EDUCAÇÃO E IDEOLOGIA: PARA REPENSAR A
ESCOLA PÚBLICA HOJE
Diante
dos desafios da educação no mundo contemporâneo, a questão da ideologia
reassumiu um dos centros no debate que vai da dimensão política da educação à
ética profissional e a inserção de docentes e dos alunos nesses desafios. No
caso da realidade brasileira esse debate se torna premente as intervenções que
procuram se apropriar dos espaços educacionais como parte de uma luta contra poderes
e contrapoderes que, por vezes, em nada se relacionam com processos de
ensino-aprendizagem. Assim, procuramos neste trabalho retomar o conceito de
ideologia e propor uma breve reflexão sobre as relações de ideologia na escola
pública.
Dentre
os autores que nos ajudam a compreender o conceito de ideologia se encontra
Michael Löwy, que nos apresenta a obra Ideologias
e Ciências Social, em que traz em um de seus capítulos, o conceito de
ideologia, em que o mesmo (2006, p. 10) discute o debate inicial sobre o tema,
citando que, “é difícil encontrar na ciência social um conceito tão complexo,
tão cheio de significados, quanto o conceito de ideologia. Nele se dá uma
acumulação fantástica de contradições, de paradoxos, de arbitrariedades, de
ambiguidades, de equívocos e de mal entendidos, o que torna extremamente
difícil encontrar o seu caminho nesse labirinto”.
Em
seguida na obra, Löwy vem a propor uma conclusão provisória sobre tal conceito,
apresentando elementos centrais para a discussão, inicialmente com Destutt de
Tracy e a relação com a zoologia, Napoleão com o uso do termo para se referir a
um mundo especulativo. Apresenta Marx, que trabalha a ideia de que “ideologia é
um conceito pejorativo, um conceito crítico que implica ilusão, ou se refere a
consciência deformada da realidade que se dá através da ideologia dominante.”
(p.12) Temos contato ainda com Lênin, o qual, nos apresenta duas ideologias,
uma burguesa e outra proletária, e aplica ideologia como doutrina sobre a
realidade social. Para fechar esta primeira exposição de ideias, a obra
apresenta Karl Manheim, o qual distingue os conceitos de ideologia e de utopia.
Cita que para ele, “ideologia é o conjunto de concepções, ideias e
representações, teorias, que se orientam para a estabilização, ou legitimação,
ou reprodução, da ordem estabelecida.” (p. 12).
Sabe-se
que ao seguir a obra, é proposto se usar visões sociais de mundo, e não um
conceito de ideologia total, englobando, ideologia
e utopia. A iniciativa do autor deste
artigo é inicialmente situar o leitor neste sentido, em que serão expostas
várias ideias e buscar-se-á trabalhar com o conceito que mais cabe para o tema,
uma relação de Ideologia com a Escola Pública. Sabe-se que com o decorrer do
tempo, ideologia foi tendo outros significados ou sentidos, mas não teve sua
essência alterada em sua definição ou sentido, a de se afastar da questão das
ideias e do conhecimento. Acredita-se que o conhecimento se realize tendo as
ideias como fator principal, consequentemente, deverá se buscar uma ciência voltada
para as ideias.
Verifica-se
que o termo ideologia tem uma grande importância e é muito utilizado como
categoria de análise nas pesquisas em Ciências Sociais, estando atrelado com relação à utilização do método na construção
do conhecimento na área das Ciências Sociais e Humanas. É sabido que a Escola
Pública atua como um suporte social dentro da realidade social da sociedade que
a cerca, comunidade escolar em geral, os alunos e os docentes, em que se
envolvem e se relacionam em um cotidiano de ideias com suas visões de mundo,
seus valores, concepções e ideias, seguindo ideologias diferentes e vivenciando
realidades diferentes em busca de uma transformação desta realidade social.
