Cleberson Vieira de Araújo


DE “REPENTE” VIROU CORDEL


Introdução
A cultura popular é repleta de detalhes e sutilezas que dão a ela a leveza do inesperado e a despreocupação com a norma culta, o que não a diminui em nada quando comparada à cultura erudita.

No município de Nazarezinho, Estado da Paraíba, um nome há muito se destaca, no contexto da cultura popular e suas características e peculiaridades. Medeiros Braga e sua obra que mistura Literatura de cordel com educação ao tratar de temas educacionais na maioria de suas obras escritas.

Assim, esse breve trabalho tem por objetivo abordar o trabalho de Medeiros Braga mediante a um apontamento sobre sua obra na literatura popular mediante o cordel.

Esse trabalho se faz importante por tratar-se de um relevante eixo da cultura local, o cordel, associado a aspectos educacionais de forma histórica, lúdica e dinâmica, a literatura de cordel.

No tocante a metodologia, esse trabalho se apresenta como qualitativo e faz uso da literatura disponível para desenvolver suas análises mediante Abreu (1999) e Braga (2015).

“Cordelizando” a história
A arte popular e de massa ganhou destaque no nordeste como sendo a manifestação de um povo, “[...] considerada poesia, narrativa impressa e vendida em folhetos. Chegou ao Brasil no século XVIII, através dos portugueses, tendo forte circulação principalmente na região Nordeste do Brasil sendo o celeiro fértil do cordel”. (Oliveira; Silva Filho, 2013, p. 275).

A maior parte das produções de cordel tende a contar com as peculiaridades históricas e culturais da localidade em seu enredo, ainda que nos últimos anos esteja-se dando outras aplicações a essa escrita.

“[...] Distinções clássicas entre campo e cidade, cultura popular e cultura de elite parecem diluir-se perante os folhetos. No início do século, as diferenças entre campo e cidade não eram tão marcadas no Nordeste e, embora poetas e leitores pertencessem fundamentalmente às camadas pobres da população, membros da elite econômica também tinham nos folhetos e nas cantorias uma de suas principais fontes de lazer”. (Abreu, 1999, p.95).

Por sua espontaneidade e penetração popular, passou a ser largamente utilizada pelo povo que mesmo sem saber ler, aglomerava-se próximo aos que sabiam para escutar a interpretação e tudo isso passou a chamar a atenção da academia. Nesse contexto, a cultura popular a

“[...] cada dia passa ganha novos meios de divulgação comercialização através dos recursos tecnológicos. Uma literatura nordestina que hoje permeia o mundo apenas a um toque de botões percorrendo fronteiras através da internet, e outros meios de divulgação”. (Oliveira; Silva Filho, 2013, p. 285).

Mas, vai além da espontaneidade de um povo e adentra a sua história e necessidades peculiares que ganham força em versos, jeito e forma de fazer cultura e literatura para as massas.

“Conhecido como uma herança nordestina a Literatura de Cordel traz em seus folhetos assuntos ligados à política, educação, história, problemas sociais de ordem pública temas que englobam aspectos de saúde e medicina preventiva dentre outros sempre focando em assuntos do cotidiano. Utilizando uma linguagem acessível e cheia de ritmo; o que facilita a transmissão e assimilação de seu conteúdo. Em algumas situações a literatura de cordel é encontrada por meio de narrativa acompanhados de violas e recitados em praças com a presença do público, conhecida como peleja. Embora a literatura de cordel apresente um enorme potencial, seja fonte de informação e, um meio de comunicação de linguagem acessível, é escasso o número de folhetos disponíveis nas bibliotecas”. (Oliveira; Silva Filho, 2013, p. 275).

O que antes era vendido em bancas de jornal ou mesmo informalmente, agora ganho à internet e ate espaços antes reservados às elites, com interações que incrementam esse novo momento da tecnologia a literatura de cordel.

“O cordel começou a ganhar lugar no espaço virtual/digital a partir das mudanças inseridas pelos recursos tecnológicos, este novo processamento esta renovando os meios de criação ou repaginação mudando também o modo como esses folhetos são vendidos e expostos”. (Oliveira; Silva Filho, 2013, p.278).

É nesse importante contesto que Medeiros Braga apaixonou-se pela temática e passou a escrever títulos diversos sobre temas locais e também mundiais, mesmo tendo o início da sua história e trabalho vinculados a uma cidade pequena do interior do Estado da Paraíba, Nazarezinho.

Hoje conhecido mundialmente, é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC e atua em todo o país com apresentações e palestras ao envolver a literatura de cordel com temas educacionais como, por exemplo, “Lampião, o Rei do Cangaço”, e seu forte apelo vinculado a história e mazelas nordestinas.

