HISTÓRIAS DE PESCADOR:
UMA REFLEXÃO SOBRE O TEMPO, A MEMÓRIA E A HISTÓRIA NO
BENDENGÓ DO UBÁ E O DESAFIO DE (RE)INTERPRETAR O PASSADO
Numa manhã ensolarada, novembro de 2016, comunidade
ribeirinha às margens do Rio Ivaí, na varanda de uma aconchegante casa de
madeira, algumas partes já em alvenaria, bancos e cadeiras de madeira, sofá
forrado de tapetes artesanalmente confeccionados de retalhos coloridos, pisos
de “caquinhos”, parentes que estavam de visita se despedindo e seguindo viagem,
entre uma xícara de café e outra, uma deliciosa conversa sobre memórias:
Pescador Maurício - quando nós cheguemo aqui. Aqui, isso
aqui, era uma safra de porco.
Entrevistadora – Isso! Conta um pouco para mim como
era aqui quando o senhor chegou. 1954, né? (apesar de confirmar essa data no
início da entrevista, neste momento segue o pescador, parecendo não ter nem
ouvido minha pergunta quanto ao ano de sua chegada).
Pescador Maurício – Que vê. 59, 59, 60 (a voz engasga e
não completa o sessenta. Uma pausa de alguns segundos), 55 por aí, isso aqui
era 14 alqueire cercado de tabua, só porco.
No fundo a voz da esposa dona
Francisca, diz:
era a coisa mais bonita.
Segue o pescador Maurício: pura batata. Pura Batata. Batata doce
e mio. Só tinha um trio aqui (mostrando a frente de sua casa, saindo para a
rua). Isso aqui era antigo. Passava um trio aqui.
Dona Francisca interrompe e diz: tinha um paiozão de milho aqui para
tratar daquele mundo de porco, sabe.
As vozes do pescador Maurício, de dona Francisca e da
entrevistadora se misturam. Todos querendo falar ao mesmo tempo, parece que as
lembranças começaram a brotar e os dois sentem uma necessidade de falar. Tento
me comunicar com os dois e por um instante os três acabam falando ao mesmo
tempo. O casal demonstra saudosismo ao relembrar do passado, sinto a emoção do
casal. Percebo que sentem saudades daquele tempo.
Pescador Maurício: aqui tinha um paió que cabia mil
cargueiro de mio. Era do meu avô, o veio Gregório.
Dona Francisca interrompe: aí que coisa mais linda! Aqui era tão
bonito de primeiro fia! Meu vô tinha usina para sortar luz. Tudo ele tinha!
Pescador Maurício interrompe: Inclusive tinha uma irmã que morreu
aqui ó. Subindo aqui ó (mostrando em frente a casa, onde seria o trio, cruzando
a rua e seguindo em frente). Por causa de mandruvá.
Dona Francisca interrompe: porque tinha muita torá, meu avó
tirava torá para vender. Aquelas torona. E dai subiu. As batatas subiu nas
toras, tampou tudo as toras, sabe. Então, dai nois vimo os mandruvá naquelas
tora, que era muito, daí nois morrendo de medo, saimo correndo e derrubemo a
menina em cima daquelas torá.
No fundo o pescador Maurício diz: e não contou para a mãe.
Dona Francisca continua: Daí quebrou aqui (mostrando as
costelas), acho que quebro. Daí nois continuemo, passa na casa do seu Tito.
Passeando lá. Chegamo lá, parece que ela tá tão tristinha. Falei para minha cunhada. Será que tá?(falou
a cunhada). Será que não é o tombo? (fala dona Francisca para a cunhada). Acho
que não é(responde a cunhada).
Continua Dona Francisca: Viemo embora e não contemo nada. E o
medo de nois conta. Nem para ele (para o pescador Maurício) noís não contemo.