A
IDEOLOGIA NA RELAÇÃO COM A ESCOLA PÚBLICA
Sabe-se
que a escola pública é um “organismo vivo”, uma instituição que faz parte e é
considerada um elemento da sociedade local. Muitos de seus componentes querem
fazer parte desta, já outros estão inseridos não por vontade própria, mas por
um dever com sua família, no caso de alguns alunos. De outro lado se encontram
os docentes, que tem como profissão o labutar na escola e por opção, a pública
(muitos ainda mantém vínculo com a escola privada), com sua visão de mundo,
buscando trazer o conhecimento aos alunos e fazer da melhor forma o seu papel.
Não
existe um consenso a respeito das diversas reformas educacionais no Brasil,
especialmente porque, muitas vezes, estas são impostas “de cima para baixo”,
sem uma discussão ampla com as partes interessadas. Uma reforma nacional, mas
que se volta para os Estados e Municípios, em que resulta em alterações das
práticas pedagógicas e da organização escolar, mas que vai muito a “contramão” das reais necessidades de alunos e
docentes. Sabe-se
a importância que a educação tem como elemento fundamental no
desenvolvimento social e econômico de uma sociedade, especialmente em países
como o Brasil, que se busca firmar enquanto nação em desenvolvimento para o
mundo.
Uma
das ideias principais do tema deste, é que a inserção do aluno na escola o leve
a um novo caminhar em sua vida, que ao adquirir conhecimentos, este consiga uma
ascensão pessoal e futuramente profissional, ou seja, a formação do
trabalhador, que busca a escola como meio de uma mudança de vida para todos.
Para tal, Saviani (2010, p. 429) escreve que, “nessas novas condições,
reforçou-se a importância da educação escolar na formação desses trabalhadores
(…)”. Mas o que é a Escola Pública? Sabe-se que tal definição é complexa, mas
se busca em Carvalho (1989, p. 21) um significado, em que este escreve;
“para
apreendermos o significado social da escola hoje e como a divisão do trabalho
aí se expressa, faz-se necessário situá-la no processo de reprodução das
relações sociais, em especial na forma que este assume no capitalismo monopolista.
Impõe-se preliminarmente captar o movimento no qual e através do qual se
engendram e se renovam as relações que peculiarizam a formação social
capitalista a formação social capitalista, partindo assim de um primeiro nível
de reflexão, de maior abrangência e abstração, para em seguida fixar a atenção
na escola, apreendendo-a na sua significação histórica”.
Sabe-se que na escola podemos observar que esta serviu e serve para
alimentar a ideologia das classes dominantes, mas muito representa ainda um
importante espaço para a troca, para a sociabilidade, um local para a
convivência coletiva, em que muitos de nossos jovens a tem como única opção
fora do seu lar. Apesar deste processo de busca, a escola pública é alvo de
medidas, ideias e imposições governamentais (Estado), em que os envolvidos no
processo educacional não opinam, são obrigados a cumprir, apenas as recebem e a
executam, ideias vindas de uma forma impositiva, que em muito não atendem as
necessidades e anseios dos envolvidos no processo, até desfazendo o caráter
social da escola. Pode-se apontar que esta ação, seja uma maneira deste Estado
mostrar força, assim pressionando aqueles que fazem parte do processo
educacional, atuando assim em cima dos grupos sociais subordinados.
Dentro
deste contexto, acredita-se que a escola se relacione com a chamada
superestrutura de Marx, em que esta se caracteriza como fruto de estratégias
daqueles grupos que são dominantes, existindo assim uma afirmação e
consequentemente a continuação de seu domínio, que em Löwy (2006, p. 105), cita
que “segundo essas observações, as visões de mundo, as ideologias, a
superestrutura, não configuram ideias isoladas mas um conjunto orgânico. São
sobretudo uma maneira de pensar”.
