A EXCEÇÃO E A REGRA: UMA ANÁLISE
COMPARADA DO PPP DE UMA ESCOLA MILITAR E UMA ESCOLA NÃO MILITAR
INTRODUÇÃO
A pesquisa tem por
objetivo promover a comparação entre os Projeto Político-Pedagógicos (PPP) de
duas escolas, uma militar e outra não militar, buscando as diferenças e
semelhanças entre ambas, analisando questões didáticas, pedagógicas e
disciplinares.
A escolha
da análise dos PPPs das escolas em questão surgiu durante o Estágio
Supervisionado realizado nos anos de 2017 e 2018. O primeiro, sendo no Ensino
Fundamental, foi desenvolvido no colégio militar de Porangatu; e o segundo, no
Ensino Médio, realizado no colégio do município de Formoso, ambos localizados
no norte do estado de Goiás.
O Estágio
Supervisionado é uma disciplina obrigatória para os cursos de Licenciatura,
busca trabalhar a concepção de um processo de teoria e prática, sujeito à
construção e reconstrução do conhecimento científico do estagiário.
O estágio tem
por objetivo a preparação do aprendiz para a realidade do campo de trabalho em
que se pretende seguir, proporcionando-lhe experiência em áreas ainda pouca
compreendidas, capacitando, assim, “o
estagiário para a realização de atividades nas escolas com os professores nas
salas de aula, bem como para o exercício de analise, avaliação e crítica que
possibilite a proposição de projetos de intervenção a partir dos desafios e
dificuldades que a rotina do estágio nas escolas revela” (PIMENTA, 2008, p. 102).
O problema a ser analisado parte da necessidade de uma reflexão
sobre a crescente transformação de uma parte das unidades educacionais públicas
de ensino básico, as quais eram de
responsabilidade do governo do Estado de Goiás e que estão sendo transferidas
para a Polícia Militar de Goiás, transformando-as, desta forma, em instituições
de ensino militarizada. Através dos PPP
buscaremos diferenças e semelhanças
entre as duas escolas utilizando o método comparativo de Marc Bloch.
1. A
HISTÓRIA COMPARADA DE MARC BLOCH
O método da
comparação, mesmo com sua riqueza, ainda não é muito utilizado em pesquisas e
trabalhos acadêmicos. Segundo Marc Bloch em sua obra “Por uma história
comparada das sociedades europeias” (1998, p. 120), a história comparada é “um
instrumento técnico de uso corrente, maleável e susceptível de resultados
positivos. O método comparativo [...] não tenho a certeza de que até agora tal
tenha sido suficientemente demonstrado”. Bloch (1998) afirma que mesmo com
todas as demonstrações e técnicas, a maioria dos historiadores ainda relutam
pela pratica do método.
Bloch propõe a
utilização do método para estudos de sociedades europeias que são postas em
comparação, buscando as semelhanças e diferenças entre si. Sendo destacadas
duas formas da pesquisa comparativa:
“Escolhemos sociedades
separadas no tempo e no espaço por distancias tais que a analogia observada de
um lado e do outro, entre este ou aquele fenômeno, não possam, com toda a
evidencia, explicar-se por influencias mútuas ou por alguma comunidade de origem.
[...] mas há uma outra aplicação do
progresso de comparação: estudar paralelamente sociedades a um tempo vizinhas e
contemporâneas, incessantemente influenciadas umas pelas outras[...]” (BLOCH, 1998, p.121-123, grifos nossos).
Estas duas
alternativas de comparação deixam explícita sua preferência pelo segundo
método, no qual se compara sociedades contemporâneas no mesmo tempo e espaço, e
como uma influencia a outra.
Bloch salienta que não
se deve interpretar o método comparativo como somente uma forma de “caçar”
semelhanças, mas sim, do mesmo modo, deixar perceptível suas diferenças, mesmo
que sua origem seja de caminhos diversos. Outro dever desta metodologia é
buscar as origens das diferenças, podendo assim analisar de forma relevante
cada uma delas (BLOCH, 1998). Sobre o método José D’Assunção Barros nos diz
que:
“Trata-se de iluminar
um objeto ou situação a partir de outro, mais conhecido, de modo que o espírito
que aprofunda esta prática comparativa dispõe-se a fazer analogias, a
identificar semelhanças e diferenças entre duas realidades, a perceber
variações de um mesmo modelo (...) de modo a que os traços fundamentais de um
ponham em relevo os aspectos do outro, dando a perceber as ausências de
elementos em um e outro, as variações de intensidade relativas à mútua presença
de algum elemento em comum”. (BARROS, 2007, p. 10).