Aí quando foi base de uma seis horas ele(o pescador Maurício) chegou aqui. Seis
não sabe de uma coisa Chiquinha?(fala o pescador Maurício). A minha irmãzinha
morreu. (dona Francisca faz um gesto de espanto com as mãos no rosto e continua)
Aí meu Deus! É do tombo. Aí minha sogra foi vê tava tudo roxo.
(A entrevistadora interrompe dizendo que deve ter quebrado a
costela e perfurou o pulmão. O que ia sendo confirmado pelos entrevistados. E
volta no assunto da criação de porco)
Entrevistadora: Daí tudo aqui era porco, não tinha
casa?
As vozes do pescador Maurício e dona Francisca se mesclam
dizendo:
Dona Francisca: tudo, tudo, tudo coisa mais bonita!
Pescador Maurício: não tinha nada, nada de casa.
Dona Francisca: só porco.
Entrevistadora,
professora Simone Aparecida Quiezi. Entrevistados: Pescador Maurício Oliveira e
sua esposa Francisca Pereira de Oliveira, ambos com 76 anos. Teriam chego com
suas famílias ao Distrito de Porto Ubá, atualmente município de Lidianópolis-Pr,
no ano de 1954. Os dois hoje aposentados, mas ele ainda na atividade de
pescador. Agora atuando mais na preservação do Rio Ivaí, como membro da
Patrulha Ambiental. Tiveram um filho homem, que concilia função de servidor
público municipal com a função de pescador (primeira atividade de trabalho
aprendida com o pai) e é referência na organização e atuação da Colônia e
Associação de Pescadores Z-17 localizada também no Distrito de Porto Ubá. O
casal teve ainda outras duas filhas.
O
objetivo da entrevista foi saber mais sobre a presença das populações indígenas
na região de Porto Ubá, sobretudo na chamada “corredeira dos índios”, localizada
às margens do Rio Ivaí. E compreender sobre as balsas, estradas e localização
destas no Distrito de Porto Ubá. Uma das propostas da pesquisa era averiguar os
possíveis Paleoterritórios de indígenas na região que chamo de “Bendengó do
Ubá”. A sistematização dessa pesquisa se tornou uma produção didática que foi
implementada no 6º ano do Ensino Fundamental da rede pública estadual do Paraná
sobre História Local e História Ambiental, no Colégio Estadual do Campo D.
Pedro I, localizado no Município de Lidianópolis, no território da pesquisa. Em
2018, ingressei no programa de Mestrado em História (UEM) propondo-me a dar
continuidade às pesquisas sobre a ocupação humana desta região.
Fonte: QUIEZI,
S.A (2014, p.80)
Mapa 02
Fonte: IBGE (2012). Organizado por: QUIEZI, Simone A. (2014
p.68).
De acordo com Quiezi (2016) “bendengó” (ou Bendegó)
era uma palavra utilizada
pelos kaingang no Paraná para se referir às demarcações de terras como
“concessões escandalosas”, assalto as terras indígenas ou públicas. E Ubá, nome
dado às canoas feitas pelos indígenas a partir de um único tronco ou plantas
herbáceas utilizadas para a confecção de cestarias. O uso dessas duas palavras
para denominar essa região é uma estratégia de narrativa considerando os
diversos personagens por hora esquecidos ou excluídos da historiografia.
Até
o início de 2016, meus estudos eram amadores ou não profissionais como afirma
Silva (1998), movidos pelas inquietudes das indagações sem respostas contidas
nas versões que se contam na historiografia da região. Descobri que podem ter
ocorrido fraudes na propriedade e legitimação da posse das terras; que houve
resistência indígena e de posseiros; que os primeiros não foram os primeiros.
Descobri tantas coisas: violência, silêncios, discursos e memórias que
interferem nos arranjos políticos, ideológicos, econômicos e socioculturais da
atualidade. Pergunto-me hoje qual a relevância de se expor tudo isso? Seria
apenas uma necessidade particular minha? Escrever sobre e narrar outras
histórias sobre o Território do Bendengó do Ubá contribuirá de alguma forma com
a vida da sociedade local? Do ponto de vista historiográfico e da produção acadêmica
é uma abordagem inédita e considerável?