Dentro
deste contexto, se crê que o caminhar dos profissionais desta escola assim como
seus alunos, deva ser única, procurando buscar em conjunto tal ação, baseados
em seus direitos constitucionais e na união de todos, fazendo com que o Estado
reconheça a força de todos os envolvidos neste processo. A escola como
conhecemos é fruto do processo de modernização social, vem do processo de
industrialização, da modernização das cidades, do crescimento do capitalismo e
do consumismo, fatores que se apresentam nos dias atuais e não podem deixar de
ser debatidos. Assim, pode-se citar Marx, (o representante maior do
materialismo histórico), o qual entende que a ideologia é um fenômeno histórico-social
decorrente do modo de produção econômico. Marx e Engels afirmam que vivemos sob
a pressão da ideologia dominante, que é sempre a ideologia das classes
dominantes. Löwy (2006, p. 15) afirma que: “para Marx, aplicando o método
dialético, todos os fenômenos econômicos ou sociais, todas as chamadas leis da
economia e da sociedade, são produto da ação humana e, portanto, podem ser
transformados por essa ação”.
Busca-se
finalizar este tópico, observando que a escola é um lugar onde estão presentes
uma gama de diferentes pessoas, entre estes, os docentes e discentes, com seus
desejos, vontades e ideologias, convivendo juntos no mesmo espaço, em que se
realizam diversos papéis, devendo prevalecer a troca, o respeito e o
conhecimento, o qual também deve estar em constante transformação.
O PAPÉIS DOCENTE E DISCENTE NA ESCOLA PÚBLICA
Como citado anteriormente, a escola é um local em que ocorre o
relacionamento entre todos os envolvidos no processo educacional, tendo como
principais elementos dentro deste relacionamento, o aluno e o professor.
Sabe-se que na dinâmica
educacional, é uma constante, em que professor e alunos devem caminhar juntos,
ainda, abordar conceitos, efetuar o diálogo e devem estar em constante sintonia
diante do processo educacional e dos conteúdos trabalhados em sala de aula. Mas
se vê que para construir o conhecimento, deve-se considerar os elementos
envolvidos, com sua ideologia e reflexões.
A muito já se deixou de apontar o
docente como o único elemento detentor de conhecimento em sala de aula, tendo
hoje o papel docente como aquele que conduz o aluno no processo de conhecimento.
Ainda, para Ferreira in Rangel (2001, p. 84) a LDB/96 aponta em seu artigo 3º.
O seguinte texto: “o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios,
dentre eles: pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas”.
Quando se aborda o tema ideologia e
escola pública, ligados ao processo educacional, em que se busca discorrer
sobre um conjunto de ideias diversas que permeiam o horizonte dos personagens
desta instituição. Vemos em Vázquez (1977, p. 158) em que este afirma: “a
educação permite que o homem passe do reino das ‘sombras’, da ‘superstição’,
para o reino da razão. Educar é transformar a humanidade. Mas quem são esses
educadores que devem educar o resto da sociedade?”
Dentro do exposto, sabe-se que
devemos como docentes extrair dos nossos alunos os conhecimentos que os mesmos
trazem de sua vida, suas verdades e ideologias, mas devemos acreditar, que a
soma das partes, conhecimento somado a tais concepções, façam de nossos alunos
cidadãos. Acredita-se que estes não devam permanecer em estado de estagnação,
pois tal situação acabaria com a razão da instituição escolar, apesar desta
reproduzir as relações sociais de produção capitalistas, enquanto aparelho
ideológico do Estado.
Para Neto (2009, p. 07), este cita
que: “para nosso autor, a questão da manipulação é entendida, portanto, como
expressão do próprio processo constitutivo da modernidade. A natureza e o homem
tornam-se objetos disponíveis e possíveis de serem manipulados”. Ainda, se vê
que cada docente tem um papel a cumprir neste processo de “manipulação” de
nossos jovens, em que se inculcam ideologias e valores aos alunos,
pois é sabido que a sociedade cobra deste docente a sua atuação em sala de
aula, em que vários são os questionamentos em relação à forma como este docente
vem atuando no processo de formação das novas gerações, na forma como as
informações e os conhecimentos, estão sendo transmitidos aos alunos.
