Debora Luana Ribeiro e Maria Juliana de Freitas Almeida


A EXCEÇÃO E A REGRA: UMA ANÁLISE COMPARADA DO PPP DE UMA ESCOLA MILITAR E UMA ESCOLA NÃO MILITAR


INTRODUÇÃO
A pesquisa tem por objetivo promover a comparação entre os Projeto Político-Pedagógicos (PPP) de duas escolas, uma militar e outra não militar, buscando as diferenças e semelhanças entre ambas, analisando questões didáticas, pedagógicas e disciplinares.

A escolha da análise dos PPPs das escolas em questão surgiu durante o Estágio Supervisionado realizado nos anos de 2017 e 2018. O primeiro, sendo no Ensino Fundamental, foi desenvolvido no colégio militar de Porangatu; e o segundo, no Ensino Médio, realizado no colégio do município de Formoso, ambos localizados no norte do estado de Goiás.

O Estágio Supervisionado é uma disciplina obrigatória para os cursos de Licenciatura, busca trabalhar a concepção de um processo de teoria e prática, sujeito à construção e reconstrução do conhecimento científico do estagiário.

O estágio tem por objetivo a preparação do aprendiz para a realidade do campo de trabalho em que se pretende seguir, proporcionando-lhe experiência em áreas ainda pouca compreendidas, capacitando, assim, “o estagiário para a realização de atividades nas escolas com os professores nas salas de aula, bem como para o exercício de analise, avaliação e crítica que possibilite a proposição de projetos de intervenção a partir dos desafios e dificuldades que a rotina do estágio nas escolas revela” (PIMENTA, 2008, p. 102).

O problema a ser analisado parte da necessidade de uma reflexão sobre a crescente transformação de uma parte das unidades educacionais públicas de ensino básico, as quais eram de  responsabilidade do governo do Estado de Goiás e que estão sendo transferidas para a Polícia Militar de Goiás, transformando-as, desta forma, em instituições de ensino militarizada. Através dos PPP  buscaremos diferenças e semelhanças entre as duas escolas utilizando o  método comparativo de Marc Bloch.

1. A HISTÓRIA COMPARADA DE MARC BLOCH
O método da comparação, mesmo com sua riqueza, ainda não é muito utilizado em pesquisas e trabalhos acadêmicos. Segundo Marc Bloch em sua obra “Por uma história comparada das sociedades europeias” (1998, p. 120), a história comparada é “um instrumento técnico de uso corrente, maleável e susceptível de resultados positivos. O método comparativo [...] não tenho a certeza de que até agora tal tenha sido suficientemente demonstrado”. Bloch (1998) afirma que mesmo com todas as demonstrações e técnicas, a maioria dos historiadores ainda relutam pela pratica do método.

Bloch propõe a utilização do método para estudos de sociedades europeias que são postas em comparação, buscando as semelhanças e diferenças entre si. Sendo destacadas duas formas da pesquisa comparativa:

“Escolhemos sociedades separadas no tempo e no espaço por distancias tais que a analogia observada de um lado e do outro, entre este ou aquele fenômeno, não possam, com toda a evidencia, explicar-se por influencias mútuas ou por alguma comunidade de origem. [...] mas há uma outra aplicação do progresso de comparação: estudar paralelamente sociedades a um tempo vizinhas e contemporâneas, incessantemente influenciadas umas pelas outras[...]”  (BLOCH, 1998, p.121-123, grifos nossos).

Estas duas alternativas de comparação deixam explícita sua preferência pelo segundo método, no qual se compara sociedades contemporâneas no mesmo tempo e espaço, e como uma influencia a outra.

Bloch salienta que não se deve interpretar o método comparativo como somente uma forma de “caçar” semelhanças, mas sim, do mesmo modo, deixar perceptível suas diferenças, mesmo que sua origem seja de caminhos diversos. Outro dever desta metodologia é buscar as origens das diferenças, podendo assim analisar de forma relevante cada uma delas (BLOCH, 1998). Sobre o método José D’Assunção Barros nos diz que:

“Trata-se de iluminar um objeto ou situação a partir de outro, mais conhecido, de modo que o espírito que aprofunda esta prática comparativa dispõe-se a fazer analogias, a identificar semelhanças e diferenças entre duas realidades, a perceber variações de um mesmo modelo (...) de modo a que os traços fundamentais de um ponham em relevo os aspectos do outro, dando a perceber as ausências de elementos em um e outro, as variações de intensidade relativas à mútua presença de algum elemento em comum”. (BARROS, 2007, p. 10).