Assim, a história
comparada feita por Bloch e Barros, leva a pensar toda a importância para a
formação do conhecimento histórico, o qual será utilizado para a análise dos PPP
de instituições de ensino básico, que são regidas por administração
diversificadas, utilizando o método que se analisa sociedade num mesmo tempo e
espaço.
Um PPP deve ser criado
a partir de problemas ou de um sentimento de busca de melhoria, por isso, apresenta
diferenças de uma escola para outra e, também, entre períodos. Como todo
projeto no início do ano letivo, o PPP se torna um documento guia para o
desenvolvimento de atividades propostas. Assim:
“É preciso entender o
projeto político-pedagógico da escola como um situar-se num horizonte de
possibilidades na caminhada, no cotidiano, imprimindo uma direção que se deriva
de respostas a um feixe de indagações tais como: que educação se quer e que
tipo de cidadão se deseja, para que projeto de sociedade? A direção se fará ao
se entender e propor uma organização que se funda no entendimento compartilhado
dos professores, dos alunos e demais integrantes em educação” (ROMÃO E GADOLLI
Apud PADILHA, 2001, p.44)
Em uma análise mais
ampla, pode-se verificar que o PPP militar e o não militar, aqui analisados,
mesmo com todas as características distintas, baseiam-se nos pré-requisitos
apresentados para a construção estrutural, conduzindo a trabalhar de modo a
compreender o surgimento da nova estratégia de manipulação da responsabilidade
com a administração das unidades militarizadas.
“O primeiro colégio do
estado de Goiás a ser transformado em colégio militar foi a Escola Estadual de
1º grau Vasco dos Reis, em 1999, que passou a se chamar, então, Colégio da Polícia
Militar de Goiás Polivalente Modelo Vasco dos Reis, com cerca de 440 alunos. Em
seguida, no ano 2000, a Secretaria de Educação entregou a direção do Colégio
Hugo de Carvalho Ramos para o Colégio da Polícia Militar de Goiás (CPMG) com um
quantitativo de 1700 alunos na época”.
Não se deve confundir
CPMG (Colégio da Polícia Militar de Goiás) com CM (Colégio Militar), pois seus
objetivos são diferentes, pois o primeiro é destinado à educação básica de
jovens e de adolescentes sob a administração de militares somente, e o segundo
é específico para a formação de novos soldados, com funcionários, em sua
maioria, militares.
A motivação para a
implantação desta nova forma de administração educacional misturada com a
militarização teve toda uma abordagem política, segundo Guimarães (2018, p,
73):
“Com o pressuposto de
diminuir a violência e melhorar o desempenho dos alunos em um ambiente seguro
tanto para os alunos quanto para professores e funcionários, o governo de
Goiás, a partir de uma parceria entre as Secretarias Estaduais de Segurança
Pública e de Educação, firmou convênio para que escolas públicas sejam
repassadas à Polícia Militar. Cabe destacar que as escolas selecionadas estão
localizadas em sua maioria na periferia, onde há altos índices de homicídios e
com baixos índices de aproveitamento no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
A educação brasileira,
na atualidade, mesmo com todas as novas transformações em escolas públicas para
o novo modelo militarizado, inspira um sentimento de luta contra esse novo
método padronizado de pensamento, como salienta Guimarães (2018, p.74).
“É importante destacar
que a emergência dos novos Modelos Militarizados de Gestão Escolar tem
encontrado resistências. Em nota publicada pelo Fórum Estadual de Educação de
Goiás (FEE-GO), manifesta-se uma posição contrária ao projeto de Lei que
regulamenta a militarização de parte das escolas, ressaltando que é competência
do governo de Goiás garantir uma escola pública de qualidade e não transferir
essa competência para a Polícia Militar, cuja missão constitucional difere
enormemente do projeto de educação do MEC”.