Ainda, cada docente
deve ofertar aos seus alunos a oportunidade de conhecer e se apropriar de
saberes diversos que os ajudarão em seu processo de formação acadêmica e
pessoal, ainda, não se pode deixar de lembrar que a escola é uma instituição
educacional e que esta se caracteriza como um espaço da sociabilidade, da troca
de conhecimentos e saberes diversos, sim, muito mais que “apenas” dos conteúdos
das disciplinas, em que se transformou em um espaço da cordialidade, da troca,
e do fomentar as diversas culturas inseridas nesta instituição. Um espaço em
que ocorra a construção do conhecimento, da oportunidade em poder fazer e que
ocorra o aprender a aprender.
Para
Demo (2009, p. 89): “aprender bem implica algumas dinâmicas entrelaçadas.
Podemos começar com as mais antigas, do pai da pedagogia, Sócrates, que, em sua
maiêutica, primava por relacionamentos emancipatórios, também visíveis no termo
“educação” em sua etimologia latina (retirar de dentro), colocando o professor
como referência promotora da autonomia e autoria dos alunos”.
Assim,
o papel do professor consiste em mediar a reflexão sobre os conteúdos
apresentados aos alunos, e que os levem a se sentirem parte do processo
histórico e de construção da sociedade. Isso implica a necessidade do docente
em dominar os conteúdos e a prática pedagógica e que esta se apresente de forma
flexível, inovadora e aberta a troca de informações e conhecimentos com seus
alunos, prevalecendo a interação, fortalecendo a construção do conhecimento.
Nesta realidade,
para enfrentar as dificuldades da profissão, o professor precisa ter buscar a
todo o momento como utilizar de forma melhor a prática pedagógica e a
metodologia que caiba para determinada turma. Neste sentindo, é preciso não só
buscar o lado da crítica da realidade dos professores, dos alunos e da escola,
mas propor concretamente ações que possibilitem mudanças de atitudes
individuais e coletivas, na perspectiva de apontar caminhos para a
desconstrução e construção do ensino.
Dentro deste contexto,
aponta-se que a prática da docência é intensa, deve acompanhar a
contemporaneidade em que a informação pode se transformar em conhecimento, em
que a articulação entre a teoria e a prática passa a ser um desafio constante
para os envolvidos no processo ensino/aprendizagem. Neste processo o professor
e seus alunos, têm um papel de suma importância, o de caminhar até as fontes,
dialogando com os conteúdos e buscando estratégias para ajudar na compreensão
dos referidos temas por parte dos alunos.
No
que se refere a entre professores e alunos, ainda se pode ver em Werneck (1984,
p. 87), que, “outro aspecto a ser considerado é que tanto o educador quanto o
educando estão sempre, durante toda a relação, inseridos num determinado meio
social. As condições sociais podem favorecer ou prejudicar o processo de
valorização”. E este meio em sociedade caracteriza o papel destes envolvidos no
processo escolar, pois nossos alunos hoje são diferentes dos alunos de 30 anos,
vivendo o hoje e cabe aos docentes, leva-los a um processo de reflexão,
apontando que o ontem pode ajudar o hoje.
Ainda
se pode citar que muitos alunos buscam e querem uma formação, outros não tem
uma definição certa do que querem, mas acredita-se que o importante é que todos
devem se sentir acolhidos na escola. Vê-se a importância em saber quem são
nossos alunos nos dias atuais, tempos em que a mídia e as redes sociais estão
em alta, em que estar conectado a tudo e a todos, é o mais importante. Para
Rossato, (2001, p.105) na cultura brasileira.
“(...)
o espaço da escola na vida das pessoas caracteriza-se como um, “divisor de
águas” e, de modo geral, todos concordam com sua importância e necessidade,
sendo sua frequência assegurada por lei. Contudo, qual o sentido de ir à escola
para aprender? Ir à escola para aprender o quê? Para que serve o que aprendemos
na escola? Destaco passado e presente. Os alunos só veem sentido no futuro, um
futuro como possibilidade, um futuro encharcado de esperança”.