Assim, a história comparada feita por Bloch e Barros, leva a pensar toda a importância para a formação do conhecimento histórico, o qual será utilizado para a análise dos PPP de instituições de ensino básico, que são regidas por administração diversificadas, utilizando o método que se analisa sociedade num mesmo tempo e espaço.

Um PPP deve ser criado a partir de problemas ou de um sentimento de busca de melhoria, por isso, apresenta diferenças de uma escola para outra e, também, entre períodos. Como todo projeto no início do ano letivo, o PPP se torna um documento guia para o desenvolvimento de atividades propostas. Assim:

“É preciso entender o projeto político-pedagógico da escola como um situar-se num horizonte de possibilidades na caminhada, no cotidiano, imprimindo uma direção que se deriva de respostas a um feixe de indagações tais como: que educação se quer e que tipo de cidadão se deseja, para que projeto de sociedade? A direção se fará ao se entender e propor uma organização que se funda no entendimento compartilhado dos professores, dos alunos e demais integrantes em educação” (ROMÃO E GADOLLI Apud PADILHA, 2001, p.44)

Em uma análise mais ampla, pode-se verificar que o PPP militar e o não militar, aqui analisados, mesmo com todas as características distintas, baseiam-se nos pré-requisitos apresentados para a construção estrutural, conduzindo a trabalhar de modo a compreender o surgimento da nova estratégia de manipulação da responsabilidade com a administração das unidades militarizadas.

“O primeiro colégio do estado de Goiás a ser transformado em colégio militar foi a Escola Estadual de 1º grau Vasco dos Reis, em 1999, que passou a se chamar, então, Colégio da Polícia Militar de Goiás Polivalente Modelo Vasco dos Reis, com cerca de 440 alunos. Em seguida, no ano 2000, a Secretaria de Educação entregou a direção do Colégio Hugo de Carvalho Ramos para o Colégio da Polícia Militar de Goiás (CPMG) com um quantitativo de 1700 alunos na época”.

Não se deve confundir CPMG (Colégio da Polícia Militar de Goiás) com CM (Colégio Militar), pois seus objetivos são diferentes, pois o primeiro é destinado à educação básica de jovens e de adolescentes sob a administração de militares somente, e o segundo é específico para a formação de novos soldados, com funcionários, em sua maioria, militares.

A motivação para a implantação desta nova forma de administração educacional misturada com a militarização teve toda uma abordagem política, segundo Guimarães (2018, p, 73):

“Com o pressuposto de diminuir a violência e melhorar o desempenho dos alunos em um ambiente seguro tanto para os alunos quanto para professores e funcionários, o governo de Goiás, a partir de uma parceria entre as Secretarias Estaduais de Segurança Pública e de Educação, firmou convênio para que escolas públicas sejam repassadas à Polícia Militar. Cabe destacar que as escolas selecionadas estão localizadas em sua maioria na periferia, onde há altos índices de homicídios e com baixos índices de aproveitamento no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

A educação brasileira, na atualidade, mesmo com todas as novas transformações em escolas públicas para o novo modelo militarizado, inspira um sentimento de luta contra esse novo método padronizado de pensamento, como salienta Guimarães (2018, p.74).

“É importante destacar que a emergência dos novos Modelos Militarizados de Gestão Escolar tem encontrado resistências. Em nota publicada pelo Fórum Estadual de Educação de Goiás (FEE-GO), manifesta-se uma posição contrária ao projeto de Lei que regulamenta a militarização de parte das escolas, ressaltando que é competência do governo de Goiás garantir uma escola pública de qualidade e não transferir essa competência para a Polícia Militar, cuja missão constitucional difere enormemente do projeto de educação do MEC”.