Cronologicamente
o período de atenção tende a se estabelecer entre os anos de 1870 a 1960. O
objeto de estudo é o Rio Ivaí e o espaço geográfico que abrange o território
delimitado, propondo-me a refletir sobre o deslocamento e a movimentação de
alguns sujeitos no processo de ocupação do território, bem como a apropriação, as
transformações e as ações destes sujeitos neste território e como se davam as
relações entre estes sujeitos e destes com o meio natural (aqui pensando na
perspectiva da História Ambiental).
Por
que iniciei com a narrativa oral do pescador Maurício e de dona Francisca? Primeiro
porque os pescadores é um grupo dos sujeitos que pretendo abordar. Os
indígenas, os membros de expedições, os posseiros e os agricultores completam o
substrato do proposto. Segundo porque, apesar de saber que vou lidar com a(s)
memória(s), ainda não tenho claro quais fontes vão subsidiar essa pesquisa. E o
exercício que me desafio aqui é utilizar o trecho de três minutos narrado da
entrevista para refleti-lo metodologicamente à luz do pensamento de Alessandro
Portelli, sem desconsiderar as contribuições de outros autores citados.
O
pescador Maurício e Dona Francisca contam que o Distrito de Porto Ubá, quando
chegaram à década de 1950 era um território de 14 alqueires pertencentes ao avô
de dona Francisca, o senhor Gregório Augustinho do Rosário. Falam com muita
propriedade e com pertencimento sobre a criação de porcos, a derrubada das
árvores para comercialização da madeira e sobre o domínio dos meios de
transporte para travessia do Rio Ivaí - as balsas, atividades exercidas ou sob
o comando do avô Gregório. Isso evidencia o que Portelli (1996) afirma sobre
narrar um fato. Ou seja, que nenhuma pessoa ao conceder uma entrevista sobre
determinado fato o faz sem interpretá-lo. A narrativa não representa o fato sem
a subjetividade do narrador, contudo, de acordo com Portelli, é um texto, é uma
fonte, que remete a fatos. Toda a narrativa dos entrevistados está pautada nas
suas lembranças e as ações de seus familiares ou nas suas próprias ações naquela
localidade e no Rio Ivaí como balseiro e pescador. São as memórias deles, a
partir das quais o historiador pode ir confrontando-as com os fatos e
analisando-as na perspectiva da historicidade e da cientificidade.
Em
outro trecho, o pescador Maurício faz questão de ressaltar que a quadra
esportiva de Porto Ubá recebeu o nome de seu avô. Dona Francisca, entusiasma-se
em lembrar que tudo pertencia a seu avô e que tudo era a “coisa mais bonita”. Na subjetividade dos dois pode estar implícito
o desejo do reconhecimento do pioneirismo do avô Gregório para a existência da
comunidade ribeirinha Porto Ubá. Para Portelli (1996, p. 3-4) nossa tarefa enquanto
pesquisadores não é exorcizar a subjetividade, “mas a de distinguir as regras e
procedimentos que nos permitam de alguma medida compreendê-la e utilizá-la.”
Alguns
fatos narrados pelos entrevistados podem ser validados ou evidenciados pela
confrontação de outras fontes, inclusive outros testemunhos orais. Como a
questão das balsas serem o meio de transporte de travessia do Rio Ivaí nas
décadas de 1940-60, e, a família deles ser a detentora deste meio de transporte
na época e, ainda hoje, com um bisneto de Gregório comandando o negócio na
atual “Balsa do Marolo” no município de Jardim Alegre-Pr, fazendo a ligação com
o município de Grandes Rios-Pr. A atividade econômica de criação de porcos, os
chamados safristas também é uma realidade constatada por vários outros
testemunhos de pessoas que viveram à época, além de algumas pesquisas
acadêmicas da história do Paraná que abordam a questão. Por fim, é possível checar
na prefeitura de Lidianópolis-Pr e Jardim Alegre-Pr o histórico da documentação
de posse das terras, verificando-se o senhor Gregório Augustinho do Rosário
como proprietário, ressaltando-se que a legitimidade dos lotes naquela
localidade ainda possui documentação duvidosa e irregular, sobretudo do ponto
de vista da demarcação. O desmatamento pode ser facilmente constatado a campo e
também no histórico das serrarias, inclusive uma da família Menin localizada em
Lidianópolis-Pr. E, mais uma vez, é possível amparar-se em Portelli (1996), no
sentido da constatação da fusão entre o individual e o social.