Toda esta nova
proposta de direcionamento da educação pública para as mãos da polícia militar
nos apresenta grandes contradições, como se refere Guimarães (2018, p.77):
“Outra diferença seria o modelo de ingresso de novos alunos nas escolas e a
reserva de 50% das vagas a serem destinadas aos filhos de policiais militares e
os outros 50% destinados ao sorteio público aberto à comunidade estudantil”,
sendo que por Lei todos têm o direito à educação, a qual é responsabilidade da
família e do estado e, a deste, à inclusão gratuita.
A Lei de Diretrizes e
Base da Educação Nacional (LDB) legitima que é “dever da família e do Estado, inspirada
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho”, trazendo, pois, várias
discussões a respeito da militarização do ensino acerca da possibilidade ser
mascarada as reais intenções. CRUZ (2018, p. 151) destaca que: “os
defensores dessas categorias não reconhecem que essa estratégia tira a
responsabilidade do estado em cumprir com o que está previsto na lei, que toda
criança tem direito a ter uma educação totalmente gratuita e de qualidade”.
Assim, através de um
estudo dos possíveis parâmetros trabalhados para a formação de um PPP, e após
uma análise sobre o caminhar da militarização das escolas públicas brasileiras,
realizar-se-á a análise da construção dos dois PPPs, tão discutidos até agora,
comparando-os.
PPPs:
semelhanças e diferenças (ANALISE)
Analisar de
forma comparada os dois documentos de natureza orientadora, os quais são de
suma importância para a sociedade educacional brasileira e de imensa
complexidade, o foco da atividade são as características, principalmente,
pedagógicas, assumidas pelos dois PPPs, que são construídos na mesma base
pedagógica, mas, administrados de formas distintas.
O PPP é um
instrumento claro que apresenta de forma objetiva e transparente: propostas,
ideias e formações da escola.
Desenvolvendo de forma prática tudo que ocorre dentro do campo escolar e tem como objetivo guiar seus membros no decorrer do ano
letivo, promovendo soluções práticas e novas estratégias para adventos futuros
para que haja uma mudança de resultados no final de todas as experiências. O
PPP funciona como um guia para todos os planos dentro de uma instituição,
através do qual busca desenvolvimentos imediatos e futuros, podendo ser
alterado a qualquer momento, mesmo que seja período de utilização. Padilha
acentua:
“Sem esquecer
que a preocupação maior da escola deve ser o melhor atendimento ao aluno, o
projeto político pedagógico deve partir da avaliação objetiva das necessidades
e expectativas de todos os segmentos escolares. Deve ser considerado como um
processo inclusivo, portanto, suscetível às mudanças necessárias durante sua
concretização”. (PADILHA, 2001, p.76)
Todos os PPPs
foram desenvolvidos coletivamente e democraticamente com a participação de
todos os membros da instituição que trabalharam em conjunto para melhorar as
questões sociais, pedagógicas, disciplinares e estruturais dentro do âmbito
escolar, sendo composto, então, pelos professores, alunos, direção, e
indivíduos da comunidade os quais têm uma ação participativa direta ou indireta
nos resultados. Como Padilha mesmo ressalta:
“A partir dos dados disponíveis e das
discussões ate então realizadas, os participantes terão condições de
estabelecer possíveis saídas para os problemas
levantados, e, mesmo, de organizá-las por categorias, ou seja, definir,
hipoteticamente, estratégias e ações específicas (para aquele ano letivo, por
exemplo), para as atividades pedagógicas, para as administrativas, comunitárias
e financeiras da escola”. (PADILHA, 2001, p.81)
O PPP das duas
instituições caracteriza-se por apresentarem estrutura semelhantes de maneira
explícitas, como a divisão por marcos. Primeiro,
apresenta-se um diagnóstico da realidade em que a escola está inserida, como: a
apresentação das ideologias; dos projetos já concretizados; da identificação da
estrutura: física, pedagógica e organizacional (Marco Situacional).
Em segundo,
evidencia-se que o referencial teórico aborda a conceitualização de pontos fundamentais da construção, como: o conceito de aluno; o conceito de
professor; e todo o aparato jurídico e burocrático das escolas (Marco
conceitual).
Por último,
demonstra os planos desejados os quais se pretendem realizar, apresentando os
objetivos das escolas, como: o que será trabalhado durante o ano letivo, com
relação às disciplinas, às avaliações e à recuperação (Marco operacional).