Toda esta nova proposta de direcionamento da educação pública para as mãos da polícia militar nos apresenta grandes contradições, como se refere Guimarães (2018, p.77): “Outra diferença seria o modelo de ingresso de novos alunos nas escolas e a reserva de 50% das vagas a serem destinadas aos filhos de policiais militares e os outros 50% destinados ao sorteio público aberto à comunidade estudantil”, sendo que por Lei todos têm o direito à educação, a qual é responsabilidade da família e do estado e, a deste, à inclusão gratuita.

A Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB) legitima que é “dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”, trazendo, pois, várias discussões a respeito da militarização do ensino acerca da possibilidade ser mascarada as reais intenções. CRUZ (2018, p. 151) destaca que: “os defensores dessas categorias não reconhecem que essa estratégia tira a responsabilidade do estado em cumprir com o que está previsto na lei, que toda criança tem direito a ter uma educação totalmente gratuita e de qualidade”.

Assim, através de um estudo dos possíveis parâmetros trabalhados para a formação de um PPP, e após uma análise sobre o caminhar da militarização das escolas públicas brasileiras, realizar-se-á a análise da construção dos dois PPPs, tão discutidos até agora, comparando-os.  

PPPs: semelhanças e diferenças (ANALISE)
Analisar de forma comparada os dois documentos de natureza orientadora, os quais são de suma importância para a sociedade educacional brasileira e de imensa complexidade, o foco da atividade são as características, principalmente, pedagógicas, assumidas pelos dois PPPs, que são construídos na mesma base pedagógica, mas, administrados de formas distintas.

O PPP é um instrumento claro que apresenta de forma objetiva e transparente: propostas, ideias e formações da escola. Desenvolvendo de forma prática tudo que ocorre dentro do campo escolar e tem como objetivo guiar seus membros no decorrer do ano letivo, promovendo soluções práticas e novas estratégias para adventos futuros para que haja uma mudança de resultados no final de todas as experiências. O PPP funciona como um guia para todos os planos dentro de uma instituição, através do qual busca desenvolvimentos imediatos e futuros, podendo ser alterado a qualquer momento, mesmo que seja período de utilização. Padilha acentua:

“Sem esquecer que a preocupação maior da escola deve ser o melhor atendimento ao aluno, o projeto político pedagógico deve partir da avaliação objetiva das necessidades e expectativas de todos os segmentos escolares. Deve ser considerado como um processo inclusivo, portanto, suscetível às mudanças necessárias durante sua concretização”. (PADILHA, 2001, p.76)

Todos os PPPs foram desenvolvidos coletivamente e democraticamente com a participação de todos os membros da instituição que trabalharam em conjunto para melhorar as questões sociais, pedagógicas, disciplinares e estruturais dentro do âmbito escolar, sendo composto, então, pelos professores, alunos, direção, e indivíduos da comunidade os quais têm uma ação participativa direta ou indireta nos resultados. Como Padilha mesmo ressalta:

A partir dos dados disponíveis e das discussões ate então realizadas, os participantes terão condições de estabelecer possíveis saídas para os problemas levantados, e, mesmo, de organizá-las por categorias, ou seja, definir, hipoteticamente, estratégias e ações específicas (para aquele ano letivo, por exemplo), para as atividades pedagógicas, para as administrativas, comunitárias e financeiras da escola”. (PADILHA, 2001, p.81)

O PPP das duas instituições caracteriza-se por apresentarem estrutura semelhantes de maneira explícitas, como a divisão por marcos. Primeiro, apresenta-se um diagnóstico da realidade em que a escola está inserida, como: a apresentação das ideologias; dos projetos já concretizados; da identificação da estrutura: física, pedagógica e organizacional (Marco Situacional).

Em segundo, evidencia-se que o referencial teórico aborda a conceitualização de pontos fundamentais da construção, como: o conceito de aluno; o conceito de professor; e todo o aparato jurídico e burocrático das escolas (Marco conceitual).

Por último, demonstra os planos desejados os quais se pretendem realizar, apresentando os objetivos das escolas, como: o que será trabalhado durante o ano letivo, com relação às disciplinas, às avaliações e à recuperação (Marco operacional). Estes seguimentos caracterizam e especificam cada período a ser transformado e reforçado durante o ano letivo, sendo que todos estes pontos conceituados dos marcos são mais bem desenvolvidos e descritos segundo a análise feita na unidade não militarizada.