A
escola busca colaborar com o desenvolvimento educacional e na transmissão de
valores, ainda, os docentes devem ter a consciência de que muitos de nossos
alunos têm a escola como ponto de apoio, pois em suas vidas apresentam-se muitos
problemas sociais. Valorização destes alunos é parte integrante do processo
educacional, estes devem ser reconhecidos como cidadãos e notados, tendo suas
atividades escolares apreciadas pelos docentes, fazendo do processo em sala de
aula, um ambiente de boas discussões e do crescimento educacional.
Dentro
deste contexto, Moraes (1997, p. 225) aponta que, “educar para a cidadania
global significa formar seres capazes de conviver, comunicar e dialogar num
mundo interativo e interdependente utilizando os instrumentos da cultura”.
Nossos
alunos de hoje tem meios próprios para o seu desenvolvimento pessoal, encontram
nos sites de relacionamento um modo de viver, uma “sociedade secreta”, em que
muitos ficam de fora. Ainda, estes possuem uma linguagem própria, em que viver,
é viver (como citado) o hoje, cabendo ao docente dar voz a estes, para que se
expressem e mostrem o que sabem.
Ainda,
se discute a realidade de trazer aspectos da vida real destes alunos para sala
de aula, acredita-se como um desafio, visto que a gama de informações trazidas
por estes jovens é muito grande.
Algo
como uma relação direta entre professor/aluno, colocando em práticas concepções
diversas de ensino, em que se formem não apenas cidadãos, mas também agentes de
transformação, dando oportunidade da inserção destes no contexto social,
político e econômico. Ainda, no que se refere a esta relação entre a escola e
os alunos, vê-se que a escola deve acompanhar a modernidade, mas deve também
manter seus valores e concepções dentro de uma linga moral, em que sua(s)
ideologia(s) seja utilizada para o crescimento de todos e para todos.
REFERÊNCIAS
Aruanã Antonio dos Passos é doutor em
História e docente do Departamento de Ciências Humanas da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) campus Pato Branco.
Willian Roberto
Vicentini é mestre em Educação e História e doutorando em Educação pela
Universidade Tuiuti do Paraná, docente da Faculdade Educacional de Colombo e da
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Prezados Aruanã e Willian, parabéns por trazerem uma reflexão extremamente relevante nos dias de hoje, com ótima abordagem teórica. Diante das abordagens sobre as ideologias presentes na sociedade, cujos conflitos adentraram o espaço da escola bem como o papel de professores e estudantes, como vocês veem os movimentos que defendem uma reeleitura da história, muitas vezes equivocada, como aqueles expressos pelo Escola sem Partido e pelos defensores da ditadura militar?
ResponderExcluirUm abraço,
Walace Ferreira.
Obrigado Wallace! Acreditamos que toda forma de pressão e de buscar reprimir ideias e debates é um grande problema, pois se vê que a escola se caracteriza pelo espaço do debate amplo e plural, em que se pode ouvir as partes e fomentar o diálogo construído com ideias. Quando se debate seriamente, ouvindo as partes e ofertando a oportunidade de que se exponha as diversas formas de pensar, acreditamos que ocorra o crescimento pessoal e de nossa comunidade escolar e acadêmica. Assim, a base de toda política é a argumentação e o diálogo. Ao contrário do embate e do combate agressivo, como muitas vezes acontece nas redes sociais, o verdadeiro desejo de ouvir e compreender o outro é o início de uma reconstrução dos espaços públicos para que possamos edificar um futuro sem preconceitos, racismos, homofobia, violência etc. Pode parecer idealismo ou ingenuidade, mas grandes pensadores do século passado diante dos horrores de seu tempo propuseram esta mesma estratégia, como é o caso de Hannah Arendt.
