação é a consciência de classe, as escolhas do vestuário, as
estratégias de comportamento e aparatos sociais. Logo, ainda de acordo com o
autor (p.36), cada indivíduo pode ter múltiplas identidades que podem se
consolidar em âmbito privado ou publico, ainda que contribua para a formação de
identidades coletivas e de grupos, pois “a moda é uma produção e uma reprodução
permanente do social”.
É necessário aprender a interpretar os
costumes, valores, discursos, presentes em cada período da história, devido a
dificuldade de identificar em uma primeira impressão, as deformidades
apresentadas pelas fontes, que em grande parte são construídas com intenção,
baseadas em opiniões e o interesse fixar uma verdade. As fontes são tratadas
como um armazém de informações, que podem ser munidos de inúmeras revelações,
mas são construídos através de registros e processos do cotidiano,
peculiaridades de grupos e da memória dos indivíduos.
A expansão desses campos históricos se
configura como novos focos de orientação para o historiador no século XX,
voltadas muito mais para a dimensão social, do cotidiano e da vida humana,
porém o que vai direcionar para a relevância da investigação é a abordagem, os
diferentes pontos temáticos.
O campo da moda é cercado por objetos
de significação e valor. As vestimentas, ornamentos, comportamentos têm valor
no jogo das aparências. Por isso, a relevância em elucidar dentro do estudo sobre
o tema, os elementos da moda e modos nas representações sociais e de gênero,
dando ênfase aos atributos físicos e comportamentais de homens e mulheres, e
observar, especialmente, a preocupação com a perda da feminilidade e a inversão
de valores, por exemplo, presentes no período da década de 1930.
Jéssica
Mayara Santos Sampaio é graduada em História pela Universidade Estadual do
Maranhão e Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIST) da
Universidade Estadual do Maranhão.
CALANCA,
Daniela. História Social da Moda. 2 edição. São Paulo: Editora Senac São Paulo,
2011.
GODART,
Frédéric. Sociologia da Moda. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010.
HALBWACHS,
Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
PINSKY,
Carla Bassanezzi. Gênero. In.: PINSKY, Bassanezi (org.). Novos Temas nas aulas
de História. São Paulo: Contexto, 2009.
SOUZA,
Gilda de Mello e. O espírito das roupas: a moda no século XIX. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987.
Instigante seu texto, pensar as perspectivas históricas e sua influência na vida social. Dê que maneira podemos trabalhar em sala de aula as diversas influências da moda em nossa vida cotidiana, e os olhares para outras indumentárias, outras culturas, ou até mesmo a hibridade social?
ResponderExcluirAtt.:
Lidiane Álvares Mendes
Boa noite.
ResponderExcluirPrimeiramente, parabéns pela pesquisa desenvolvida.
Você concorda que existe um estigma em relação à moda, onde a sociedade a classifica como futilidade e não há uma verdadeira observação em relação a tudo o que ela representa enquanto símbolo, identidade de grupo, classe social, etc?
Creio que este tipo de pesquisa se mantém apenas ao ramo de Design e Moda, mas não é muito abordado nas faculdades de História (na maioria, talvez nem seja). Você considera importante fazer esta abordagem nas graduações de História, pois entender a História da Moda seria entender parte da construção social de um povo?
Analuz Marinho Gonçalves
Olá, AnaLuz! Obrigada por sua contribuição!
ExcluirNos primeiros debates sobre moda, há uma crítica a essa enquadramento como futilidade, pois a moda representa as relações entre os diversos setores da sociedade, envolve economia e até a adoção de costumes e normas sociais. Em um levantamento que fiz durante a pesquisa, a maioria dos estudos não se faz no campo da História, mas fica evidente o esforço dos Historiadores em aproximar essa área dos debate em torno do feminino, dos segmentos menos abastados e outros que não tiveram visibilidade no decorrer do tempo. O trabalho com esse tema, permite fazer tanto no meio acadêmico, quanto no escolar, abordagens que relacionem e comparem o passado e o presente, tornando a interação ainda mais dinâmica pela possibilidade de pensar moda de uma forma diferente nos dias de hoje, sem excluir as variações de identidade, status, classe social, prestígio, entre outros. Esse texto é uma parte da pesquisa que tem como foco o período entre 1920 e 1950, as alterações entre as novidades presentes no começo do século XX e as normas sociais que vigoravam para moldar os comportamentos de homens e principalmente, de mulheres, nesse período.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito interessante de se pensar para a história através dessa perspectiva, e em como a moda e a indumentária diz muito sobre determinadas épocas, dá para se perceber a posição das pessoas na sociedade, sua cultura, costumes e até mesmo crenças pelo que essas pessoas vestiam. Em tempos de "ela estava vestindo roupa curta, ela estava pedindo" como justificativa para estupros, teria alguma estratégia para se trabalhar o tema moda em sala de aula? pensando especificamente o século XXI, seria isso uma boa ideia para que dessa forma também se conscientize e se evite a disseminação de que a roupa feminina justificaria atitudes masculinas machistas.
ResponderExcluirATT. Débora do Rocio Pacheco da Silva
Olá, Débora! Obrigada por sua contribuição!
ExcluirO mesmo questionamento surgiu quando trabalhei com a violência de gênero em ambiente escolar. Trabalhar com moda foi um desdobramento dessa pesquisa, apesar de não abordar com tanto foco a violência, tão presente nos dias de hoje. Uma das formas de desconstruir estereótipos é incluir a discussão de gênero em relação com a moda, a história e a sociedade, destacando inclusive a invisibilidade das mulheres durante o processo histórico, pois os grandes feitos evidenciam a figura masculina; a própria questão do dote como posse, passada de um homem (pai) para outro(marido);assuntos como mercado de trabalho, escolaridade; as diferenças entre os papéis sociais femininos e masculinos e a variação significativa das vestimentas ao longo do tempo. A união de todos esse fatores pode ser uma boa colaboração da história para construir novas ideias em sala de aula!