O
pescador Maurício, fala longamente sobre a relação dos pescadores com a
população indígena que vivia na chamada corredeira dos índios, nos fundos da
propriedade que hoje pertence ao senhor Odair Judaia (município de Lidianópolis-Pr).
Entre tantas histórias narradas, uma delas parece evidenciar o deslocamento
desta população que dá lugar definitivamente aos pescadores, aos posseiros e
aos agricultores:
“Aí o Oristide, um dia nois tava
subindo pra lá para pescar, ele foi tira peixe lá do pãri, bêbado e caiu.
Chegamo lá já tinha morrido no canal lá que é muito forte, sabe. Quando passemo
por lá as mué tava tudo desesperada, gritando. Depois acharam ele pra baixo lá,
enroscado, noutro dia. Depois não sei como foi, foi cabando aquilo lá. Aquele
Guarapuava que era dono lá, esqueço o nome dele, era um devogado. Era dono
daquela fazenda, que hoje é do seu Dair Judaia. Era o Dr Arruda. Ficou só o
Adriano, outro índio, que ficava aqui no patrimônio, andando bêbado por aí, era
daquela quadrilha o Adriano. Aí ficou outro, muleque novo, que ficou junto com
um senhor que tinha aí, um pescador chamado João Miséria. Eles ficavam junto.
Isso era antigamente. Isso é antigo. Ele pegava peixe e o indinho sai vender
nas casas aí. Cê chegava lá prozeá com o veio lá, ele(o indinho) tava sentado
lá, mas não oiava no cê não. Oiava por baixo assim. Dizem, eu não sei, que esse
próprio índio matou o João Miséria. Aí foi se acabando, acabando, hoje existe
só umas bananeirinhas lá, no lugar, no baixadão que eles tinha a ardeia.” (OLIVEIRA,
2016)
A
fala do pescador Maurício traz implicitamente o ato interpretativo da presença
dos indígenas na região e as ações dos proprietários de terras que, segundo
ele, vão se apossando não só das terras, mas das mulheres indígenas e
violentamente deslocando-os para outras regiões sobrepondo gradativamente outra
forma de ocupação, usos, apropriações e transformações do espaço geográfico e
natural. Este ato interpretativo presente na narrativa do pescador Maurício é
destacado por Portelli (1996) como ato fundamental na construção, justa ou
equivocada, da narrativa em si.
Como
afirma Portelli (1996), a história oral e as memórias nos oferece um campo de
possibilidades compartilhadas. Isso está visível na fala do pescador Maurício e
de dona Francisca. O desafio é organizar estas narrativas de forma compreensível,
de modo que estes mosaicos vão se (re)configurando a partir da contribuição de
cada fragmento. Entendo, a partir de Portelli, que os mosaicos podem ser os
grupos específicos ou a sociedade num determinado recorte tempo espaço. E os
fragmentos são cada sujeito que oralmente pode narrar os fatos dessa
temporalidade, constituindo-se em fontes e textos a serem interpretadas e
novamente narradas, resguardadas suas interconexões, contradições, diferenças e
similitudes.