ExcluirUm forte abraço!
Aruanã e Willian.
Obrigado pela resposta. Concordo plenamente com vocês.
ExcluirGrande abraço,
Walace Ferreira.
Ao ler o texto de vocês, penso que seja um dos mais apropriados para a atualidade educacional brasileira com essa onda conservadora que traz como maior sinal o Escola sem Partido, cuja proposta é combater ideologias, assim sendo, poderiam dizer se na opinião de vocês esse debate sobre a ideologia na escola vai se aprofundar no sentido da reflexão sobre a escola pública e a necessidade de pensar a sociedade externa à escola. Grato.
ResponderExcluirFernando Tadeu Germinatti
Obrigado pela questão Fernando!
ExcluirComo citado, a escola se caracteriza pelo espaço da troca de ideias, mas devemos ter cuidado nesse sentido, pois acredita-se que neste nível de ensino, inserir ideologias ou massificar certas ideias não seja o correto. Em nossa opinião, o debate, a transparência e a informação são os antídotos para qualquer obscurantismo e para que se possa mostrar as múltiplas realidades e ideias, para que os alunos tirem suas próprias conclusões tendo clareza que os docentes não são legisladores, mas sim esclarecedores e motivadores da reflexão. É fundamental nesse processo sempre esclarecer qual é o nosso “lugar” de fala, nossa posição nos debates. Assim, orientar e mostrar a realidade, é o melhor caminho. Um detalhe importante é o seguinte: essa postura é importante em sala de aula, mas ela é imprescindível em outros espaços públicos, como reuniões com pais, direção, conselho pedagógico, eventos na escola, dentre outros.
Abração!
Aruanã e Willian.
Bom dia! Como vocês defenderiam a escola atual dos títulos de doutrinadora? A escola que deveria ser transformadora da realidade é a todo momento questionada por aqueles que estão de fora, tornando-a grande vilã da sociedade atual, sendo chamada de doutrinadora, o que resulta em "coisas" como o Escola sem Partido...Com nos posicionar no ambiente escolar?
ResponderExcluirEm meio a tanta informação rasa, muitos pensam saber e entender de tudo, são poucas as pessoas que vão mais fundo... Digo até mesmo entre os docentes, no qual grande parte estão se dizendo conservadores e apoiando esta ideologia conservadora que está posta, o discurso é que querem ser aceitos e respeitados novamente. Qual seria a saída para que haja realmente uma educação libertadora e emancipatória nos dias atuais, onde cada vez mais o docente é o vilão doutrinador daqueles que estão em formação e a escola pública de qualidade está cada dia mais distante...
ResponderExcluirObrigado pela questão Elaine!
ExcluirSua preocupação é fundamental! Passa-se hoje por uma “crise” de perspectivas em relação as escolas. Essa “crise” se expressa, aos nossos olhos, no lugar social que a escola ocupa no imaginário geral da sociedade. Muitas das definições sobre a escola são postas de forma superficial e aceitas de forma imediata, por exemplo: “a escola não educa”, “escola não ensina”, “com ensino médio não se arruma emprego”. São lugares comuns fundamentados num questionamento geral do papel e da posição das escolas hoje. Pensamos que a saída para esses questionamentos é abrir a escola para que a sociedade conheça o que se passa e quais as atividades que a vida escolar realiza. Só assim as pessoas tomarão conhecimento da realidade das escolas, suas condições de funcionamento. Da parte dos educadores e gestores escolares devemos divulgar, abrir, publicizar e convidar todos a conhecer sua escola e participar de suas atividades. Não podemos esperar nenhum “redentor” do sistema educacional, cabe a nós iniciar pelas nossas escolas a transformação dessa realidade. Ao conhecer a realidade das escolas, participar de reuniões e até mesmo abrir nossas aulas para quem quer que deseje acompanhar, sem dúvidas, pode ajudar a desmistificar e desmentir esses ataques às escolas de todo país. Ou seja, gestão compartilhada, democrática e participativa é a nossa sugestão.
abração!