Outra característica clara são as extensões e a fundamentação, na qual o PPP da escola não militarizada apresenta quase que o dobro de extensão do outro, o PPP militar contém 34 páginas e o PPP da unidade não militar apresenta 64 páginas. As referências bibliográficas do militar constituída somente por documentos obrigatórios disponibilizados pelo governo; já o não militar, apoia-se em referências de autores renomadas que trabalham para e pela educação, juntamente com os documentos disponibilizados pelo governo, assim, o PPP não militarizado se caracteriza mais específico e dinâmico com suas modalidades nele conceituado. Proporcionando, assim, uma maior clareza sobre seus objetivos e anseios.

Para maior clareza da análise, uma tabela foi desenvolvida, a qual vai demonstrar de forma objetiva as dessemelhanças entre os dois PPPs, afirmando que ambos seguem o mesmo raciocínio de construção, do qual a escola não militar goza de algumas ideias evolutivas de maior desenvoltura, como, por exemplo, projetos voltados para a classe menos favorecida da comunidade. Entretanto, a escola militar demonstra que apesar da sua popularidade e exaltação, possui em menor escala determinados elementos criativos e de origem revolucionário, mostrando ser de modelo tradicionalista, desenvolvendo apenas o que outros autores já afirmaram como base para sua construção, seguindo apenas regras já determinadas, sem ampliar ideologia e base. 

Tendo em vista que dentro dos PPP, existe uma amplitude de atividades desenvolvidas, destacam-se, neste trabalho, pontos determinantes com relação ao âmbito pedagógico que interferem diretamente no resultado final de uma educação de qualidade, na qual as marcações em vermelho destacam suas atividades equivalentes:

Quadro 1: Conceitos trabalhados em ambos os PPPs

Colégio não militar
Escola Militar
Dimensões pedagógicas
X

Pré-conselho
X

Conselho de classe
X
X
Pós-conselho
X

Reunião de pais
X                  
X
Direitos e deveres do aluno em sala de aula
X

Medidas socioeducativas
X

Proposta de formação continuada
X
X
Acompanhamento pedagógico dos professores
X

Reunião pedagógica com os professores
X

Avaliação do ensino aprendizagem
X
X
Rec. paralela e rec. da aprendizagem
  X
X
 Classificação e reclassificação
X
X
Progressão parcial
X
X
Avaliação e revisão do projeto político pedagógico
X
  X
Fonte: os autores

Diversas etapas, como já demonstrada anteriormente, são necessárias para a construção de um PPP, com isso, abordar-se-á agora como cada elemento citado no quadro acima é tratado em cada PPP, pois as “dimensões pedagógicas”, segundo o PPP da unidade não militarizada, são trabalhadas de forma coerente e detalhada, especificando como é o projeto de ensino da unidade; como é trabalhada a formação do aluno reflexivo; qual a metodologia trabalha na escola; apresenta como serão atingidos os objetivos propostos; como é a relação professor-aluno, entre outras temáticas fundamentais para a fundamentação pedagógica de toda instituição de ensino. Já o PPP do militar, não há uma coesão sobre o trabalho desenvolvido neste sentido.

Com relação ao “conselho de classe”, ambos os documentos analisados discutem o tema, mas de formas diferente, como, por exemplo, o PPP não militar faz uma abordagem mais ampla, discutindo conceitos e aspectos relacionados à justificativa apresentada no projeto.

Referente ao “pré-conselho” e ao “pós-conselho”, é trabalhado somente na unidade não militar, porque se caracterizam como de grande importância para a construção e análise dos assuntos debatidos no conselho de classe.

A “reunião de pais” é discutida de forma bem detalhada em ambos os PPP, explorando sua fundamentação de forma a influenciar toda estrutura educacional.

Somente no PPP não militar, os “direitos e deveres do aluno em sala de aula” são abordados objetivamente de todas as maneiras, sendo inexistentes no PPP militar.

A respeito das “Medidas Socioeducativas”, espera-se que esteja bem destacada no PPP de uma unidade militarizada, mas não foi isso que se pode verificar, pois durante a análise, foi constatado que o militar não aborda o tema, já o PPP não militar discute o assunto de forma detalhada e documentada seguindo todos os direitos e deveres dos envolvidos, incluindo: aluno, responsável, professor e gestores da unidade. Buscando o melhor desenvolvimento do aluno em sua formação acadêmica.