Na
entrevista, ficam evidentes os fatos que marcaram a movimentação e o
deslocamento dos sujeitos da pesquisa a que me proponho, bem como a relação
destes entre si e com o meio natural (o Rio Ivaí e as paisagens às suas
margens). Os dois falam da derrubada das
árvores e a tristeza do pescador Maurício por ter participado desse processo;
da demarcação de terras com a chegada dos agricultores e a companhia de terras;
do nascimento e das dificuldades da atividade da pesca; dos costumes das
populações indígenas; das balsas como meio de travessia ligando o restante do
Paraná ao Centro deste; da criação de porcos como atividade econômica inicial,
associada com a abertura das matas e as serrarias; da violência e
conflitividade nas relações entre os sujeitos que se movimentaram,
estabeleceram-se ou deslocaram-se neste território. Obviamente, cada processo
desse precisa ser investigado dentro da lógica de produção do conhecimento
histórico, confrontado, compreendido e interpretado, considerando ainda outras
fontes.
Prefiro
pensar que a História Oral é uma fonte, um recurso de memória. Que a fala do
pescador Maurício e dona Francisca são como o texto. Portanto, uma fonte a ser
interpretada tal qual o texto escrito, contudo não com os mesmos métodos. Portelli
(1997) chama atenção para os riscos das transcrições que podem provocar
mudanças e alterações no sentido da fala do entrevistado. Isso pude facilmente
constatar quando selecionei alguns trechos para este trabalho.
Portelli
(1997) registra que a linguagem é composta por um conjunto de traços portadores
de significados. Ao ouvir a fala de dona Francisca, em dois momentos sua
memória é invadida pelas emoções das lembranças ao descrever como Porto Ubá era
bonito e a desatenção e o medo que matou a irmãzinha do pescador Maurício. A
fuga e o desconforto do pescador Maurício em falar sobre os “guarapuavanos”. Segundo o
pescador Maurício, ainda nesta entrevista, os “guarapuavanos” eram homens
brancos vindos de Guarapuava-Pr e que iam, de acordo com ele, se apropriando
das terras na região de forma violenta, causando medo e estupros com cárcere
das mulheres indígenas. Esse termo “guarapuavano” é também retratado em outras
narrativas orais de personagens que à época viviam na região. E a interpretação
de violência identificada na fala do pescador Maurício é também reproduzida
nestas outras narrativas, acrescentando-se ainda um “poder de polícia” ou
“coronelismo” exercido por estes tais “guarapuavanos” que carecem de
investigação. Tais expressões, sentimentos e tons de
vozes demonstrados tanto por dona Francisca como pelo pescador Maurício jamais
serão transcritos ou sentidos na escrita.
Dessa
forma, também preciso preocupar-me quanto ao passado preservado na memória
destes entrevistados, o que a memória pode ter forjado ao longo do tempo,
naturalmente pela própria influencia do decorrer do tempo e da temporalidade a
qual eles estão inseridos. O pescador Maurício é hoje uma referência da memória
local e da organização dos pescadores, sendo por várias vezes ouvido, filmado e
homenageado em eventos por sua luta pelo Rio Ivaí e a pesca profissional. Segundo
Portelli (1997, p. 33) o narrador deve colocar a entrevista e a narração em seu
contexto histórico.
Mesmo
considerando Portelli (1997) que o resultado final da entrevista é o produto de
ambos, narrador e pesquisador, penso que fui infeliz e insensível durante a
entrevista. Por algumas vezes interrompi a fala dos meus entrevistados. E ao
ouvir a entrevista, percebi o quanto isso foi deselegante e prejudicial, pois
alguns fatos ficaram com narrativas inconclusas, incompletas. Se é que é
possível pensar em conclusões e completude quando se utiliza a história oral e
suas memórias. Não que isso tenha causado algum embaraço na minha relação com
eles. Apenas estou me autoanalisando no processo.