Estes seguimentos caracterizam e especificam cada período a ser transformado e
reforçado durante o ano letivo, sendo que todos estes pontos conceituados dos
marcos são mais bem desenvolvidos e descritos segundo a análise feita na
unidade não militarizada.
Outra
característica clara são as extensões e a fundamentação, na qual o PPP da
escola não militarizada apresenta quase que o dobro de extensão do outro, o PPP
militar contém 34 páginas e o PPP da unidade não militar apresenta 64 páginas.
As referências bibliográficas do militar constituída somente por documentos
obrigatórios disponibilizados pelo governo; já o não militar, apoia-se em
referências de autores renomadas que trabalham para e pela
educação, juntamente com os documentos disponibilizados pelo governo, assim, o
PPP não militarizado se caracteriza mais específico e dinâmico com suas
modalidades nele conceituado. Proporcionando, assim, uma maior clareza sobre seus
objetivos e anseios.
Para maior clareza da
análise, uma tabela foi desenvolvida, a qual vai demonstrar de forma objetiva
as dessemelhanças entre os dois PPPs, afirmando que ambos seguem o mesmo
raciocínio de construção, do qual a escola não militar goza de algumas ideias
evolutivas de maior desenvoltura, como, por exemplo, projetos voltados para a
classe menos favorecida da comunidade. Entretanto, a escola militar demonstra
que apesar da sua popularidade e exaltação, possui em menor escala determinados
elementos criativos e de origem revolucionário, mostrando ser de modelo
tradicionalista, desenvolvendo apenas o que outros autores já afirmaram como
base para sua construção, seguindo apenas regras já determinadas, sem ampliar
ideologia e base.
Tendo
em vista que dentro dos PPP, existe uma amplitude de atividades desenvolvidas,
destacam-se, neste trabalho, pontos determinantes com relação ao âmbito
pedagógico que interferem diretamente no resultado final de uma educação de
qualidade, na qual as marcações em vermelho destacam suas atividades
equivalentes:
Quadro
1: Conceitos trabalhados em ambos os PPPs
|
Colégio não militar
|
Escola Militar
|
Dimensões
pedagógicas
|
X
|
|
Pré-conselho
|
X
|
|
Conselho de classe
|
X
|
X
|
Pós-conselho
|
X
|
|
Reunião de pais
|
X
|
X
|
Direitos e deveres do aluno em sala de aula
|
X
|
|
Medidas socioeducativas
|
X
|
|
Proposta de formação continuada
|
X
|
X
|
Acompanhamento pedagógico dos professores
|
X
|
|
Reunião pedagógica com os professores
|
X
|
|
Avaliação do ensino aprendizagem
|
X
|
X
|
Rec. paralela e rec. da aprendizagem
|
X
|
X
|
Classificação e reclassificação
|
X
|
X
|
Progressão parcial
|
X
|
X
|
Avaliação e revisão do projeto político
pedagógico
|
X
|
X
|
Fonte: os
autores
Diversas
etapas, como já demonstrada anteriormente, são necessárias para a construção de
um PPP, com isso, abordar-se-á agora como cada elemento citado no quadro acima
é tratado em cada PPP, pois as “dimensões pedagógicas”, segundo o PPP da
unidade não militarizada, são trabalhadas de forma coerente e detalhada,
especificando como é o projeto de ensino da unidade; como é trabalhada a
formação do aluno reflexivo; qual a metodologia trabalha na escola; apresenta
como serão atingidos os objetivos propostos; como é a relação professor-aluno,
entre outras temáticas fundamentais para a fundamentação pedagógica de toda
instituição de ensino. Já o PPP do militar, não há uma coesão sobre o trabalho
desenvolvido neste sentido.
Com relação
ao “conselho de classe”, ambos os documentos analisados discutem o tema, mas de
formas diferente, como, por exemplo, o PPP não militar faz uma abordagem mais
ampla, discutindo conceitos e aspectos relacionados à justificativa apresentada
no projeto.
Referente ao
“pré-conselho” e ao “pós-conselho”, é trabalhado somente na unidade não
militar, porque se caracterizam como de grande importância para a construção e
análise dos assuntos debatidos no conselho de classe.
A “reunião de
pais” é discutida de forma bem detalhada em ambos os PPP, explorando sua
fundamentação de forma a influenciar toda estrutura educacional.