As “propostas de Formação continuada” são trabalhadas em ambos os PPPs, mas com imensa controvérsia em sua proposta final. O PPP não militar faz todo um aparato dentro da unidade, disponibilizando ao profissional, que deseje esta formação, um ambiente receptivo e colaborativo com progresso, fornecendo-lhes periódicas discussões sobre o assunto, programas de curso, encontros e seminários para alavancar as metas desejadas coletivamente e individualmente. Mas, em contraponto, o PPP militar apresenta ser somente de acompanhamento e responsabilidade do governo, sem a influência ou responsabilidade da unidade.

Outro ponto a ser destaque é a abordagem e a inexistência com relação ao “acompanhamento pedagógico dos professores”, e a “reunião pedagógica dos professores” no qual o PPP não militar discute especificamente cada passo e função deste processo, possibilitando ao professor um aparato especializado e de qualidade para com o desenvolvimento pedagógico no decorrer do ano letivo. Mas na análise do PPP militar não é mencionado.

A “Avaliação do ensino-aprendizado’’, a “Recuperação paralela e recuperação da aprendizagem”, a “Classificação e reclassificação”, a “Progressão parcial” e a “Avaliação e revisão do projeto político pedagógico” são trabalhadas nos PPPs de forma abrangente, destacando suas normativas e ferramentas para a melhor forma de ensino disponibilizado aos alunos, mesmo assim, a abordagem desenvolvida foi, consideravelmente, mais abrangedora no PPP não militar.

Ao decorrer do texto, foi demonstrado de forma explicita as diferenças e semelhanças de ambos os PPP, com a ideia do quadro, vê-se que o resultado é mais conclusivo, pois se tem acesso direto aos meios diferenciados e destacados em cada instituição.

O IDEB apresenta outra falha com relação à construção do PPP, sendo mais claro o militar, no qual os dados apontados pelo MEC, não estão claramente expressos, apresentando somente os índices já realizados pela instituição e sua projeção. Fazendo refletir sobre o descaso com as notas já obtidas no ano de 2013 e 2015, pois uma nota se encontra totalmente zerada e sem embasamento para a construção deste índice, como se pode analisar no quadro a baixo retirado do próprio PPP militar:

Quadro 2: EF Anos Finais
Ano Letivo
IDEB
Projeção
2005
3,30
0,00
2007
3,30
3,30
2009
3,00
3,50
2011
3,20
3,80
2013
0,00
3,20
2015
0,00
4,50
Fonte: PPP/ Escola Militar
Em contraponto, o IDEB apresentado pela instituição não militar promove uma análise digna, mostrando índices com comprovações documentais, ou seja, dados pelo MEC. Segue o modelo abaixo retirado do PPP da unidade não militar:
Quadro 3:  IDEB – 3ª Série do Ensino Médio (Estado de Goiás)
ANO
IDEB OBSERVADO
METAS PROJETADAS
2002
2,9
-
2007
2,8
2,9
2009
3,1
3,0
2011
3,6
3,2
2013
3,8
3,4
2015
-
3,8
2017
-
4,2
2019
-
4,4
2021
-
4,7
FONTE: MEC

Analisando-se o contexto do PPP percebe-se que há toda uma abordagem trabalhada nos dados obtidos pelo MEC e transcritos de acordo com a tabela a cima.

“A partir da análise dos indicadores do IDEB, esta Unidade Escolar tem buscado propostas de ações de melhoria além do trabalho em parceria com os pais e responsáveis para que os mesmos acompanhem o desempenho da escola de seus filhos, pela melhoria da educação”. (PPP, 2018, p. 19)

Portanto, mesmo com todas as semelhanças as duas unidades tratam o Índice de desenvolvimento da educação básica de formas controversas: a militar somente disponibiliza os dados aleatoriamente, enquanto o não militar faz uma discussão abrangente em todos os níveis possíveis a serem abordados dentro da unidade.