Nesse título, especificamente, Medeiros Braga aborda a história do cangaceiro e sua ligação com o nordeste de forma musicada, como é típico dessa literatura ao asseverar:

“Lampião reconheceu/ Que numa luta, afinal,/ É necessário que haja/ Um motivo, um ideal;/ Conhecer seu inimigo,/ A dimensão do perigo/ No combate sepulcral”. (Braga, 2015, p.14).

Assim, de forma simples e explicação mínima a repetição do passado vai acontecendo e tomando vida aonde o próprio povo vai construindo, e contando, sua história sem preocupar-se com o formado, mas, com as mudanças e inovações nas quais está inserido, fazendo-se um tema tão pulsante para contemporaneidade. (Hobsbawn, 1984).

Logo, toda essa gama de possibilidades acaba abrindo espaço para seu uso no âmbito educacional para o ensino e aprendizagem de várias disciplinas a exemplo de história, uma das temáticas preferidas de Medeiros Braga e que lhe rendeu vários títulos de destaque.

Portanto, contar o passado não se faz tarefa simples e o uso da literatura de cordel pode atenuar esse processo ao demonstrar, de forma simples, que o povo também é capaz de fazer sua releitura do passado ao passo que dinamiza o presente de forma tão diversificada onde já passa a se fazer uso dessa técnica para fins educacionais.

Conclusão
O presente e o passado se encontram de diferentes formas e essa interação se faz necessária para que a cultura, bem como a história, permaneça viva e em constante movimento.

Os seres humanos são culturais em sua essência e fazer e manter essa cultura não se apresenta como uma tarefa fácil em um contexto cada vez mais cibernético e tecnológico de interações múltiplas em que há uma necessidade imperiosa de se reinventar.

Com isso, a literatura de cordel resiste de forma a penetrar campos e plataformas diversificadas, enquanto forma de superação e adaptação com a realidade vigente se apresentando assim, como uma grande oportunidade inclusive como incremento educacional em muitas áreas do saber.

Destaca-se nesse campo, da literatura de cordel, Medeiros Braga e sua forma diferenciada de atuar nesse campo da escrita ao adaptar a literatura para temas históricos e sociais de destaque e imprimir uma forma diferenciada e dinâmica de uso de seus livretos e folhetos para fins educacionais.

Portanto, uma iniciativa simples e ao mesmo tempo brilhante através de uma arte popular muito comum no nordeste brasileiro faz com que além de manter viva essa tradição, da literatura de cordel, ainda faça-se uso da mesma para além de divertir, ensinar.




Referências
Cleberson Vieira de Araújo é Pós - Doutorando em Política educativa, estudios sociales y culturales (CENID/ México), Professor efetivo de história da Secretaria Municipal de Educação de Nazarezinho/PB e da Secretaria Estadual de Educação da Paraíba.

ABREU, Márcia. Histórias de cordéis e folhetos. Campinas, SP: Mercado de letras: Associação de Leitura do Brasil, 1999.

BRAGA, Medeiros. Lampião, o Rei do Cangaço. 2015.

HOBSBAWN, Eric J. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

OLIVEIRA, M. L.; SILVA FILHO, M. N. R. . Literatura de Cordel: Uma arte que se expande através dos recursos tecnológicos. Web-Revista SOCIODIALETO, v. 4, p. 274-286, 2013. Disponível em: sociodialeto.com.br/edições/16/10012014014638.pdf. Acesso em 03 de março de 2019.



3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá Cleberson! Achei seu texto muito bacana. Também acredito que a literatura é uma grande ferramenta para ajudar a tornar o ensino de história mais prazeroso. Na mesma linha de seu texto, dias atrás entrei em contato com o texto do Albuquerquer Junior, “Quem é frouxo não se mete”: violência e masculinidade
    como elementos constitutivos da imagem do nordestino. Neste é discutido, por meio de um crime a da literatura de cordel, além de questões de violência, gênero, representações e a invenção histórica da região nordestina, bem como, de seus sujeitos, como o cordel e o crime dialogavam pelo fato da reprodução de algumas questões ditas naturalizadas para com a mulher e o homem nordestino. Exemplo, a mulher é a que precisa de proteção e o homem é o cabra macho.
    Então minha pergunta X curiosidade (pois não conheço os cordéis do Braga) é: Como (de maneira mais detalhada) se dá a representação ou a problematização dos sujeitos nos textos do Braga (pois, como mencionado seus cordéis se envolvem com temas educacionais) ? Atenciosamente. Gabriela Migon

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  3. Primeiramente, gostaria de parabenizar pelo excelente texto espero que mais pessoas vejam o seu trabalho!
    De acordo com o que você escreveu no texto o cordel era vendido em bancas de jornal ou mesmo informalmente porém, passou a ter espaço na internet em meio a tecnologia que vivemos hoje qual método que vc usaria para o introduzir a literatura de cordel nas disciplinas escolares?
    - Luana Patrícia Pereira

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