Aruanã e Willian.
Primeiramente parabens pelo texto e pela escolha de tema, que anda em pauta devido a atuação de grupos conservadores e anti-intelectuais que buscam engessar o magistério.
ResponderExcluirMas como educadores, como podemos reagir a esses ataques como devemos nos portar quanto a neutralidade exigira pro tais grupos?
Olá Wagner,
ExcluirObrigado pela questão!
Um pouco da resposta que podemos te oferecer agora está inserida na questão anterior feita pela Elaine. Então, gostaríamos de destacar um outro aspecto, talvez, um pouco mais teórico, mas que deve se converter em prática de diálogo com aqueles que nos criticam e nos contrapõe. Talvez essa perspectiva não seja tão eficaz nas redes sociais, mas é fundamental construir um espaço autêntico de abertura para escuta e reflexão. E esse espaço deve começar por nós, antes de ser exigido dos nossos interlocutores. Em outras palavras, precisamos compreender nosso interlocutor, procurar entender o que se passa e como se edifica sua visão das coisas, o porque de sua posição, a sua lógica de funcionamento. Assim, o estudo do pensamento conservador, autoritário e anti-intelectual é fundamental nesse processo, mas aos nossos olhos, não com a perspectiva de superioridade do tipo "como conversar com um fascista", mas sim do "como me fazer entender diante do meu interlocutor". Não acreditamos que existam 57 milhões de fascistas em nosso país! Ou que as pessoas verdadeiramente estão preocupadas com neutralidade. Parece mais um jogo de poder onde o viés de confirmação conduz qualquer discussão que jamais produz consenso, apenas edifica e fortalece lugares pré-definidos.
Uma alternativa, difícil mas necessária é, aos nossos olhos, o diálogo franco, verdadeiro e aberto. Diálogo que pressupõe primeiramente ouvir e depois falar. É claro que há grupos raivosos que não estão interessados e aberto a essa tarefa, mas podemos começar construindo círculos que se ampliem gradativamente: familiares, amigos, alunos e assim por diante. Não é fácil, nem simples, nem rápido, mas urgente.
abraços,
Aruanã e Willian.
Olá e espero que estejam bem. Vou ser breve: mesmo compreendendo a Escola Pública como uma superestrutura que reproduz determinado pensamento dominante, acreditam os senhores que o conjunto de seres sociais ali envolvidos, incluindo obviamente professores e alunos e sua relação, é possível organizar, dentro e fora da escola diversas formas de resistência/ conformismo, usando como exemplo recente as ocupações de 2016? Muito grato!
ResponderExcluirOlá Fernando,
ExcluirSua pergunta é muito importante, obrigado!
Você citou um bom exemplo de como podemos nos organizar e produzir espaços de resistência e produz aquilo que a Hannah Arendt chama de "o novo". Mas, além de ocupar escolas como ocorreu em 2016, pensamos que a própria realidade cotidiana das atividades de aula pode contribuir para gerar formas de resistir, pensar, criticar a combater os nossos problemas educacionais e sociais mais amplos. Desenvolver projetos interdisciplinares e extracurriculares é fundamental para enfatizar o papel da escola enquanto agente transformador da sua comunidade, da sua realidade. Envolver família e comunidade em atividades escolares é muito importante para a definição de uma escola que possa ser transformadora para a vida de todos os que estão ligados a ela: alunos, professores, pais, comunidade em geral. Então, pensamos que podemos começar pelas nossas aulas e gradativamente envolver mais pessoas na tarefa de educar as próximas gerações para a liberdade, a cidadania e a consciência de nossa responsabilidade social.
Um forte abraço!
Aruanã e Willian.
Olá pessoal! Aqui é Aruanã, um dos autores do trabalho. Posto esse comentário com um importante esclarecimento. Eu e o professor Willian pensamos, discutimos e resolvemos postar as respostas da nossa discussão. Então, vai em meu nome, mas a resposta é nossa. Agradecemos imensamente as questões!