Um fato muito importante a ser destacado com relação ao PPP da escola militarizada, é que da documentação, a qual se teve acesso, em sua capa determina a data de 2018, porém ao decorrer do texto diversas passagens apresentam que o ano correspondente é o de 2013, sendo que a escola não tinha se tornado de administração militar naquele ano, assim, levando a entender que não foi feito uma atualização em seu todo.

O objetivo primordial de toda escola, segundo a Constituição Federal Brasileira e o Conselho Estadual de Educação do estado de Goiás, é o livre acesso de toda e qualquer pessoa à educação de qualidade seguindo regimento e regras para a formação de cidadãos responsáveis e habilitados à vida social. Considerando-o claramente exposto no decorrer dos dois documentos, os quais faz a devida conceituação, explorando todas as suas vertentes obrigatórias.

Baseando-se em uma análise mais profunda, é possível verificar que a documentação da escolar militarizada é superficial, seguindo, somente e especificamente, as normas e sugestões, negando uma abordagem criativa e inovadora. Mas, em contraponto, a escola não militar apresenta uma ampla atenção para os dados, trabalhando com tópicos e explicando de maneira clara e concisa os recursos metodológicos e diversificados para atender os anseios e os pontos de análises individualizados.

No decorrer dos documentos, a caracterização de suas dimensões pedagógicas e a forma como estão sendo trabalhados: os objetivos, as propostas e as metodologias; como é compreendida a formação do aluno, e a forma como se é visto o professor, todas são abordadas de formas distintas.

O PPP do colégio militarizado busca desenvolver ações pedagógicas e administrativas, tendo como meta a elaboração de projetos para a melhoria da escola, incentivando e melhorando assim o processo de ensino-aprendizagem. O projeto pedagógico é prioridade na escola, o qual foi elaborado numa reunião com todos os membros da unidade ao logo do ano letivo, cujo objetivo é a organização dos conteúdos educacionais, tendo como apoio os resultados já obtidos do ensino-aprendizagem e os índices nas avaliações externas. Com relação ao regimento da escola, é de total organização e de um desenvolvimento ativo, pois, pelo fato de ser um colégio militarizado, a questão do regimento é respeitado e seguido fielmente.

Segundo o PPP da unidade educacional não militar, o convívio com os pais é realizado em reuniões por bimestres e, também, por reuniões cuja finalidade é a construção do PPP; por meio da reconstrução e da participação efetiva dos pais durante esse acompanhamento e por meio dos projetos interdisciplinar que a unidade escolar realiza. Os pais participam de 98% das reuniões nas quais auxiliam na criação das normas de legislação do PPP e, principalmente, quando são convocados para reuniões individuais que tenham por fundamentação o desenvolvimento do aluno.

Já com relação ao PPP da unidade educacional militar, os responsáveis são aqueles de participação ativa com os assuntos da unidade, destacando-se na criação de uma Associação de Pais e Mestres, a qual tem por objetivo auxiliar a escola e colaborar com o aprimoramento do processo educacional, dando assistência à escola e à integração família-escola-comunidade.

Ainda de acordo com o PPP da unidade não militar, o papel do professor é caracterizado por não se resumir em apenas educar, mas também formar cidadãos conscientes de seus deveres e direitos em meio à sociedade. Trazendo, também de forma evidente, o método como é trabalhada a educação inclusiva, disponibilizando a integração do aluno portador de necessidades especiais à introdução e desenvolvimento no âmbito escolar.

No decorrer do PPP da unidade não militarizado, observa-se disposição de um pré-conselho, um conselho e um pós-conselho, os quais apresentam uma organização e planejamento para que sejam realizados em cada etapa. Se houver necessidade de troca de projeto, também é convocado o conselho a cada bimestre letivo; bem como para diagnosticar o desenvolvimento do aprendizado do aluno, das atribuições ao professor e do trabalho da escola em geral.

Segundo Cruz e Guimarães, a educação conservadorista transparece que apenas o professor detém o conhecimento, trabalhando com a repressão física, psicológica, educacional e moral, sendo exposta como repressão aos modelos tradicionalistas e conservadoristas. Deixando o aluno com limitação de pensamento, alienado e não sabendo como expressar questionamentos ou ideias, é questionável se realmente é o melhor modelo a ser implantado, mesmo que a justificativa para a mudança educacional seja os requisitos disciplinares ou evasão escolar.