Somente no
PPP não militar, os “direitos e deveres do aluno em sala de aula” são abordados
objetivamente de todas as maneiras, sendo inexistentes no PPP militar.
A respeito
das “Medidas Socioeducativas”, espera-se que esteja bem destacada no PPP de uma
unidade militarizada, mas não foi isso que se pode verificar, pois durante a
análise, foi constatado que o militar não aborda o tema, já o PPP não militar
discute o assunto de forma detalhada e documentada seguindo todos os direitos e
deveres dos envolvidos, incluindo: aluno, responsável, professor e gestores da
unidade. Buscando o melhor desenvolvimento do aluno em sua formação acadêmica.
As “propostas
de Formação continuada” são trabalhadas em ambos os PPPs, mas com imensa
controvérsia em sua proposta final. O PPP não militar faz todo um aparato
dentro da unidade, disponibilizando ao profissional, que deseje esta formação,
um ambiente receptivo e colaborativo com progresso, fornecendo-lhes periódicas
discussões sobre o assunto, programas de curso, encontros e seminários para
alavancar as metas desejadas coletivamente e individualmente. Mas, em
contraponto, o PPP militar apresenta ser somente de acompanhamento e responsabilidade
do governo, sem a influência ou responsabilidade da unidade.
Outro ponto a
ser destaque é a abordagem e a inexistência com relação ao “acompanhamento
pedagógico dos professores”, e a “reunião pedagógica dos professores” no qual o
PPP não militar discute especificamente cada passo e função deste processo,
possibilitando ao professor um aparato especializado e de qualidade para com o
desenvolvimento pedagógico no decorrer do ano letivo. Mas na análise do PPP
militar não é mencionado.
A “Avaliação
do ensino-aprendizado’’, a “Recuperação paralela e recuperação da
aprendizagem”, a “Classificação e reclassificação”, a “Progressão parcial” e a
“Avaliação e revisão do projeto político pedagógico” são trabalhadas nos PPPs
de forma abrangente, destacando suas normativas e ferramentas para a melhor
forma de ensino disponibilizado aos alunos, mesmo assim, a abordagem
desenvolvida foi, consideravelmente, mais abrangedora no PPP não militar.
Ao decorrer
do texto, foi demonstrado de forma explicita as diferenças e semelhanças de
ambos os PPP, com a ideia do quadro, vê-se que o resultado é mais conclusivo,
pois se tem acesso direto aos meios diferenciados e destacados em cada
instituição.
O IDEB
apresenta outra falha com relação à construção do PPP, sendo mais claro o
militar, no qual os dados apontados pelo MEC, não estão claramente expressos,
apresentando somente os índices já realizados pela instituição e sua projeção.
Fazendo refletir sobre o descaso com as notas já obtidas no ano de 2013 e 2015,
pois uma nota se encontra totalmente zerada e sem embasamento para a construção
deste índice, como se pode analisar no quadro a baixo retirado do próprio PPP
militar:
Quadro 2: EF
Anos Finais
Ano Letivo
|
IDEB
|
Projeção
|
2005
|
3,30
|
0,00
|
2007
|
3,30
|
3,30
|
2009
|
3,00
|
3,50
|
2011
|
3,20
|
3,80
|
2013
|
0,00
|
3,20
|
2015
|
0,00
|
4,50
|
Fonte: PPP/
Escola Militar
Em
contraponto, o IDEB apresentado pela instituição não militar promove uma
análise digna, mostrando índices com comprovações documentais, ou seja, dados
pelo MEC. Segue o modelo abaixo retirado do PPP da unidade não militar:
Quadro
3: IDEB – 3ª Série do Ensino Médio
(Estado de Goiás)
ANO
|
IDEB OBSERVADO
|
METAS PROJETADAS
|
2002
|
2,9
|
-
|
2007
|
2,8
|
2,9
|
2009
|
3,1
|
3,0
|
2011
|
3,6
|
3,2
|
2013
|
3,8
|
3,4
|
2015
|
-
|
3,8
|
2017
|
-
|
4,2
|
2019
|
-
|
4,4
|
2021
|
-
|
4,7
|
FONTE: MEC
Analisando-se
o contexto do PPP percebe-se que há toda uma abordagem trabalhada nos dados
obtidos pelo MEC e transcritos de acordo com a tabela a cima.