ResponderExcluirA bancada evangélica do Congresso Nacional tem apresentado projetos como o Escola Sem Partido, e seus membros têm feito declarações de que certo conteúdos, como ensino das religiões de matriz africana, seria uma tentativa de impor princípios religiosos nas escolas. Como você enxerga a atuação desta bancada neste tema e qual sua opinião sobre o Escola sem Partido?
ResponderExcluirAlcione Gonçalves da Cruz Jorge
Olá Alcione,
ExcluirObrigado pela questão!
Observamos a ação desses grupos a favor de seus próprios interesses. Um movimento mais que natural, já que eles estão representando seus grupos e suas visões de mundo. Enquanto sociedade civil podemos intervir nos debates e nos posicionar pressionando nossos parlamentares para que defendam nossos interesses. Esse é o aspecto prático da luta política.
No universo das nossas individualidades, vamos defender mais uma vez isso, é preciso sempre abrir o debate, a discussão e os espaços para que todos participem e se posicionem. Aqueles que pronunciam discursos de ódio devem ser confrontados no limite da lei e questionados sobre suas posições: porque você me enxerga assim? você tem conhecimento real "do que eu faço", "do que eu sou", "do que eu vivo"?
O princípio da tolerância e da convivência democrática é um produto da cultura e da sociabilidade que se desenvolvem no tempo e dialogicamente. Precisamos nos abrir ao diferente e convidar o diferente para nos conhecer melhor. Apenas buscando construir um mundo diverso mas em comum, juntos é que poderemos edificar uma sociedade mais justa. Uma vez mais afirmamos: devemos começar em nosso cotidiano, com as pessoas mais próximas e aumentar gradativamente esse círculo. Nada fácil, mas necessário!
Um forte abraço!
Aruanã e Willian.
Diante do cenário de crise em que se encontra a educação; estão inseridos diversos problemas, entre eles, o modelo tradicional que enfrenta em tempos atuais, muitos problemas na educação, justamente por estar muito ligado às metodologias do passado ao invés de buscar novas soluções. Assim como também, a falta de estrutura adequada. Outro problema grave na educação é a inexistência de politicas ativas, projetos, ações e programas inclusivos que assegurem a permanência dos alunos nas escolas evitando assim a segregação a marginalização e a evasão escolar principalmente nas séries iniciais. Diante do exposto, quais metodologias e instrumentos de mediação os docentes devem utilizar para extrair de seus alunos os conhecimentos que os mesmos trazem de suas experiências de vida, assim como também suas verdades e ideologias? Para que se formem não apenas cidadãos críticos e reflexivos, mas também agentes de transformação?
ResponderExcluirEliudes Dos Santos Barbosa
Olá Eliudes, tudo bem?
ExcluirObrigado pela questão!
Parece que uma certa crise na educação é tão grande que nossos alunos não vem sentido na escola, não tem interesse e a bagagem que trazem em muito não se aplica em relação aos conteúdos ofertados. Não é somente uma questão de metodologias inovadoras e de Políticas Públicas, mas também de vontade de todos os envolvidos no processo escolar, em fazer com que as coisas aconteçam. Que não é uma questão de base curricular comum. É, ao nosso ver, que os atores deste processo se mostrem envolvidos de verdade, que as Políticas Públicas fomentem o crescimento de todos, docentes e discentes, e que a inclusão seja efetuada de uma forma efetiva, sem maquiagens ou feita apenas pro forme.
Do chão da sala de aula, podemos afirmar a partir de nossas experiências, que as atividades organizadas a partir das metodologias ativas, como a sala de aula invertida, podem fomentar o desejo e o envolvimento dos alunos nas atividades cotidianas. Por fim, os projetos políticos pedagógicos devem contemplar ações que envolvam todos os sujeitos dos processos educacionais.
abraços,
Aruanã e Willian.