Mesmo com todos os seus contrapontos e dessemelhanças no desenvolvimento e criação dos PPPs, as duas instituições analisadas ambicionam garantir a todos o acesso e sua permanência ao ambiente escolar, transformando os alunos em futuros cidadãos com críticas formadoras de conhecimento e seres capazes de atuarem em meio à transformação da sociedade.

CONCLUSÃO

Destarte, a educação brasileira sofre com inúmeras adversidades, tanto pedagógicas, quanto estruturais e financeiras, acarretando uma imensa devastação do desenvolvimento educacional e intelectual dos envolvidos; e mostrando-se desmedida a sequência de problemas que se apresentam.

Após analisar minuciosamente os dois PPP das unidades em questão, chega-se à conclusão que, mesmo com tantos desafios enfrentados, as investidas pedagógicas e educacionais, apresentadas pelos PPPs, conseguem desenvolver o papel de instituições formadoras do conhecimento.

A escola militar, por sua vez, não deve ser vista como um símbolo de superioridade, mas sim uma entre tantas outras unidades educacionais brasileiras, pois uma simples escola no norte goiano, não militar, mostrou-se de grande criatividade, desenvoltura e competência pedagógica. Assim, percebe-se que todos têm a mesma habilidade de desenvolver novas estratégias para aperfeiçoar o aluno, ajudando-o a ser um cidadão criativo, crítico, reflexivo que saiba questionar tudo a sua volta.

REFERÊNCIAS

Debora Luana Ribeiro: Graduando em Licenciatura Plena em História, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Campus de Porangatu.

Maria Juliana de Freitas Almeida: doutoranda do Programa de Pós Graduação em História (PPGH) da Universidade Estadual de Goiás (UEG); Mestre me Ciências Sociais e Humanidades pelo programa TECCER (Territórios e Expressões Culturais do Cerrado) da Universidade Estadual de Goiás (UEG); docente efetivo da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Campus de Porangatu.

BARROS, José D’Assunção. História Comparada  – da contribuição de Marc Bloch à constituição de um moderno campo historiográfico. Campinas – SP: 2007.

BLOCH, Marc. Para uma história comparada das sociedades européias. In: - História e Historiadores. Lisboa: Teorna, 1998. p. 119 – 15 0.

CARIA, Alcir de Souza. Projeto político-pedagógico em busca de novos sentidos. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2011.Disponível em: <http://www.acervo.paulofreire.org:8080/jspui/bitstream/7891/3085/1/FPF_PTPF_12_082.pdf>.
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CRUZ, Leandra Augusta De Carvalho Moura. Militarização Das Escolas Públicas Em Goiás: Disciplina Ou Medo? Goiânia, 2017.

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LAKATOS, Eva M.; MARCONI, Marina A. Fundamentos de Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
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LOPES, Noêmia. O que é o projeto político-pedagógico (PPP). [S.I.: s.n.], 2010. Disponível em: <https://gestaoescolar.org.br/conteudo/560/o-que-e-o-projeto-politico-pedagogico-ppp>.


PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagógico da escola. São Paulo : Cotez; Instituto Paulo Freire, 2001.

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PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Socorro Lucena Lima. Estágio e Docência. São Paulo: Editora Cortez, 2004.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. 3. Ed. São Paulo – SP: Cortez, 2008.

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PPP- Projeto Político Pedagógico. Colégio estadual Castro Alves – EFM, 2018.

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2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto e pela pesquisa. Quando você fala: “[...]transformando os alunos em futuros cidadãos com críticas formadoras de conhecimento e seres capazes de atuarem em meio à transformação da sociedade.”, nos mostra que, diferente de grande parte da população que é mal orientada e trata os CM como locais de doutrinação e falta de senso crítico, minha questão é qual o papel do docente na formação desses futuros cidadãos críticos nesses ambientes escolares?
    Angelita Maria Rocha Ferrari da Costa

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  2. Angelina, obrigada pela leitura. Os Colégios Militares ainda são uma novidade, para todos, pais, alunos, professores e sociedade em geral. A questão que você apresenta e outras, ainda demandam pesquisas, não sendo possível detectar apenas com a leitura do PPP.

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