“A partir da análise dos
indicadores do IDEB, esta Unidade Escolar tem buscado propostas de ações de
melhoria além do trabalho em parceria com os pais e responsáveis para que os
mesmos acompanhem o desempenho da escola de seus filhos, pela melhoria da
educação”. (PPP, 2018, p. 19)
Portanto,
mesmo com todas as semelhanças as duas unidades tratam o Índice de
desenvolvimento da educação básica de formas controversas: a militar somente
disponibiliza os dados aleatoriamente, enquanto o não militar faz uma discussão
abrangente em todos os níveis possíveis a serem abordados dentro da unidade.
Um fato muito
importante a ser destacado com relação ao PPP da escola militarizada, é que da documentação, a qual
se teve acesso, em sua capa determina a data de 2018, porém ao decorrer do
texto diversas passagens apresentam que o ano correspondente é o de 2013, sendo
que a escola não tinha se tornado de administração militar naquele ano, assim,
levando a entender que não foi feito uma atualização em seu todo.
O objetivo primordial de
toda escola, segundo a Constituição Federal Brasileira e o Conselho Estadual de
Educação do estado de Goiás, é o livre acesso de toda e qualquer pessoa à
educação de qualidade seguindo regimento e regras para a formação de cidadãos
responsáveis e habilitados à vida social. Considerando-o claramente exposto no
decorrer dos dois documentos, os quais faz a devida conceituação, explorando
todas as suas vertentes obrigatórias.
Baseando-se em uma
análise mais profunda, é possível verificar que a documentação da escolar
militarizada é superficial, seguindo, somente e especificamente, as normas e
sugestões, negando uma abordagem criativa e inovadora. Mas, em contraponto, a
escola não militar apresenta uma ampla atenção para os dados, trabalhando com
tópicos e explicando de maneira clara e concisa os recursos metodológicos e diversificados
para atender os anseios e os pontos de análises individualizados.
No decorrer dos
documentos, a caracterização de suas dimensões pedagógicas e a forma como estão
sendo trabalhados: os objetivos, as propostas e as metodologias; como é
compreendida a formação do aluno, e a forma como se é visto o professor, todas
são abordadas de formas distintas.
O PPP do colégio
militarizado busca desenvolver ações pedagógicas e administrativas, tendo como
meta a elaboração de projetos para a melhoria da escola, incentivando e
melhorando assim o processo de ensino-aprendizagem. O projeto pedagógico é
prioridade na escola, o qual foi elaborado numa reunião com todos os membros da
unidade ao logo do ano letivo, cujo objetivo é a organização dos conteúdos
educacionais, tendo como apoio os resultados já obtidos do ensino-aprendizagem
e os índices nas avaliações externas. Com relação ao regimento da escola, é de
total organização e de um desenvolvimento ativo, pois, pelo fato de ser um
colégio militarizado, a questão do regimento é respeitado e seguido fielmente.
Segundo o PPP da unidade
educacional não militar, o convívio com os pais é realizado em reuniões por
bimestres e, também, por reuniões cuja finalidade é a construção do PPP; por
meio da reconstrução e da participação efetiva dos pais durante esse
acompanhamento e por meio dos projetos interdisciplinar que a unidade escolar
realiza. Os pais participam de 98% das reuniões nas quais auxiliam na criação
das normas de legislação do PPP e, principalmente, quando são convocados para
reuniões individuais que tenham por fundamentação o desenvolvimento do aluno.
Já com relação ao PPP da
unidade educacional militar, os responsáveis são aqueles de participação ativa
com os assuntos da unidade, destacando-se na criação de uma Associação de Pais
e Mestres, a qual tem por objetivo auxiliar a escola e colaborar com o
aprimoramento do processo educacional, dando assistência à escola e à
integração família-escola-comunidade.
Ainda de acordo com o PPP
da unidade não militar, o papel do professor é caracterizado por não se resumir
em apenas educar, mas também formar cidadãos conscientes de seus deveres e
direitos em meio à sociedade. Trazendo, também de forma evidente, o método como
é trabalhada a educação inclusiva, disponibilizando a integração do aluno
portador de necessidades especiais à introdução e desenvolvimento no âmbito
escolar.