Enfim,
as questões estão postas e gerir isso tudo depende muito da disponibilidade
minha enquanto pesquisadora, sobretudo, o quanto conseguirei apropriar-me do
que já se produziu, o quanto de fontes conseguirei averiguar, quais fontes
utilizarei e os possíveis resultados que conseguirei obter de todo esse
processo. De acordo com Le Goff (1984), será que darei conta de visitar o
passado e dialogar sobre o que não está, o que poderia ter estado, por que não
está no presente ou por que está, desnaturalizando o que está posto?
Para
Portelli (1997) o papel do historiador é a crítica do passado. E a história
oral, de acordo com historiador Guarinello (1994) é a construção de uma fonte. Estes
dois autores me leva a compreender que as falas do pescador Maurício e de dona
Francisca podem ser um ponto de partida para a (re)interpretação do passado
quanto a movimentação e deslocamentos dos indígenas, pescadores e agricultores.
Não está presente na fala deles os posseiros e as expedições. Necessitando,
portanto da busca de outras fontes.
Não
posso, tendo Pierre Nora (1993) como referência, perder de vista que todas as
narrativas e depoimentos se localizam no tempo e no espaço, e, que estou me
propondo a refletir sobre este quadro espacial que estas narrativas estão me
dizendo. Preciso ir a campo. Preciso definir minhas fontes. Preciso ampliar e
aprofundar minhas leituras.
REFERÊNCIAS
Simone Aparecida Quiezi é Professora
de História da rede Estadual do Paraná e aluna regular do Programa de
Pós-graduação Mestranda em História (UEM/PR). Graduada e Especialista em
Geografia (UEPG/PR), Filosofia (UEL/PR), Normal Superior e Pedagogia (UEM/PR).
Orientada no PDE (UEL) e no Mestrado (UEM) pelo Professor Dr. Gilmar Arruda
(UEL/UEM/PR).
GUARINELLO. Norbert Luiz. Memória Coletiva
e História Científica. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.14, n.28,
p. 180-193, 1994;
LE
GOOF. Jacques. Memória-História. Enciclopédia Enaudi. Imprensa Nacional, Rio de
Janeiro, vol.1,1984, p. 11-47;
NORA.
Pierre. Entre a Memória e a História. A
problemática dos lugares. São Paulo: Projeto História, (10) dez. 1993.
OLIVEIRA.
Francisca Pereira de. Entrevista
concedida a Simone Aparecida Quiezi. Lidianópolis, 25/11/2016. [a
entrevista completa encontra-se em arquivo de áudio em poder da entrevistadora
e trechos dela foram transcritos neste trabalho];
OLIVEIRA.
Maurício de. Entrevista concedida a Simone
Aparecida Quiezi. Lidianópolis, 25/11/2016. [a entrevista completa
encontra-se em arquivo de áudio em poder da entrevistadora e trechos dela foram
transcritos neste trabalho];
PORTELLI.
Alessandro. A Filosofia e os Fatos. Rio
de Janeiro: Revista Tempo, vol. 1, nº 2, 1996, p. 59-72;
__________.
Forma e significado na História Oral. A
pesquisa como um experimento em igualdade. São Paulo: Projeto História,
(14) fev. 1997;
__________.
O que faz a História Oral diferente. São
Paulo: Projeto História, (14) fev. 1997;
QUIEZI, S. A.; PRZYBYSZ,
J. A. A (re)organização do território entre os rios Ivaí e Corumbataí após a
ocupação da Sociedade Territorial Ubá Ltda. no Estado do Paraná (1911 a 1990).
In: NABOZNY, A. (Org.). Geografia a
Distância: experiências de pesquisa em EaD. Ponta Grossa: NUTEAD, 2013. p.
1-30;
__________. Os desafios da escola pública
paranaense na perspectiva do professor PDE: produções didático-pedagógicas, 2016 / Secretaria de Estado da
Educação. Superintendência da Educação. Programa de Desenvolvimento
Educacional. – Curitiba: SEED – Pr., 2018;
SILVA. Francisco Ribeiro
da. História Local: Objectivos, Métodos
e Fontes. Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3226.pdf.
Acessado em 10/06/2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.