No decorrer do PPP da
unidade não militarizado, observa-se disposição de um pré-conselho, um conselho
e um pós-conselho, os quais apresentam uma organização e planejamento para que
sejam realizados em cada etapa. Se houver necessidade de troca de projeto,
também é convocado o conselho a cada bimestre letivo; bem como para
diagnosticar o desenvolvimento do aprendizado do aluno, das atribuições ao
professor e do trabalho da escola em geral.
Segundo Cruz e Guimarães,
a educação conservadorista transparece que apenas o professor detém o
conhecimento, trabalhando com a repressão física, psicológica, educacional e
moral, sendo exposta como repressão aos modelos tradicionalistas e
conservadoristas. Deixando o aluno com limitação de pensamento, alienado e não
sabendo como expressar questionamentos ou ideias, é questionável se realmente é
o melhor modelo a ser implantado, mesmo que a justificativa para a mudança
educacional seja os requisitos disciplinares ou evasão escolar.
Mesmo com todos os
seus contrapontos e dessemelhanças no desenvolvimento e criação dos PPPs, as
duas instituições analisadas ambicionam garantir a todos o acesso e sua
permanência ao ambiente escolar, transformando os alunos em futuros cidadãos
com críticas formadoras de conhecimento e seres capazes de atuarem em meio à
transformação da sociedade.
CONCLUSÃO
Destarte, a educação
brasileira sofre com inúmeras adversidades, tanto pedagógicas, quanto
estruturais e financeiras, acarretando uma imensa devastação do desenvolvimento
educacional e intelectual dos envolvidos; e mostrando-se desmedida a sequência
de problemas que se apresentam.
Após analisar
minuciosamente os dois PPP das unidades em questão, chega-se à conclusão que,
mesmo com tantos desafios enfrentados, as investidas pedagógicas e
educacionais, apresentadas pelos PPPs, conseguem desenvolver o papel de
instituições formadoras do conhecimento.
A escola militar, por
sua vez, não deve ser vista como um símbolo de superioridade, mas sim uma entre
tantas outras unidades educacionais brasileiras, pois uma simples escola no
norte goiano, não militar, mostrou-se de grande criatividade, desenvoltura e
competência pedagógica. Assim, percebe-se que todos têm a mesma habilidade de
desenvolver novas estratégias para aperfeiçoar o aluno, ajudando-o a ser um
cidadão criativo, crítico, reflexivo que saiba questionar tudo a sua volta.
REFERÊNCIAS
Debora Luana Ribeiro:
Graduando em Licenciatura Plena em História, da Universidade Estadual de Goiás
(UEG), Campus de Porangatu.
Maria Juliana de
Freitas Almeida: doutoranda do Programa de Pós Graduação em História (PPGH) da
Universidade Estadual de Goiás (UEG); Mestre me Ciências Sociais e Humanidades
pelo programa TECCER (Territórios e Expressões Culturais do Cerrado) da
Universidade Estadual de Goiás (UEG); docente efetivo da Universidade Estadual
de Goiás (UEG), Campus de Porangatu.
BARROS, José
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constituição de um moderno campo historiográfico. Campinas – SP: 2007.
BLOCH, Marc. Para uma história comparada das sociedades
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15 0.
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Cortez, 2008.
PPP- Projeto Político
Pedagógico. Colégio da Polícia Militar de Goiás – Tomaz Martins da cunha– EFM,
2017.
PPP- Projeto Político
Pedagógico. Colégio estadual Castro Alves – EFM, 2018.
Parabéns pelo texto e pela pesquisa. Quando você fala: “[...]transformando os alunos em futuros cidadãos com críticas formadoras de conhecimento e seres capazes de atuarem em meio à transformação da sociedade.”, nos mostra que, diferente de grande parte da população que é mal orientada e trata os CM como locais de doutrinação e falta de senso crítico, minha questão é qual o papel do docente na formação desses futuros cidadãos críticos nesses ambientes escolares?
ResponderExcluirAngelita Maria Rocha Ferrari da Costa
Angelina, obrigada pela leitura. Os Colégios Militares ainda são uma novidade, para todos, pais, alunos, professores e sociedade em geral. A questão que você apresenta e outras, ainda demandam pesquisas, não sendo possível detectar apenas com a leitura do PPP.
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